Por Leandro do Carmo
Travessia Longitudinal das Agulhas Negras
Local: Parque Nacional de Itatiaia
Data: 17/10/2020
Participantes: Leandro do Carmo, Leonardo Carmo, Igor Spanner, Júlio "Veio da Touca" Spanner, Marcos Lima, Blanco P. Blanco, Karina Filgueiras e Daiana
Há muito tempo que perseguia fazer a Travessia Longitudinal das Agulhas Negras. É uma a escalada que resume o que era o montanhismo no início do século passado. Mas fazer a Longitudinal não é uma das tarefas mais fáceis, principalmente a vista. Em uma conversa com o Marcos Velhinho surgiu a ideia de fazermos a via. Ele entrou em contato com os Spanners e acertamos uma data. Compramos os ingressos com antecedência, pois, devido à pandemia, o PNI está com limitação de visitantes. Tudo acertado, foi hora de esperar o grande dia.
A previsão do tempo não era das melhores. Choveu durante a semana. Na sexta, o dia ficou nublado e saímos por volta das 20h 45min sob uma chuva fina que foi aumentando durante a viagem. O Marcos e o Marcelo já tinham ido e isso não nos fez desistir. Iriamos fazer a Travessia com os Spanners, referência quando se fala em montanhismo na região, e se eles disseram que daria para fazer, quem de nós poderia afirmar que não?
Apesar da chuva, a viagem foi tranquila e não pegamos trânsito no caminho até Itatiaia. Chegamos um pouco antes das 24h. Não chovia em Itatiaia, o que aumentou a esperança de um dia razoável. Deixamos tudo arrumado para ganharmos tempo, pois no seguinte sairíamos às 5h20min. Nossa intenção era entrar assim que o parque abrisse. Uma das dicas para fazer a Longitudinal é começar bem cedo. A noite foi tranquila e assim que o celular tocou, me levantei para arrumar as coisas, era 4h 30min da manhã. Preparei um café. Todos foram acordando e em pouco tempo já estávamos do lado de foram esperando.
Por volta das 5h 30min chegaram o Júlio Spanner, Igor Spaner e sua esposa, a Daiana. É seguimos direto para o PNI. Estava uma manhã nublada. A estrada da Garganta do Registro até a portaria do PNI estava relativamente seca e não havia sinais de que havia chovido na noite o no dia anterior. Para minha surpresa, o dia a estava aberto, conseguíamos ver as nuvens baixas. Tinha certeza de que seria um grande dia!
Chegamos à portaria alguns minutos antes do parque abrir e já tinham alguns carros à frente. Como o tempo estava ruim e a previsão não era muito boa, o parque estava vazio, bem diferente da última vez que fui. Dali, fomos de carro até o Rebouças, onde estacionam os os carros e iniciamos a caminhada.
Iniciamos a caminhada e passamos pelo Abrigo Rebouças fechado. O dia estava ótimo, a temperatura perfeita. Seguimos andando num papo bem agradável até chegarmos à base da Via Bira. Ali, nos equipamos para diminuir o peso e volume da mochila. Ainda não usaríamos equipamento, mas tornaria o deslocamento mais confortável, dica do Igor Sapanner, dica de quem conhece bem o local.
Seguimos andando, ou melhor, pulando de pedra em pedra. Passamos por diversas fendas, chaminés, buracos e canaletas Um verdadeiro labirinto de blocos entalados, formando grandes fendas, onde qualquer descuido poderia trazer sérias consequências. Passamos pelas bases de vias clássicas como a Chaminé GEAN e Estudantes, até chegar ao ponto onde podíamos ver Pedra Calunga num ângulo bem bonito. A partir seguimos pela direita até chegar ã Face Sul, acima da Pedra do Polegar.
Subimos um pouco até chegar ao local chamado Santuário. Fica até difícil explicar como chegar, eram tantas subidas e descidas.... Alguns lances difícil até de acreditar que seria por ali. Fizemos um lance mais delicado para continuar subindo dentro do Santuário. Já no alto, cruzamos mais alguns blocos e já dava para ver o Lance do Parafuso do Brackmann. Na base, nos encontramos e saí para guiar o lance mais delicado da travessia.
Seguindo as dicas do Igor Spanner e o Véio da Touca, subi por uma canaleta com excelente aderência. Não tem proteção, mas o trecho não é complicado. Subi e contornei um platô de vegetação e cheguei a única proteção do trecho. Dali, subi mais um pouco cheguei a um degrau onde teria que subir e entrar numa canaleta. O degrau tinha uma boa pega por baixo e segui horizontalmente até me posicionar abaixo da entrada da canaleta, como me foi orientado.
Ameacei subir a primeira e voltei. Na segunda tentativa, ouvi a voz do Igor Spanner dizendo: “tem uma mão boa a direita!” Bom, os caras conhecem aquilo como se fossem a casa deles, então não pensei duas vezes, subi e joguei mão, num lance sem volta. Assim que firmei a mão, tudo ficou mais fácil. Fui ganhando altura lentamente meio sem pensar e dei aquela olhadinha para baixo e percebi o quanto estava alto. A canaleta inclinou um pouco mais, porém a rocha ajudava e dava boa aderência. Mais alguns metros e chegava numa corcova, onde pude olhar para baixo e comemorar o lance. Montei a parada em um bico de pedra e dei segurança ao Velinho que veio logo em seguida.
Com o Velhinho dando segurança aos demais, pude tomar uma água e descansar um pouco. Depois que todos chegaram, partimos para o Cume Sul, onde fizemos uma parada mais longa. Ali, assinamos o primeiro livro de cume da Travessia. Conversamos e rimos muito com as histórias do Véio da Touca e do Velhinho.
Depois de recarregadas as baterias descemos na “seg" do "Véio da Touca" em direção ao Açú. Passamos por uma bela formação rochosa e já na aresta sul do Açu, por indicação do Igor Spanner, um grupo subiu por uma aresta, trecho final da Via Quietude, na qual foi guiada pelo Blanco. A outra parte do grupo foi direto para o Cruzeiro. Chegando ao cume do Açu, assinei o segundo livro de cume da Travessia.
Depois de deixado o registro, seguimos caminho. O tempo ficou nublado. Já não tínhamos a mesma vista que antes. Descemos até colo entre o Cruzeiro e o Pontão Ricardo Gonçalves, caminho mais utilizado r chegar ao cume nos dias de hoje. Descemos um animais e fizemos uma passagem numa diagonal para cima, até chegar ao topo e dali seguir para o Focinho de Cão, de onde fizemos um pequeno rapel.
A partir daí, seguimos pelo Pontão Norte até chegar à Chapada da Lua Alta. Ali fizemos nossa parada mais longa. Já estávamos quase no final da escalada. A Chapada da Lua é impressionante. A formação rochosa é peculiar. É uma chapas aí relativamente plano com o diversos buracos, semelhante ao solo lunar. Dei uma boa caminhada pelo local enquanto dávamos boas risadas com as histórias do Véio da Touca e do Velhinho. Aproveitei para assinar o terceiro livro de cume da Travessia.
O frio aumentou é como iríamos fazer um sequência maior de rapéis, optei por colocar o corta vento, assim ficaria mais confortável. Seguimos para mais um rapel curto, onde chegamos à Chapada da Lua Baixa. Seguimos caminhando até chegar ao final da via XIV de Julho. Nesse ponto olhamos para a Asa de Hermes, mas por esse ângulo fica difícil de acreditar que é realmente ela! Fizemos um rapel curto num bico de pedra até o último grampo da via. Dali seguimos por pequena caminhada até um platô. Esses rapeis não são nada confortáveis e são difíceis de achar. Havíamos levado cordas o suficiente para deixarmos esses três últimos rapeis montados na sequência, assim ganhamos tempo na descida. O último rapel fica no limite da corda, com exatos 30 metros.
Dei uma boa descansada no rampão enquanto o resto do pessoal rapelava. Juntou o pessoa, mais histórias engraçadas. Estava tão agradável que o tempo passou e nem sei conta., já tínhamos passado das 16h. Aproveitei para guardar todo o equipamento na mochila. A partir desse ponto, só caminhada!
Descemos o rampão até entrar na trilha. Olhei para a Asa de Hermes e dava para ver o seu formato mais conhecido. Continuamos a trilha até chegar ao Rebouças novamente, depois de 9h20min! Aproveitei para tomar um banho gelado na represa ao lado do Abrigo Rebouças.
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Essa travessia, é surreal. Parabéns pelo relato, mostra bem como foi essa magnifica aventura
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