Participantes: Leandro do Carmo, Michael Patrick, Paulo Guerra, Felipe Lima, Ary Carlos, Vinícius Araújo, Patrícia Gregory e Andréa Vivas.
A Serra Fina, que faz parte da Serra da Mantiqueira, é um
conjunto de montanhas, com muitos picos de acima de 2.000 metros de altitude. Está localizada na divisa de três estados: Minas Gerais, São Paulo e Rio de Janeiro,
entre o Parque Nacional de Itatiaia e o maciço Itaguaré-Marins.
O montanhismo
da região nasceu no Maciço do Itatiaia, de onde veio a
ser criado o primeiro Parque Nacional do Brasil, o Parque Nacional do Itatiaia.
Sua fundação, data de junho de 1937. Mas foi bem mais tarde, em julho de 1955,
que o cume da Pedra da Mina foi conquistado, a partir do bairro rural de
Paiolinho, em Passa Quatro-MG. Por muito tempo, o Pico das Agulhas Negras foi
tido como o 4º ponto mais alto do país, porém, de acordo com o anuário
estatístico do IBGE – 2011, oriundo do projeto Pontos Culminante, a Pedra da
Mina, agora figura como o 4º, tendo 2.798 m, 7 metros a mais que o Pico das
Agulhas Negras.
Somente nos anos 80, que a interligação das cristas das serras
nos arredores da Pedra da Mina foi realizada, dando origem à Travessia da Serra
Fina. Rapidamente tornou-se destaque do montanhismo no Brasil. De nível pesado,
possui um dos maiores desníveis topográficos do território brasileiro (acima de
2.000m). Esta travessia é considerada uma das mais exigentes, belas e
impressionantes do País. Além da Pedra da Mina, há outros picos altos que
formam esta serra, tendo como os principais: o Capim Amarelo com 2.491m e o
Três Estados com 2.656m.
A primeira dica que dou é que NÃO CONTRATEM O SR. EDINHO
PARA O RESGATE. Ele deixou vários grupos na mão, inclusive o nosso e não
cumpriu o horário para levar e muito menos o de buscar. Se quiserem arriscar...
Se não estiver muito bem condicionado fisicamente, nem pense em fazer. A travessia é forte e há grandes desníveis durante todo o percurso.
Pontos de água utilizados:
1º dia – No início, no local conhecido Toca do Lobo, porém
mais acima, no Quartzito, tem um, o que faz economizar peso no trecho inicial;
2º dia – Cachoeira Vermelha, mas o melhor ponto é onde cruza o Rio Claro para
ir à base da Pedra da Mina; ouvi dizer que tem água logo após o Maracanã, o ponto
de acampamento, numa saída à esquerda, mas não fui lá conferir; achamos água um
pouco abaixo do cume da Pedra da Mina, no local onde acampamos, mas não posso confirmar se tem
sempre, foi a melhor água da travessia;
3º dia – Rio Verde, no Vale do Ruah, com 1h30min de caminhada;
4º dia – No final da travessia.
Pontos de acampamento utilizados:
1ª noite – Cume do Capim Amarelo (Outros pontos: no meio da subida do Capim Amarelo; Após o cume, existem pequenos pontos ao longo da trilha; no Maracanã, 1h30min depois do cume;
2ª noite – Após o cume da Pedra da Mina (Outros pontos: antes da subida da Pedra da Mina; no cume e arredores da Pedra da
Mina; no começo do Vale do Ruah; vários pontos entre a Mina e os Três Estados)
3ª noite - Base da subida do Pico dos Três Estados, em um bambuzal (há
local de acampamento no cume dos Três Estados, mas se estiver cheio terá que
descer; existem alguns pontos após o cume)
Vídeo
Relato
Tínhamos programado de fazer a travessia da Serra Fina a
quase 1 ano. E devido a quantidade de dias, 4 no total, só daria para fazer no
feriado de Corpus Christi. Por ser muito pesada e técnica, não queríamos um grupo muito grande. Resolvemos fechar nosso grupo em 8 pessoas. Com o grupo definido, começamos a organizar a logística. Eram muitas as opções, mas resolvemos sair de Niterói, em
direção à Passa Quatro, na quarta feira à noite e combinamos de dormir na casa
do Sr. Edinho (responsável por nos levar ao começo e fazer o nosso resgate ao
final da trilha), assim poderíamos acordar bem cedo e seguir para o começo da
travessia.
Chegamos à Passa Quatro por volta das 22:00 e encontramos, por
sorte, o Sr. Edinho em um posto de gasolina. Fomos até a casa dele e já
começamos a perceber o quanto o Sr. Edinho é enrolado. Não parava de chegar
gente e ele já havia dado algumas viagens, levando vários grupos. Até aí tudo
bem, pois só sairíamos de manhã cedo. Marcamos às 7 horas. Queríamos começar
com o dia claro para poder apreciar a bela vista.
1º Dia – Da Toca do Lobo ao Cume do Capim Amarelo
Acordamos cedo conforme programado e para nossa surpresa já
tinha um grupo na caminhonete do Edinho pronto para sair e ficamos por último,
mesmo tendo combinado com antecedência. Acho que o Sr. Edinho não tem noção da
responsabilidade que tem. Quando combinamos um horário, é por que fizemos uma
programação em cima disso e um atraso de 2 horas, pode comprometer bastante o
dia. Com todos esses problemas, acabamos entrando na trilha às 10 horas da
manhã. Acho que fomos o último grupo a começar a travessia.
Chegamos a uma propriedade que fica logo após o Refúgio
Serra Fina e dali, seguimos uma péssima estradinha até a Toca do Lobo, que é
uma pequena gruta à esquerda, à margem de um córrego. Ali tínhamos a informação
de que seria o ponto de coleta de água do dia, depois dali, só um pouco antes
da base da Pedra da Mina, no segundo dia (Tem água mais acima, no Quartzito).
Cada um foi enchendo suas garrafas e eu optei por levar 3 litros e o Ary teve
que levar 1L para mim, pois havia esquecido sua garrafa. Aproveitei para beber
quase 1L d’água, assim garantiria menos consumo nesse primeiro dia. Minha
mochila pesava algo em torno dos 16 Kg.
Com a mochila nas costas, cruzamos o córrego e iniciamos a
subida. Já começa forte! Mas descansado e inteiro, não tive problemas. Aos
poucos fomos vencendo a subida até que passamos para uma vegetação bem rasteira,
ficando totalmente expostos ao sol. Ali já era possível ver o cume do Capim
Amarelo enganosamente próximo... A trilha sempre bem marcada, não
apresentava dificuldades. A medida que subíamos, víamos que precisávamos subir
mais... E com aproximadamente 1 hora de caminhada, comecei a ouvir um
barulho de água correndo e mais acima deu para ver um quedinha d’água, bem a
direita. Esse deveria ter sido nosso ponto de coleta de água, assim não
precisaríamos ter feito todo essa caminho com um peso desnecessário.
Seguimos subindo e a vista começou a surpreender. E olha que
ainda estávamos longe de concluir o dia... No alto de um morro demos uma pausa
e pudemos observar o caminho pela crista por onde passamos e o caminho que
ainda teríamos que percorrer. Tivemos uma descida pela crista, o clássico caminho da Serra Fina, até que
começamos a forte subida do Capim Amarelo. É um trecho bem íngreme com alguns
lances de trepa pedra, vários caminhos com bambuzinhos que teimavam em agarrar na mochila e grandes tufos de capim,
que nos acompanhariam durante toda a travessia.
Nesse trecho de subida, tivemos nossa primeira de muitas
investidas por entre esses tufos de capim, que formam verdadeiros labirintos
por entre a vegetação. Subimos num ritmo forte e passamos vários grupos a nossa
frente. Nossa preocupação era de que o cume estivesse cheio e que não houvesse
mais lugar para acampar. Muitos optam por passar o cume do Capim Amarelo e
acampar no Maracanã ou em algum ponto pelo caminho. Paramos num pequeno
descampado, onde fizemos nossa última parada antes do trecho final da subida.
Partimos para o ataque final. Uma subida íngreme, molhada, escorregadia e em
alguns pontos expostas. Existiam algumas cordinhas que ajudavam a ascensão. Os
bambuzinhos teimavam em nos segurar e aos poucos vencemos os metros finais e
chegamos ao cume do Capim Amarelo.
O dia estava ótimo: firme e sem vento. E isso nos ajudou
bastante. Havíamos chegado eu, Felipe, Paulo e o Michael. O cume é bem pequeno
e coberto por esses tufos de capim. Como tinha bastante gente por lá, dei logo
uma andada em volta e não vi nenhum lugar aberto para acampar. Rapidamente,
marquei três pontos onde haveria possibilidade de armar as barracas. Peguei meu
canivete e abri uma pequena clareira, onde eu e o Paulo armamos nossa barraca.
Mais para o lado, o Felipe e Michael, armaram a deles e deixamos um espaço
razoável para a barraca da Andréa e Patrícia. Precisávamos de mais um local.
Forçando a barra, achei um lugar para o Vinícius e o Ary, onde eles montaram a
barraca deles. Pronto! Estávamos todos mais ou menos instalados. Preparamos nosso
almoço/janta e ficamos ali contemplando o por do sol maravilhoso. Mas o dia
ainda não havia acabado... Estávamos em semana de lua cheia e quando ela
apareceu... Deu seu espetáculo! Aos poucos, todos nos recolhemos e tomados pelo
cansaço dormimos... O dia seguinte também seria longo...
2º Dia – Do Capim Amarelo à Pedra da Mina
Acordamos cedo, preparei meu café da manhã e pude contemplar
um nascer do sol fantástico. O espetáculo das montanhas sendo atingidas pelos
primeiros raios de sol, davam a sensação de que elas pegaria fogo. Foi difícil
me concentrar em outra coisa, mas precisava continuar. Começamos a nos arrumar
para descer. Tinha 1 litro
de água para chegar até a Cachoeira Vermelha, próximo ponto de coleta.
Atravessamos o cume do Capim Amarelo, pois a descida é pelo lado oposto ao que
se chega.
Fomos descendo e um pouco mais abaixo, passamos por alguns pequenos
pontos de acampamento. Em pouco tempo já estávamos no fundo do vale. Olhando
para o Capim Amarelo, vi o quanto havíamos descido. Cruzamos um trecho de capim
alto no fundo do vale, subimos um pequeno lance e novamente entre capins
cortamos em diagonal o morrote seguinte. A trilha bem marcada e até sinalizada
com fitas e totens, nos levou até o trecho de mata rala que separa a base do
Capim Amarelo da crista em direção ao Melano. Com cerca de 1h 30min,
chegamos ao local conhecido como Maracanã. Uma ampla área que daria para
abrigar umas 20 barracas. Mais a frente, conversando com outras pessoas, fiquei
sabendo que existe um ponto de água bem próximo. Seria seguir a trilha a após o
Maracanã e dobrar a esquerda na primeira bifurcação. Daí, precisaria descer uns
15 min. Não dá para confirmar, pois não cheguei até lá. A essa altura,
estávamos divididos em dois grupos. Nos encontrávamos em pontos pré determinados
e o nosso próximo, seria na Cachoeira Vermelha. Seguimos subindo e descendo
sempre com um visual fantástico. Do alto de um morro, avistei uma pedra no
fundo do vale com uma coloração avermelhada e não tive dúvida, era o nosso
ponto de referência, era a Cachoeira Vermelha.
O sol estava no alto, era cerca de 13:00 horas. Já estávamos
na trilha desde as 9:00 horas. Como teríamos que parte do outro grupo, resolvemos
fazer o almoço ali. Tínhamos água a vontade para lavar as panelas. Essa
parada foi fundamental. Foi o dia em que eu melhor me alimentei. E ainda bem,
pois a noite que passaríamos... Estávamos eu, Michael, Paulo e o Felipe. Um
pouco depois chegou o Vinícius. Como já havíamos almoçado, dei a ideia de que
um grupo fosse à frente e já montasse o nosso acampamento e deixasse reservados
dois lugares para as outras barracas. Outra decisão acertada! Quando a Andréa,
Patrícia e Ary chegaram, avisei que o pessoal já havia ido para a Pedra da Mina
e que eles fizessem ali o almoço, assim poderíamos subir com menos água,
consequentemente, mais leves. A essa altura, qualquer quilo, faz a diferença.
Para os mais corajosos, dá até para tomar um banho. Eu nem
me arrisquei. Até para lavar a panela a mão doía, de tão gelada que a água
estava. Aquele vale é um local fantástico, algo intocado, assim como toda a
travessia. A nossa frente tinha a pedra da Tartaruga e mais ao lado dava para
ver algumas pessoas subindo a Pedra da Mina. Já era hora e começamos a
caminhar. Havíamos pegado água ali nesse ponto, mas poderíamos ter esperado
mais a frente, onde cruzamos o rio novamente. A água naquele ponto é bem mais
clara, pois ela ainda não passou pelo charco. Na próxima... Seguimos o caminho
até que iniciamos a subida da Mina. Subidinha forte! O tempo começava a fechar.
O vento aumentava, mas por sorte não eram nuvens de chuva.
Quando chegamos próximos de um grande totem, já quase no
cume, o Felipe e o Michael nos esperavam para indicar-nos o local das nossas
barracas. Como o Ary e Patrícia ainda não haviam chegado, resolvi parar para
assinar o livro de cume junto com a Andréa e aproveitei para bater algumas
fotos. O tempo fechou de vez e o vento estava muito forte. Algumas barracas
estavam abrigadas e outras nem tanto. Tentei achar onde estavam as nossas, mas
a falta de visibilidade me fez voltar. Quando retornei, encontrei o Felipe, Ary
e Patrícia. Aí sim, pude seguir. Acho que sozinho, sem referência, sem
visibilidade, não iria achar nunca. O local era ótimo, bem mais abrigado do
vento do que no cume. Com o tempo aberto, é fácil achar, mas a noite e
fechado... Assim que passar pelo livro de cume, deve seguir reto se orientando
pelos totens. Mais a frente quando começa a descer levemente, siga os totens da
esquerda, pois para a direita você vai para o Vale do Ruah.
A barraca já estava
montada. Fiquei imaginando achar um lugar e montar nessas condições... Troquei de roupa e ainda fiquei um pouco dentro da barraca
para me aquecer mais. Depois do acampamento montado, aproveitamos para ir
até ao cume, na esperança do tempo abrir. Mas não
demos sorte. O vento aumentou consideravelmente e já estava ficando complicado
ficar ali em pé. Resolvemos voltar e no caminho passamos por três caras
tentando montar uma barraca numa laje inclinada e totalmente exposta ao vento,
acabei voltando e falando do local onde havíamos montado as nossas barracas.
Eles na hora aceitaram e nos seguiram. Como a visibilidade piorou, demoramos um
pouco até acharmos o caminho. Fui e voltei algumas vezes, até que vi um totem,
depois outro... Pronto, já tinha me achado! Eles já estavam tão cansados que
montaram a barraca no primeiro local que acharam. Entrei na barraca e fui
descansar, o dia seguinte prometia... A noite foi tensa. O vento mudou de
direção e começou a sacudir a barraca a cada rajada. Havia colocado pedras na
lateral da barraca, o que foi o suficiente para estabilizar a cobertura e
impedir que o vento entrasse por baixo. Uma noite mal dormida!
3º Dia – Da Pedra da Mina à base do Pico dos Três Estados
O dia amanheceu péssimo: a visibilidade estava reduzida a
poucos metros; o vento continuava forte; o frio havia aumentado. Não tinha
jeito, não ia melhorar tão cedo. Era hora de sair de dentro do saco de dormir e
começar a arrumar as coisas. Levantei e fui ver se todo mundo já estava
acordado. Havíamos programado de não sairmos muito tarde. Aos poucos todos
foram se arrumando e começamos nossa caminhada. A descida foi coisa de cinema. Achar
o caminho foi complicado e tivemos a orientação de um grupo que estava desarmando
o acampamento. Começamos a descida que era razoavelmente íngreme. Estava tudo
molhado e todo cuidado era pouco. Paulo e Vinícius seguiram na frente, eu e a
Patrícia no meio e resto do pessoal veio atrás. Na verdade, foi a última vez
que vimos o Paulo nesse dia, pois ele pegou a dianteira e só fomos encontrá-lo
novamente, na manhã do quarto dia. Descemos com muita cautela até o começo do
Vale do Ruah, mas antes, haviam alguns totens que indicavam um caminho para o
alto de morro, à direita, mas no nosso caso, deveríamos seguir descendo.
Chegamos ao Vale do Ruah e não tínhamos nenhuma referência
visual. Havia um grupo logo no começo e cheguei a chamar pelo Paulo e nem sinal
dele. Acabamos nos juntando a outros grupos e fomos caminhando pelos grandes
labirintos encharcados. Acho que pela falta de chuva, não achei tão complicado
cruzar o Vale do Ruah. Cheguei a ler alguns relatos que podia afundar até a
cintura... Que era fácil se perder... O capim pode chegar a 2 metros de
altura... Mas pegamos a referência de chegar ao rio e segui-lo com ele a nossa
esquerda. E não deu outra. Rapidamente cruzamos a passagem entre dois morros,
justamente onde o rio passa, formando um pequeno vale. Seguimos andando e na
primeira cachoeira, fizemos nossa parada para coletar água, nosso último ponto
até o final da travessia. Com a tática, que vinha dando certo, bebi quase 1L de
água com isotônico, assim conseguia ficar mais tempo sem me hidratar, levando
menos água e, consequentemente, menos peso. Com os reservatórios de água cheios,
seguimos pelo vale entre os dois morros e após cruzar o da direita, avistamos
um mais a frente. Vi um totem bem no alto, numa diagonal e fomos procurando o
caminho em meio aos labirintos de tufos de capim. Com olhos de águia, via uma
fita amarela em um pequeno arbusto, na qual indicava o caminho certo. Segui e
logo estava ao lado do totem que havia visto lá de baixo. Achado o caminho,
fizemos uma pequena pausa, pois vencer esse trecho, abrindo caminho pelo capim,
foi bastante cansativo.
Subimos e chegamos a um ponto de acampamento, fazendo mais
uma pequena pausa. Começamos a caminhar no sobe e desce das montanhas, sempre
com os bambuzinhos nos prendendo. Passamos por um ponto onde se o tempo tivesse aberto,
acredito que seria espetacular! Caminhávamos, para variar, numa crista, mas bem
na beira de um penhasco. Às vezes o tempo ameaçava abrir e conseguíamos ver a
silhueta das montanhas em volta, mas logo voltava a fechar. A nossa esquerda,
estava o Pico dos Três Estados. Passamos por mais um pequeno ponto de camping,
e seguimos reto até ao final da linha. Tivemos que voltar e começar a descer,
até que conseguimos avistar os totens. Já tinha gente lá em baixo, pois
ouvíamos barulho de bambu sendo cortado. Seguimos o caminho a passamos por um
grupo acampando. Todos os bons lugares do bambuzal já estavam ocupados.
Continuamos andando e vimos um lugar que daria para montar algumas barracas.
Ficamos por ali mesmo. Demos uma caprichada no local e ficou perfeito para 4
barracas. Já havíamos decido ficar ali. O nosso medo era subir o Pico dos Três
Estados e não conseguir local para ficar e ter que continuar a caminhada. Quem
tiver disposição que encare! Nós já estávamos esgotados. Seria muito mais
tranquilo fazer a janta ali e já consumir um pouco do peso carregado, principalmente
da água. Afinal de contas a próxima subida seria forte, com aproximadamente
1h20min, conforme o mapa que tínhamos.
A essa altura, nem sinal do Paulo. Como ele estava colado
num grupo que saiu junto conosco, provavelmente já estaria no cume, pois pelo
caminho, não havíamos visto ninguém, nem de longe. O problema é que eu estava
dividindo a barraca que estava com ele e eu estava carregando o seu isolante.
O local onde estávamos era bem abrigado, dentro da floresta. Não pegamos vento,
apesar de ouvi-lo bem forte. Preparamos nossa comida e combinamos de acordar
mais cedo que nos dias anteriores, às 5 da manhã. Sabíamos que tínhamos, pelo
menos 1 hora a mais de subida. Aproveitei e me recolhi mais cedo que nos outros
dias, afinal de contas, essa seria a nossa terceira noite e queria estar
inteiro para dia seguinte, o derradeiro!
4º Dia – Base dos Três Estados à BR 354
Acordamos cedo e apesar do barulho do vento durante toda a
noite, vi que o tempo estava completamente diferente do dia anterior. Estava
bem aberto. Por entre as árvores dava para ver a silhueta do nascer do sol.
Fiquei imaginando como seria lá de cima... Bom, precisávamos adiantar e começar
logo o dia. Fui verificar se todos já tinham acordado e voltei para preparar
meu café da manhã e arrumar a mochila. Juro que pensei em abandonar algum
material para diminuir o peso... Mas coloquei tudo dentro e não me preocupei em
organizar as coisas, não precisaria pegar mais nada dentro dela.
Iniciamos nossa jornada final por volta das 6h30min. Novamente
uma subida forte. Se já estava assim no começo, imaginei como seria se
tivéssemos feito no final do dia anterior. Mais uma decisão acertada! Com o
tempo limpo, conseguíamos ver o nosso objetivo e tudo o que havíamos feito. O
visual era fantástico, muito diferente do dia anterior, onde tudo ficava
resumido ao branco das nuvens... Isso deu um ânimo a mais, principalmente pelo
sol que aquecia o corpo, dando até para tirar o anorak e caminhar somente com a
segunda pele. E dá-lhe subida! A previsão era de 1h20min. Mas eu e o Vinícius
fizemos em 45min. No cume, por sinal lotado, encontramos o Paulo, que passou um
perrengue dormindo sem o isolante. Pela quantidade de gente que estava ali no
cume, agradeci a Deus novamente por termos tomado a decisão de acamparmos antes
da subida, pois com certeza não acharíamos local para dormir e teríamos que
andar bastante até encontrar algum ponto. Aproveitamos para bater fotos no
marco que divide os três estados. Dali dava para ver o que faltava... A grande
subida do Alto dos Ivos. Só que antes de chegar ao Alto dos Ivos, ainda tínhamos
um grande caminho a percorrer.
Começamos a descer o Pico dos Três Estados. Uma descida
forte, como de costume. Passamos por alguns pequenos pontos de acampamento. Vimos
vários grupos em vários pontos da trilha. Acho que todos se concentraram por
aqui. Hoje dava para ver a quantidade de gente que estava na travessia. O dia
continuava perfeito. Descemos e subimos e descemos novamente... De longe vi um
grupo em uma parte bem exposta e falei: “O caminho não pode ser por ali!” O
Vinícius respondeu: “Não pode ou você não quer?” Respondi: “Os dois, é
claro!!!!” Passamos por um grupo que estava acampado num local amplo, mas bem
irregular, numa laje de pedra, bem exposta ao vento. Tinha uma barraca que estava
num local tão inclinado, que fiquei pensando na noite de quem dormiu ali...
Chegamos ao ponto onde havia visto de longe. De perto não era tão ruim assim,
um pouco exposto, mas tem bons locais para os pés. Seguimos e subimos mais um
pouco antes de descer para iniciar a última subida da travessia. Andamos mais
um pouco e estávamos aos pés do Alto dos Ivos. Respirei fundo e toquei para
cima. Até que foi mais rápido do que eu esperava. Chegamos lá em cima e estava
literalmente lotado. Parece que todos resolveram se encontrar lá... A área é
bem ampla e não há vegetação, somente um lajeado, onde impossibilita qualquer
tentativa de acampamento. Ficamos ali durante algum tempo, recarregamos as
baterias e combinamos que dividiríamos o grupo pois como encontramos vários
grupos pelo caminho e muitos diziam que voltariam com o Sr. Edinho, tínhamos
certeza de que isso iria dar problema. Nossa ideia era chegar e já ir pegando o
resgate. Com certeza seria por ordem de chegada, assim como foi na casa dele.
Então seguimos Eu, Michael, Paulo, Felipe e o Vinícius.
Partimos para a descida... É uma caminhada sem muitas dificuldades. Tudo muito
bem marcado, mas não podia faltar o bambuzinho e os tufos de capim. Passamos
por alguns pequenos morros e cruzamos uma área de camping. Mais a frente,
entramos definitivamente na mata fechada. O Felipe havia pego a dianteira, o
Paulo e o Vinícius ficaram para trás, acabou que eu e o Michael fomos
caminhando juntos. Entramos numa estradinha abandonada e bem mais a frente
chegamos ao último ponto de água. Na verdade, mais a frente ainda dá para
coletar em dois pontos, mas consideramos esse o último, pois ainda está na
trilha. Dali, entramos numa estradinha
abandonada, passamos por uma bifurcação. Nesse ponto, deve-se pegar o caminho
da esquerda, pois o da direita, sairá na Garganta do Registro. Seguimos
descendo até que passamos à Sede da Fazenda, uma grande construção abandonada.
Continuamos e passamos por algumas cercas e porteiras, até que chegamos ao
nosso destino: O recuo na BR 354. O Felipe já havia e eu e o Michael
chegamos alguns minutos depois. Sr. Edinho também estava lá, todo enrolado. Havia
dezenas de pessoas para descer e apenas uma Kombi fazendo o translado do
pessoal para Passa Quatro. Botamos uma pressão e fomos no EcoSport dele.
Apertamos e conseguimos ir em 5, mais o motorista.
Chegamos à Passa Quatro e fomos logo almoçar. Enquanto
almoçávamos, a Andréa ligou e pediu que fôssemos de carro, pois eles iriam
embora direto. Tinha muita gente lá e a volta estava sendo por ordem de
chegada. Pelo cálculo da quantidade de pessoas, voltariam por volta das 18h.
Essa foi a gota d´água com o Sr. Edinho. Ter que ficar esperando lá esse tempo
todo, depois de termos marcado horário... Agora deu para entender porque não
contratar o Sr. Edinho?
Pegamos o carro e deixamos Passa Quatro. Subimos a BR 354 e
chegamos ao encontro de todos! Arrumamos nossas mochilas e partimos para a Garganta do Registro, onde
todos fizeram um lanche reforçado. Assim, voltamos cansados, mas felizes
por termos concluído, com êxito, o nosso objetivo: TRAVESSIA SERRA FINA EM 4
DIAS!
Missão cumprida, até a próxima!
Fotos:
A Serra Fina e o caminho que já fizemos no primeiro dia
Percorrendo o caminho
Pausa para a subida final
Almoço no cume do Capim Amarelo
Itaguaré - Marins ao fundo
Por do sol no cume do Capim Amarelo
O sol nascendo
Café da manhã
Foto antes da caminhada
Lajeado de pedra
Cume da Pedra da Mina - 4º ponto mais alto do Brasil
Assinando o livro de cume
Acampamento na Pedra da Mina
Inciando a descida em direção ao Vale do Ruah
No Vale do Ruah
Caminhando
Pausa para o descanso
Mais uma pausa
Os bambus que nos atormentaram durante toda a travessia
Expedição – Dedo de Nossa Senhora
Local: Parque Nacional da Serra dos Órgãos
Data: 18/06/2015
Participantes: Leonardo Carmo e Marcos Lima
Participação especial: Monique Zajdenwerg
Relato
Lá vamos nós de novo. Pra variar, às 23hs de quarta-feira, o telefone toca, e do outro lado: Fala aí, tá livre amanhã? R: Tô. Então amanhã 6hs aqui em casa. Vamos pro Dedo de Nossa Senhora.... Missão PitBull..... Missão dada... partiu.
Foi assim... por volta das 8:15 chegamos na entrada do PARNASO (Tere) para preencher o termo de responsabilidade. Descemos e paramos no Paraíso das Plantas. Rapidamente tomamos um café e partimos para a entrada da trilha.
As 9 da manhã começamos a subir. Trilhazinha exigente. O caminho estava muito molhado. Alguns trechos são de pedras, caminhos de água ou leito de rio seco. Estava muito escorregadio. Mas aqui não tem molezinha. Tocamos pra cima num ritmo puxado.
Depois de aproximadamente 1 hora de subida, chegamos no primeiro lance de artificial, um trecho curto seguido de meio vara mato e meio entalamento. Cuidado nesse trecho. Não subestime o lance. Tem três grampos nessa parte de entalamento. Não custa passar uma fita ou até mesmo colocar um estribo para dar um auxílio. Ainda mais se o grupo estiver grande. Isso vai dar mais segurança e agilidade.
Passado esse lance, tem mais um pedacinho de trilha que leva à base do principal trecho de artificial.
Se eu não me engano, são 18 grampos. Eles são bem espaçados uns dos outros. A sequência depois da parada dupla fica mais espaçada. Também, tinha que ser. O conquistador foi um alemão rsrs. O cara devia ser gigante.
Eu, com 1,77 de altura me esticando todo, não consigo alcançar todos os grampos. Aí vai da criatividade de cada um para conseguir alcançar esses grampos rsrsrs.
Na primeira vez que eu fiz essa via, eu subi sem corda, mas achei muito arriscado. Cada um foi usando um par de estribos. Dessa vez, juntamente com o Marcos Lima, optamos por dar mais segurança a escalada. Utilizamos corda e fomos costurando normalmente. Costuramos todos os grampos. Utilizamos um par de estribos. Um, era o estribo de verdade e o outro, feito com um pedaço de corda rsrs. Valeu o improviso.
O Marcos Lima guiou o primeiro lance até a parada dupla. Depois, eu guiei até a base do lance do cabo de aço.
**No lance do cabo de aço, o Marcos guiou novamente. Fizemos o mesmo procedimento de subir costurando. Não custava nada ter mais uma segurança. Nesse lance é força bruta. Em época chuvosa, costuma ficar descendo água até dois dias após ter parado de chover por conta da vegetação. Esse lance molhado fica complicado.
Depois que acaba o lance de cabo, vem um trecho íngreme de terra meio barro. Bem escorregadio.
Depois, vem um pequeno lance de trilha em meio à vegetação e pronto, o cume.
Chegamos no cume as 15:30. Ficamos por lá uns 30 min e tocamos pra baixo. O cume do Dedo de Nossa Senhora é incrível. Você vê as outras montanhas de ângulos que ninguém mais consegue ver. Pra mim, a melhor visão é a do Garrafão. Um espetáculo.
Depois da gente ficar apreciando toda aquela maravilha, resolvemos descer. Na parte de terra meio barro, da pra montar um rapel. Nós desmontamos o nosso estribo improvisado para poder utilizar a corda como um auxílio. O pedaço de corda devia ter uns 3 metros só. Nessa descida tem duas pequenas árvores onde passamos a corda para ter um ponto de apoio, pois estava muito escorregadio. Chegando na parte do cabo de aço, mas ainda na parte de caminhada, descemos só segurando o cabo mesmo. Na parte íngreme, montamos o primeiro rapel. Depois, montamos o segundo rapel. Com uma corda de 60 m da pra chegar até a base. Depois, descemos pela trilha que sai na parte do entalamento. Ali, montamos o terceiro e último rapel. Com corda de 60 também vai direto.
Depois, é só descer pela trilha. A descida também é puxada, molhado então, vira um sabão rsrs. Chegamos no final da trilha as17:23.
Depois, fomos andando até o Paraíso das Plantas onde encontramos a Monique. Batemos umas fotos e encerramos a nossa expedição.
** Enquanto eu estava nessa base do cabo de aço esperando o Marcos chegar, meu telefone toca. Era a Monique Zajdenwerg falando que ia fazer o Cabeça de Peixe e que estava passando pela entrada do PARNASO. Até aí beleza. O negócio é que a trilha que vai pro Cabeça de Peixe é extremamente puxada. Ela disse que ia chegar lá no cume pra ver a gente no cume do Dedo de Nossa Senhora. Na hora eu não entendi nada, mas tudo bem rsrs. Ainda falei que tiraria fotos dela rsrs.
Talvez ninguém acredite, pois se eu não tivesse visto eu também não acreditaria. Quando a gente chegou no cume do Dedo de Nossa Senhora, uns 10 min depois a Monique aparece no cume do Cabeça de Peixe rsrs. Ela deve ter aberto algum portal misterioso no início da trilha que teletrasnportou ela lá pro cume.
Na volta foi a mesma coisa. A gente começou a descer praticamente juntos e ela chegou muito antes da gente. Ainda tirou onda perguntando se queria que ela esperasse a gente lá no final da trilha ou no Paraíso das Plantas rsrs.