Por Leandro do Carmo
Conquista da Via Paredão Inoã, Pedra de Inoã - Maricá
Vídeo de uma das investidas da Paredão Inoã
Croqui da via Paredão Inoã
Relato da Conquista da via Paredão Inoã, por Michel Cipolatti
Conquistar uma via no Monumento Natural Pedra de Inoã tem as suas dificuldades e recompensas. Por ter suas paredes irregulares, com muitas fendas, diedros, platôs, trechos negativos e muita vegetação, é difícil escolher uma linha. E foi durante a conquista da via Bernardo Collares Arantes, em meados de 2020, que surgiu o desafio de tentar conquistar uma via que atravessasse a maior extensão da parede voltada para Inoã, aquela que damos "de cara" quando chegamos em Maricá descendo a serrinha pela RJ vindo de Niterói.
Primeira dificuldade encontrada: não há trilha para a base! Foram três investidas de abertura de trilha, em junho de 2020, para se chegar na base, bem bonita por sinal.Só nesta etapa já temos muita história pra contar: espinhos, mosquitos, cobras, queda de bloco com pé preso... Se eu pudesse dar nome a esta trilha,a chamaria de “Trilha do Cipó”.
Ainda em junho, fomos eu, Michel Cipolatti, com Juratan Câmara e ZoéCaveari na primeira investida de parede. Conquistamos cerca de 90 metros de via, que variam entre 3° e 4° graus. Foram instaladas sete chapeletas Pingo e utilizadas três proteções móveis, já no 2° esticão.
No mês seguinte, conquistamos mais 60 metros de via, com a instalação de quatro chapeletas e um móvel, passando por uma barriga que sugerimos ser um 5° grau.
Na terceira investida, já em outubro de 2020, conquistamos mais cerca de 60 metros de via passando por um diedro com boas colocações de proteções móveis. Foram instaladas três chapeletas na ascensão e mais uma durante o rapel para reduzir a exposição de um lance que ficou "meio perrengue".
Neste trecho, a via se aproxima de uma “florestinha”,que fica no alto da parede, e ao redor, é repleta de bromélias. Na investida de novembro, com mais 60 metros de via e alguns lances em aderência, chegamos na misteriosa florestinha. Ela fica a cerca de 270 metros da base e tem árvores de grande porte. Impressionante!!!
Para acessar a primeiraárvore, que serve de ancoragem e ponto de rapel até a parada dupla (foto 4), foi necessário aprimorar a técnica de "transposição de bromélias", tentando não machucar a planta e não molhar os pés. Tentamos ao máximo contornar a vegetação, mas chegou uma hora que não conseguimos mais.
O ano de 2020 se foi e o projeto ficou adormecido por mais de um ano. Durante uma conversa com Leandro do Carmo e Luiz Avellar, numa reunião social no CNM, decidimos dar andamento à conquista. Quando contei a história do que já estava conquistado, eles caíram na armadilha.kkkk
Combinamos de ir no dia 16 de janeiro de 2022. Isso mesmo, no verão! Escalamos o trecho conquistado e chegamos naflorestinha exaustos. O objetivo era explorar em busca de uma nova base para dar sequência à via, que ganhou uma trilha no meio da parede. Não é só bater grampo que dá trabalho não. Abrir trilha também tem suas dificuldades: escolher o caminho, levando em conta a direção desejada e os obstáculos pela frente, como espinhos e cipós. Sem contar os marimbondos que nos atacaram.
Foi o maior perrengue. Para cima tem um grande buraco, com um teto que se vê da estrada, parecendo um olho. Tentei pela direita, mas achamos uma base de uma linha aparentemente muito difícil de conquistar em livre. Luis decidiu tentar pela esquerda e encontrou outra base, numa linha menos vertical. Batemos duas chapeletas até chegar em uma barriga e as forças acabaram. Rapel.
Tentamos combinar a próxima investida, mas perdemos algumas datas por causa das chuvas ou por outros compromissos, então tentei uma investida em solitário. Chegando mais uma vez na florestinha exausto, e dessa vez com câimbras, bati apenas uma chapeleta e a barriga estava muito difícil, o que causou a impressão de não ser uma boa linha, além de haver muita vegetação logo acima.Cheguei também à conclusão de que não dava para ir sozinho.
Combinamos eu e o Luis uma investida no dia 11 de dezembro de 2022. Entramos na trilha às 5:30, subimos na intenção de terminar a via e descer por trilha.
Escalamos rápido e às 9:15 já estávamos na florestinha, possível P6. Mais uma vez, ficamos incomodados com a base encontrada naquela investida, e resolvemos explorar mais para a esquerda. Fomos por caminhos diferentes e chegamos juntos a uma outra base, desta vez na direção do “blocão” do Mirante que tem no cume. Perfeito! Era a minha intenção terminar a via lá, por já ter trilha de descida e por desconfiar de que encontraríamos uma chaminé, o que deixaria a via mais “completa”.
Abandonamos então as três últimas chapeletas e partimos para essa nova linha. Parecia ser fácil, mas deu trabalho, com muito regletinho e sem descanso. Sugerimos outro quinto grau pela sequência. Batidas quatro chapeletas, a via vai um pouco mais para a esquerda e vai ficando mais fácil até chegar noblocão após passar por mais bromélias. Que lugar lindo! Sombra, um banquinho de pedra e uma caverninha. Perfeito para o descanso e para apreciar a paisagem. Já foram 50 metros de via conquistados nesta data. Para cima um grande negativo. Então, ao contornar pela esquerda, mais uma surpresa: uma fenda maravilhosa para ser escalada “em chaminé”.
A chaminé assusta, por ter blocos entalados que podem cair. Recomenda-se o participante fazer a segurança de fora da chaminé, preso em uma árvore, enquanto o guia avança por dentro da chaminé por cerca de 20 metros, com duas colocações de móveis, até encontrar uma boa saída, parecendo uma janela. A chaminé continua, mais estreita, mas a janela foi mais convidativa, onde preferi sair e instalar a última parada dupla da via.
Durante a subida, o Luis derrubou alguns blocos que estavam entalados na chaminé mas estavam soltos. Só não contava que ia soltar um monte de terra junto e ele ficou “empanado” de sujeira. A partir dali,a via vira uma escalaminhada de uns 50 metros com algumas bromélias no caminho até chegar no mirante. Chegamos no cume às 15 horas, exaustos e quase sem água, mas com o alívio de termos conseguido completar o desafio.
Descemos pela trilha, que é bem íngreme, leva cerca de 1 hora e meia descendo, e termina na estrada, porém, do outro lado da montanha. O resultado é uma nova via com uma grande diversidade de técnicas, como a escalada em agarras, em aderência, chaminé e o uso de equipamentos móveis. Fica, agora,a recompensa de entregar aos escaladores, no dia 11 de dezembro de 2022, mais uma bela e exigente via, toda conquistada em livre, e digna de receber o nome de "Paredão Inoã".
Juratan Câmara na trilha |
Zoé Caveari escalando, vista da terceira parada
dupla |
Michel Cipolatti, Leandro do Carmo e Luis Avellar na
“florestinha” |
Luis Avellar escalando |
Michel Cipolatti conquistando a chaminé |
Michel Cipolatti e Luis Avellar no final da via |