Dia: 01/04/2023
Local: Niterói / Córrego dos Colibris
Participantes: Leandro do Carmo, Gabriel e Hebert Calor
Relato da Via Estela Vulcanis
Era aula do Curso Básico de Escalada do Clube Niteroiense de
Montanhismo e a ideia era fazer uma via no Córrego do Colibris. Não é um local
que goste muito, mas como fazia parte do cronograma, não tinha muito opção.
Marcamos bem cedo, o sol tinha ficado forte nos últimos finais de semana. Era
6:30 quando chegamos à rua Engenho do Mato, já próximos à entrada da trilha do
Córrego dos Colibris. Levei um café e aproveitei para comer algo. Aos poucos
todos chegaram. Aproveitamos para dividir as cordadas.
Como iria numa cordada de 3, optei por ficar na via Estela
Vulcanis, a mais curta dessa face. Fomos caminhando até a grande Figueira, dali
uma cordada foi para a Mabele Reis e as outras 4 cordadas, seguiram juntas.
Duas ficaram para fazer a Fogo do Inferno e a Chuva de Guias e a outra seguiu
junto comigo para a Estela Vulcanis. Procuramos a base da via e logo acima vi
um grampo. Na base, nos arrumamos passamos algumas instruções.
O Michel seguiu à frente, junto com o Daniel. Assim que eles
chegaram à primeira parada, eu comecei a subir. O Michel acabou indo para a via
errada, fazendo a Chuva de Guias. Eu de baixo avisei que ele estava indo
errado, mas ele optou por continuar. Quem nunca fez a
Estela Vulcanis, fica meio desacreditado que tem mesmo que passar por entre as
grandes bromélias. Mas só chegando perto é que dá para ver o caminho entre
elas. Assim que cheguei à primeira parada, trouxe o Gabriel e o Hebert. Fizemos
uma cordada em “A”.
A partir daí, optei por escalar em ”I” para diminuir o
arrasto da corda. Já na segunda parada, o sol começou a apertar. Até então,
estava com uma leve névoa. Como já estávamos próximos do final, não me importei
muito. Saí para a última enfiada. Já na base do crux, costurei o primeiro
grampo e dominei um batente, apoiando os pés num pequeno degrau. Daí, foi fazer
mais um lance, até subir em outro friso e costurar a próxima proteção. O pior
já havia passado. Segui levemente para a esquerda, num trecho mais sujo e logo
cheguei à parada dupla de cume. O Hebert veio logo em seguida. Teve um pouco de
dificuldade, mas conseguiu chegar. O Gabriel também passou suando.
Já na parada, preparamos um rapel curto até a parada de
baixo. O sol saiu com força total. Emendamos as duas cordas e seguimos até a
dupla de baixo, onde montamos mais um rapel até a base.Foi um alívio chegar à sombra. Já podíamos
descansar tranquilos.
Cânion da Bandeirinhas, Cachoeira da Farofa e Encontro dos
Rios
Dia: 27/03/2023
Local: Serra do Cipó
Participantes: Leandro do Carmo e Ricardo Bemvindo
Relato
Depois de chegarmos da travessia Lapinha x Tabuleiro,
paramos na Serra do Cipó, distrito de Santana do Riacho que fica na borda da
Serra do Cipó, região sul da Serra do Espinhaço. Aproveitamos para descansar um
pouco e ver o que podíamos fazer no dia seguinte. Há muitas opções pela região.
A Serra do Cipó é um dos grandes locais de escalada esportiva, mas como não
havia levado equipamento, estava fora de cogitação. Optamos por visitar algumas
cachoeiras dentro do Parque Nacional. No dia 27, terça feita, acordamos cedo e
fomos até uma loja que aluga bicicletas. Nossa ideia era chegar até o parque e
pedalar por lá, visto que a distância entre os atrativos é grande.
Alugamos as bicicletas na Casa dos Ciclistas, por sinal
excelentes, e seguimos até a portaria do parque. Foram cerca de 4 km de estrada
de chão. A sorte foi que quase não passou carro, pois a poeira que subia quando
passava um, era enorme. Já na portaria, nos identificamos e veio uma pessoa nos
passar algumas informações sobre o parque. Recebemos um mapa e moça deu a
recomendação de que a qualquer sinal de chuva, que a gente se afastasse do
cânion ou de qualquer cachoeira. Na mesma hora eu olhei para o céu e não quis
falar nada, mas estava tão azul que achei desnecessário ter feito aquele
alerta. Eu estava errado e vocês verão mais a frente.
Pegamos as bicicletas e começamos a pedalar por uma
estradinha. Tudo muito bem cuidado e sinalizado. O pedal estava bem agradável.
Cruzamos alguns riachos. Estávamos numa grande planície, cercados por serras
que se perdiam de vista. Mais a frente chegamos ao ponto onde deixamos as bikes.
Ao fundo, dava para ver um trecho que parecia ser a entrada do cânion. Descemos
caminhando até cruzar as águas cristalinas do Ribeirão Mascates. Já na outra
margem, continuamos a caminhada, passando por um trecho mais abrigado do sol.
As grandes árvores com troncos retorcidos impressionavam. O solo era bem
arenoso e em alguns pontos lembravam praias.
Mais alguns minutos de caminhada, estávamos novamente no
Ribeirão Mascates. Agora estávamos de frente para a entrada do Cânion. Um lugar
fantástico. Fomos seguindo a margem da esquerda, procurando algum caminho que
nos fizesse entrar no cânion. Fomos de pedra em pedra, até que não tinha mais
como passar pela margem, só entrando na água. Era um trecho mais fundo e foi preciso
ir nadando e segurando a mochila até um uma pedra à frente. Dali, voltamos a
andar pulando de pedra em pedra. Na beira de um grande poço, paramos para um
mergulho. A água estava numa ótima temperatura. O sol batia em alguns pontos, o
que tornava o clima ali bem agradável.
A verticalidade das paredes laterais impressionava em alguns
pontos, bem como a formação rochosa. O poço era tão grande que era possível
nadar. Passei para a outra margem e fomos andando para dentro do cânion. Cada
vez que avançávamos, um novo lugar se mostrava. Um mais bonito que o outro.
Aquele som das águas correndo, junto com o canto das aves traziam uma paz
imensa. Não conseguíamos ver o fim do cânion e resolvemos parar por ali. Já
estávamos bem distantes do ponto de onde saímos. O sol foi batendo com mais
força e fui procurando a sombra para ficar. Já estava pensando na volta.
De volta ao grande poço, começamos a preparar a volta. Seguimos
descendo e voltei para a água carregando a mochila. Encontramos algumas pessoas
que estavam chegando. Continuamos a volta e logo estávamos cruzando o Ribeirão
Mascates mais uma vez. Pegamos as bicicletas e começamos a pedalar. Enquanto
estávamos voltando, percebi várias nuvens se acumulando e num determinado
momento, comecei a ouvir algumas trovoadas. A medida que fomos nos aproximando
da entrada do caminho para a cachoeira, as trovoadas foram se intensificando e
ao fundo, quase na direção do cânion, um a chuva começou a cair. E olha que
quando chegamos ao parque eu achei desnecessário o comentário sobre chuva num
dia tão lindo como o de hoje.
Deixamos a bicicleta num ponto e continuamos andando.
Atravessamos o rio numa precária ponte de madeira e seguimos andando. A chuva
foi se aproximando. A cachoeira estava bem próxima também. Quando estávamos bem
próximos de cruzar o rio novamente para acessar o poço da cachoeira a chuva
estava na iminência de cair. Optamos por não passar por ali, visto que a chuva
poderia se intensificar e ficar perigoso a volta. Um pouco antes, havia um
caminho subindo. Seguimos por ele, na intenção de fazer uma foto da cachoeira.
Do alto, conseguimos fazer a foto. Como estávamos com a visão bem aberta,
conseguíamos ver a chuva ao fundo.
Durante a volta, a chuva que parecia que ia cair forte, foi
se afastando. Quando chegamos às bicicletas, a sensação era de que nada havia
acontecido. Mas todo cuidado é pouco, valeu a prudência. Pegamos as bicicletas
e voltamos a pedalar. Já estava bem cansado e a chuva foi dando lugar novamente
ao sol. Aí, toda vez que passava por uma árvore, diminuía a velocidade para
aproveitar um pouco mais a sombra. Mais frente, pegamos uma saída e seguimos
até um mirante, depois de prender as bicicletas numa placa e subir um morro. A
subida foi curta, mas foi dura. Lá, ficamos um tempo apreciando a vista e
descansando. O mirante estava caindo, acho que foi afetado por algum incêndio,
pois haviam várias marcas de incêndio na vegetação ao redor. Como estávamos bem
alto, podíamos ver a planície que se estendia até o cânion das bandeirinhas,
além de algumas outras cachoeiras na mesma face na qual ficava a da Farofa.
A chuva foi realmente embora e podia vê-la se encaminhando
na direção oposta. Ali, nem sinal de água. Descemos e pegamos o caminho de
volta, mas quando estávamos na entrada do caminho que indicava o Mirante das
Lagoas, resolvemos entrar. Já estava ali cansado, o que seria mais alguns
metros? Resolvemos entrar. Logo chegamos a uma construção e subimos pedalando
numa rampa em forma de espiral. Não era um mirante tão mirante assim. Descemos e
fomos até o encontro dos rios Mascates e Cipó, também nada de especial. Dali
seguimos de volta e logo chegamos à portaria, onde demos uma pausa para
descansar e beber uma água gelada.
Seguimos pelos quase 4 km de estrada de chão até à Casa dos
Ciclistas, onde devolvemos as bicicletas e seguimos caminhando até a pousada.
Um dia bem aproveitado, pena que foi só um... Estava encerrada a viagem por
Minas Gerais.
Fala pessoal! Em maio, foi conquistada mais uma via no Costão de Itacoatiara: Via Par ou Ímpar?! Uma linha bem bonita com trechos verticais técnicos. Conquistada por Luis Avelar e João Pedro Nehaus a via se destaca pela variedade de lances e por seguir uma linha bem natural.
A base da via fica a direita da via Tetando Ramires. Começa com uma enfiada tranquila, entrando num trecho mais vertical até a primeira parada. A segunda enfiada segue numa diagonal para a direita, com lances mais delicados, continuando numa diagonal, agora para a esquerda, ganhando altura até chegar num grande buraco raso. Dali segue subindo, passando pelo crux, num domínio bem bonito e com pequenas agarras até a segunda parada. Segue subindo, agora numa diagonal para a esquerda, passando por baixo de um platô de vegetação, voltando a subir reto até a terceira parada. O trecho final é um costão bem tranquilo, finalizando com aproximadamente 60 metros de subida até o cume.
Local: Lapinha da Serra – Santana do Riacho / Tabuleiro – Conceição do Mato
Dentro- MG
Participantes: Leandro do Carmo, Leandro Conrado e Ricardo Bemvindo
Dicas
Vale muito a pena chegar antes em Lapinha da Serra e
aproveitar o vilarejo. Tem muita cachoeira e trilhas pela localidade. Dá para
alugar caiaque e remar na represa. Não deixar de conhecer as pinturas
rupestres.
Não consegui conhecer a vila do Tabuleiro, mas tem muita
coisa por lá também, cogite a possibilidade de ficar por lá.
Existem diversas maneiras de fazer a travessia Lapinha x
Tabuleiro. Nós optamos por fazer em 3 dias, com dois pernoites na casa do Sr.
Zé da Olinta. A logísitica foi a seguinte:
CONFINS X Lapinha da Serra – UBER (Acho que demos sorte, pois o primeiro
aceitou a corrida e logo em seguida entrou em contato, falando que o valor
teria que ser 400,00 Reias, como não aceitamos, ele cancelou). Do aeroporto, vc
pode ir para Lagoa Santa (cidade ao lado do aeroporto) e depois pegar o ônibus
para Santana do Riacho e de lá, seguir para Lapinha da Serra. De Santana do
Riacho, dá para ir a pé. São cerca de 11 km de caminhada. Se tiver ido de
ônibus para BH, pode pegar o ônibus direto para Santana do Riacho.
Como fizemos para voltar
Portaria do PNM do Tabuleiro x Conceição do Mato Dentro –
Carro do Rafael (Guia local)
De Conceição do Mato Dentro, pode pegar ônibus direto para Lagoa Santa e
depois, um UBER para o aeroporto. Pode ir direto para BH, se tiver indo de
ônibus. Eu ainda parei na Serra do Cipó.
Contatos
Empresas de ônibus que operam o trajeto: SARITUR e SERRO
Zé da Olinta: 31 99652-9156
Transfer em Tabuleiro: Rafael – 31 7110-3989
Relato
Depois que fizemos o Pico da Lapinha no dia anterior, nos
preparamos para começar a travessia. Foi muito bom ter feito essa caminhada de
reconhecimento, assim, fomos nos aclimatando com o relevo e clima local. Nossa
programação foi acordar cedo e sair cedo para podermos caminhar a maior parte
do percurso sob o sol fraco. Minha estimativa era caminhar cerca de 18km no
dia. Fizemos compra das provisões e preparamos tudo para a travessia.
Dia 1 – 24/03/2023: Lapinha da Serra x Casa do Zé da Olinta
Acordamos conforme programado. Eram 5 horas quando saí da
cama. Foi uma noite bem tranquila, sem vento. O céu estava limpo, nem sinal das
nuvens do dia a anterior, sinal de que não teríamos trégua do sol. Sair cedo
foi a decisão mais acertada. Eu já havia deixado a mochila quase pronta. Fiz os
últimos ajustes e preparei o lanche. Tomamos um café e partimos para iniciar a
travessia. Eram 6 horas e 30 minutos, quando saímos da casa e nos dirigimos à
praça onde fica a antiga Capela de São Sebastião. Lá fizemos uma foto e comecei
a marcar o percurso com GPS. Caminhamos em direção à rua Serra do Breu e
entramos na primeira à esquerda, indo em direção ao rio. Cruzamos uma pequena
ponte e uma área que provavelmente fica alagada nos períodos de chuva. Dali,
pegamos para a direita, num caminho bem aberto, até uma porteira que indica a
direção de Tabuleiro.
Seguimos paralelos ao lago, até que entramos num caminho à
esquerda. Quando chegamos a uma porteira, ficamos na dúvida, mas logo
encontramos o caminho correto, que nos levou até um trecho que bem erodido, na
qual podíamos ver bem de longe. É um trecho peculiar, facilmente percebido pela
cor branca do solo. Já estávamos ganhando altura e era possível ver o Pico da
Lapinha ao fundo, bem como o vilarejo. Já foi deixando saudades. Ao longo da
subida, percebi o resquício de um caminho antigo. Havia cimento em alguns
trechos, mas estava bem erodido. Achei metade de uma ferradura, até brinquei pois se achar uma ferradura era sinal de sorte, o que seria achar metade de uma? Meia sorte ou meio azar?
Estávamos num bom ritmo e por volta das 7 horas e 50 minutos
chegamos a uma capelinha de pedra. Tinham várias homenagens e não deixamos de
fazer algumas fotos. Passar ali foi como estar dando entrada em outro mundo. Um
mundo de paz, cercado por um silêncio e uma natureza exuberante. Ao lado da
capelinha tinha um caminho que subia, mas o tracklog que eu estava seguindo,
mostrava outra direção. Segui caminhando, passando por trechos bem bonitos e 20
minutos depois estava cruzando a serra. Assim que cheguei na linha de cumeada,
fiquei impressionado. Estava transpondo a linha para outro universo. Era um
chapadão que perdia de vista. Do alto, podíamos ver um caminho em meio a
vegetação rupestre. Pude perceber que o caminho que havia visto
subindo ao lado da capelinha se encontrava maia baixo com o que eu estava.
Descemos um trecho misto de lajeado, pedras soltas e
vegetação numa inclinação bem suave, até entrar num charco que pela falta de
chuva, estava seco. Continuamos a caminhada e eram 8 horas e 30 minutos quando
cruzamos um rio, mas a frente passamos por um cruzeiro.Passamos por uma casa vazia mais abaixo e
logo a frente, cruzamos mais um rio de águas cristalinas. Por volta das 10
horas, chegamos ao ponto conhecido como prainha. A prainha é o ponto onde o Rio
Parauninha faz uma curva acentuada e as suas margens são de areia e pedras.
Ali, aproveitamos para fazer nossa primeira parada longa. Já havíamos percorrido
cerca de 9 km e seria a metade do caminho. Combinamos que ficaríamos ali por 30
minutos.
Depois de um lanche reforçado e bom descanso, voltamos a
caminhar. Tive que tirar a bota para atravessar o rio. Já estávamos próximos ao
ponto de apoio da Dona Benta. Seguimos por pasto, com vegetação rasteira. O sol
começou implacável. Seguimos andando e deu para ver uma casa mais à esquerda,
acreditava que seria a Ana Benta, mas quando olhei para o gps, ele mostrava
para seguir mais para a direita. Só depois que fui entender que a Ana Benta era
outro local. Do alto conseguimos ver a casa. Tivemos que descer um trecho e
depois subir um trecho de estrada bem íngreme. A partir desse ponto, toda
subida começou a ser sofrida. O sol forte esgota facilmente. Era hora de
manter-se hidratado.
Mais acima, uma placa indicava o caminho numa passagem entre
dois morros. Saímos da estrada que pouco tempo depois iríamos encontrar
novamente. Descemos um trecho e num ponto de água, tivemos que parar, pois a
subida a seguir seria dura. Ficamos ali durante alguns minutos até recarregar
as baterias. Iniciamos a subida e vi ao longe uma pessoa à cavalo, com várias
mochilas e isolantes. Ele passou pela gente e disse que estava seguindo para o
Ponto de Apoio do Chico Niquinho. No alto, cruzamos novamente a estrada e
seguimos por ela até avistar o ponto de apoio do IEEF e uma placa indicando a
casa do Chico Lage, mais um ponto de apoio durante a travessia. Ali no alto e
na sombra, fizemos uma parada rápida. Já era 11 horas e 35 minutos.
Devido as várias subidas que estávamos pegando, as paradas
foram ficando mais constantes. O sol também ajudava no desgaste. Continuamos a
estrada, agora num trecho de com árvores de porte maior, virando uma floresta.
Alí, intercalávamos trechos de sol e sombra. Seguimos em direção a um
descampado, provavelmente foi dali que tiraram o barro para a reforma da
estrada, visto que haviam várias marcas de máquinas. Mais frente, fizemos uma
outra parada numa sombra providencial. Dali, continuamos a caminhada e pegamos
um trecho da estrada com uma descida bem íngreme. Estava escorrendo bastante.
Com cuidado, cheguei perto de uma casa, provavelmente a do Chico Lages. Esperei
o Ricardo chegar e passamos em frente. Perguntei se era por ali que continuava
a travessia. Com o sinal de afirmativo, segui andando.
Passado a casa do Chico Lages, pegamos uma saída discreta e
mal sinalizada, passando por um trecho curioso. Existiam várias pedras que
afloravam do solo. Todas tinham a mesma inclinação e apontavam na mesma
direção. Algo muito forte deve ter acontecido na região há milhares de anos. As
13 horas, passamos por mais um riacho. Era pequeno, mas esse riacho era o
Ribeirão do Campo e formaria a Cachoeira do Tabuleiro, local que conheceríamos
no dia seguinte. O Ricardo pediu para dar uma parada para dar uma refrescada.
Era mesmo a hora de uma pausa. Pela minha marcação, faltava pouco para chegar à
casa do Zé da Olinta.
Depois de mais um descanso, pegamos uma subida e caminhamos
um pouco e logo começamos a descer. Avistei uma casa, que com certeza era a do
nosso destino. Cruzei uma porteira, passando por algumas vacas e logo estava
sentado em uns bancos, tomando um isotônico para hidratar. Havíamos completado
o primeiro e mais importante dia da travessia. Tomei um banho e ficamos batendo
um papo até a hora da janta. A vida é mais simples do que a gente imagina...
Dia 2 : Casa do Zé da Olinta x Parte da Alta da Cachoeira do
Tabuleiro x Casa do Zé da Olinta
Ainda estava escuro quando o galo cantou. Fui dormir cedo e
não tive problemas para levantar, ainda mais com uma boa noite de sono. Tomamos
um delicioso café preparado pela Eva, filha do Zé da Olinta. Era um queijo
feito lá mesmo, bolo de banana e pão de forma. Perguntei se o leite era de lá.
A Eva me responder que não, pois as pessoas não gostavam muito por conta de ter
um sabor mais forte e me perguntou se eu queria. Aceitei na hora. Depois de
tudo pronto, preparei um lanche para a trilha e arrumei a mochila de ataque que
havia levado. A caminhada de hoje era um bate-volta até a parte alta da
Cachoeira do Tabuleiro. Esse foi o motivo de termos optado por pernoitar na
casa do Zé da Olinta: teríamos um dia cheio para aproveitar, sem pressa de ter
que andar.
Saímos para a caminhada seguindo o caminho indicado pelo Zé.
Logo, estávamos num pequeno vale entre dois morros. Era um trecho com mais
vegetação. Fomos andando e logo passamos pelo caminho que vem da portaria.
Nesse ponto, já estávamos bem expostos ao sol, mas como ainda era cedo, não
percebi o que me aguardava. Subimos, contornando um morro para a esquerda e
quando achava que estava chegando, dava para ver que ainda faltava muito. A
paisagem continuava a mesma, com vegetação rasteira, misturada ao amontoado de
pedras. O caminho tinha que ser percorrido com bastante cuidado, pois o piso
tinha muita pedra solta. Depois de uma leve subida, começamos uma descida
forte. Já podíamos ver o cânion bem ao fundo.
Com relação à orientação, o caminho foi relativamente
tranquilo, principalmente nessa parte final. Chegamos por volta das 9 horas as
margens do o Ribeirão do Campo, numa entrada para o cânion. O dia estava lindo.
Um céu azul sem nuvens. A água estava numa ótima temperatura. Depois de
descansar um pouco, seguimos descendo o cânion para chegar bem no alto da
Cachoeira do Tabuleiro. O local era fantástico. Fiquei impressionado com as
paredes verticais. Várias quedas d´água ao longo do caminho davam um toque
especial. Seguimos pela margem oposta, acompanhando algumas setas vermelhas
pintadas. Cruzamos as margens em alguns momentos, passando por alguns poços
incríveis, um chamado especial para o mergulho. Mas optamos por deixar o banho
para a parte final. Depois de uma curva conseguíamos ver o final do cânion.
Cruzamos novamente para a margem da direita e acessamos com cuidado o topo da cachoeira.
Um local fantástico.
Ali fiz um lanche e ficamos contemplando a fantástica
paisagem. Voltamos devagar, já procurando os melhores pontos para um banho. Uma
linda águia pousou em uma das árvores próximas. O sol estava forte, mas
conseguia me refrescar na agradável água. Eu acostumado com as águas geladas
das cachoeiras daqui. Mais acima, quando já estávamos próximos ao ponto de onde
chegamos, começou a chegar mais gente. Aproveitamos para ir até um mirante.
Dali, tínhamos uma visão lá da portaria do parque. Após conseguir fazer algumas
imagens com o drone, voltamos para o rio. Mais pessoas haviam chegado e
podíamos ver outras se aproximando, tanto pelo caminho que fizemos, quanto pela
descida do lado oposto. Por isso que gosto de sair cedo. Havíamos chegado sem
ninguém. Muito melhor do que ter pego aquela quantidade de gente lá no topo de
cachoeira.
Ainda tomamos mais um banho para refrescar e dar um gás
extra para a volta. Pegamos o caminho de volta e logo começamos a subir.
Passamos por vários grupos ainda chegando, essa é uma outra vantagem de chegar
cedo. O sol rachando não dava trégua. Sem sombra para ajudar, o jeito foi para
no sol mesmo. Procurei uma pedra mais confortável para sentar. Após a subida,
vieram os trechos mais tranquilos. As poucas sombras que apareceram pelo
caminho, davam um alívio no calor. Mais alguns minutos e já podíamos ver a casa
do Zé da Olinta.
Já na varanda da casa. Tomei um isotônico gelado e
descansei. A churrasqueira estava sendo preparada para o almoço. Fiz mais um
lanche rápido e tomei logo um banho. Hoje teria lotação máxima na casa. Ficar
esperando para usar o banheiro não seria uma boa ideia. Aos poucos outros
grupos foram chegando e a casa ficou cheia. Ficamos conversando e foi um bom
bate papo. Por volta das 19 horas, jantamos e deixamos tudo pronto para o dia
seguinte, o derradeiro.
Dia 3: Casa do Zé da Olinta x Portaria x Parte baixa da
Cachoeira do Tabuleiro x Portaria
Mais uma noite bem dormida. Com a casa cheia, achei que
fosse ser ruim, mas o cansaço fez com que todos dormissem cedo, principalmente
aqueles que chegaram mais tarde da travessia. O nascer do sol foi demais. O
primeiro que peguei nesses dias. Tomamos café da manhã assim que ele ficou
pronto e como já havia deixado tudo organizado, foi só guardar as coisas na
mochila. Me despedi da Eva e deixei um abraço ao Zé da Olinta, já com um ar de
nostalgia.
Coloquei a mochila nas costas e segui andando. Cruzei a
porteira e fui andando, deixando pra trás a casa e um grande exemplo de que,
definitivamente, as coisas boas da vida, estão nos exemplos mais simples...
Passamos pela área de camping, cruzamos o córrego e pegamos
o caminho da esquerda, indo em direção à portaria. Tínhamos cerca de 5 km pela
frente. Fomos o primeiro a sair e caminhamos tranquilos. A vista continuava
linda e já podíamos ver algumas casas da Vila do Tabuleiro ao fundo. Passamos
um trecho fantástico, num corredor como se fosse um cânion. Dali, continuamos
descendo até começar a avistar a cachoeira do Tabuleiro ao fundo. Paramos num
mirante bem de frente e aproveitei para fazer algumas imagens com o drone.
Quando nos preparávamos para continuar a caminhada, encontramos o grupo que
conhecemos no dia anterior, na estavam na casa do Chico Lages. Fizemos algumas
fotos e fomos até a portaria.
Da portaria do parque, pagamos o ingresso para visitar a
parte baixa da Cachoeira do Tabuleiro. Pegamos o colete, item obrigatório para
quem vai mergulhar no poço, ouvimos as orientações e seguimos andando. A ida
foi tranquila, descemos os 700 degraus das inúmeras escadas, além de seguir
pulando de pedra em pedra o leito do rio até a base da cachoeira. Como ainda
não batia sol, não foi fácil mergulhar. Aproveitei para nadar um pouco na água
gelada. Fiquei pouco tempo e voltei para tentar me aquecer na pontinha de sol
que batia bem ao lado. Como o Leandro Conrado tinha hora para voltar, pois seu
voo para o Rio era a noite, seguimos andando. Cruzar as pedras do rio foi
tranquilo. Duro foi ter que subir os 700 degraus, debaixo de um sol forte, que
resolveu aparecer. Nos distanciamos. Cada um foi no seu ritmo.
Já na portaria, aguardamos a chegado do carro que nos
levaria até Conceição do Mato Dentro. De lá pegamos a estrada. Em Conceição do
Mato Dentro, aguardamos o ônibus e aproveitamos para procurar um lugar para
ficar. O Leandro iria direto para Lagoa Santa. Eu e o Ricardo, conseguimos um
local para ficar no distrito de Serra do Cipó. O ônibus saiu as 13:30, mas essa
vai ficar para outra postagem....