Por Leandro do Carmo
Garrafão - PARNASO
Histórico da Conquista do Garrafão
O Garrafão, à época conhecido como Fagundes, foi conquistado em 28/10/1934 por Émérico Hungar, Gilberto Ferrez, Geoffrey Edwards e W. George Andrews, todos eles membros do Centro Excursionista Brasileiro. Foi um período de grandes conquistas no montanhismo brasileiro e sua dificuldade técnica, bem como a distância, o tornam menos frequentado, se comparado a outros cumes da região.
Horários e pontos de referência da Trilha do Garrafão
5h – Saída de Niterói; 6h 30 min – Entrada do Parque; 7h 49 min – Início da trilha (Barragem); 8h 40 min – Abrigo 2; 9h 30 min – Bifurcação Paredão Paraguaio (Pausa 10 min); 9h 55 min – Trilha da Pedra da Cruz; 10h 02 min – Trilha do Sino; 10h 38 min – Abrigo 4 (Pausa 20 min); 11h 10 min – Início da subida da Pedra do Sino; 11h 20 min – Cume da Pedra do Sino (Pausa 10 min); 12h 10 min – Buraco; 12h 24 min – Cabo de Aço; 13h 15 min – Cume do Garrafão; 13h 45 min – Saída do Cume do Garrafão; 15h 30 min – Saída do Buraco; 16h 18 min – Cume do Sino; 16h 40 min – Abrigo 4; 17h 17min – Bifurcação Morro da Cruz; 17h 38 min – Abrigo 3; 17h 45 min – Bifurcação Paredão Paraguaio/Trilha do Sino; 19h 05 min – Véu da Noiva; 19h 55 min – Barragem; 20h 20 min – Carro.
Dicas para chegar ao cume do Garrafão
Para chegar ao Garrafão, primeiro é necessário chegar à Pedra do Sino. Do cume da Pedra do Sino, já é possível ver o Garrafão. Devemos ir em direção a ele num misto de laje e pequenos trechos de vegetação. Desce até um vale e depois sobe novamente até chegar à borda de frente ao Garrafão. Nesse ponto, vem o primeiro trecho técnico, onde deve-se procurar um buraco, dentro dele podemos descer desescalando um lance em chaminé ou fazendo um pequeno rapel, numa proteção que fica no alto. Convém deixar uma corda curta (10 metros) fixa no local para auxiliar a volta. Depois desse trecho, segue até o cabo de aço. Existe uma parada dupla onde dá para fazer um rapel. Com uma corda de 60 m meada, não dá para chegar ao final. Um pouco mais abaixo, há um grampo onde dá para rapelar com uma corda meada de 60 metros. A mesma pode ser usada para segurança na volta. Optamos por dar segurança de baixo, fazendo com que subíssemos de top rope, progredindo pelo cabo de aço. Facilitou e agilizou bastante. Após esse trecho, pega-se uma trilha subindo, até chegar a uma canaleta exposta. Há uma proteção no início e uma bem mais acima, onde é possível montar um corrimão para dar mais segurança. O trecho está bem erodido e está bem exposto. Há uma corda fixa numa raiz. Muito cuidado ao utilizá-la. Acima, pega-se um trecho exposto com lance fácil de escalada, onde tem um grampo para proteção. Dali para o cume são mais alguns metros.
Vídeo de toda subida ao Garrafão
Vídeo de drone no cume Garrafão
Wikiloc - Garrafão
Relato da Trilha do Garrafão
Três semanas depois de ter feito a Agulha do Diabo, estava de volta ao Parque Nacional da Serra dos Órgãos. Agora para fazer o Garrafão. Mas a ideia surgiu na semana seguinte a Agulha do Diabo, quando perguntaram qual seria a próxima escalada? Como eu ainda não havia feito, sugeri o Garrafão. Todos aceitaram. Aproveitei para abrir a atividade no Clube Niteroiense de Montanhismo, dando oportunidade para outros amigos também conhecerem a montanha. Convidei, também o Ezequiel (Ziki), depois de o ter encontrado no CEB. Meu irmão e a Marina se juntaram a nós, confirmando somente na sexta-feira, véspera da escalada. Ao todo, éramos 9 montanhistas. Grupo relativamente grande, principalmente se levarmos em conta os trechos técnicos na qual passaríamos, sendo o principal, os 30 metros de ascensão obrigatórios, no colo entre o Garrafão e o Sino, no retorno do cume. Mas como todos eram escaladores experientes, com exceção da Marina, acho que não teríamos problema. E não tivemos!
Saímos pontualmente as 5h da manhã de Niterói e chegamos ao PARNASO um pouco mais cedo do que a última vez, sendo o segundo carro da fila. Ficamos ali conversando até dar 7 horas e o parque abrir. Fomos direto para o Centro de Visitantes preencher os termos e de lá seguimos para a área de estacionamento, onde deixamos os carros e seguimos até a barragem, local de início da caminhada, propriamente dita. Estava uma manhã agradável e não fazia tanto frio, comecei a andar apenas com a segunda pele. Havia um grupo grande que também faria o Garrafão. Eles tinham programado de pernoitar no Sino e atacar o cume no dia seguinte, mas como a previsão do tempo era mudança para o dia seguinte, resolveram que iriam hoje mesmo. Mas como estavam com bastante peso para o pernoite, com certeza seriam mais lentos e chegaríamos bem à frente. Ainda encontramos mais um grupo de CNM, guiados pela Ana, que iriam para a Travessia da Neblina. Bom, era hora de começar a andar.
Entramos na trilha do Sino por volta das 7h 50 min. Foi uma subida tranquila. Passamos por alguns grupos que haviam subido primeiro e também encontramos com outros que já estavam descendo do Sino. Fomos num bom bate papo e logo passamos pela Cachoeira do Véu da Noiva. Continuamos a subida, já chegando aos pontos onde era possível ver a cidade de Teresópolis ao fundo. O dia estava firme, prenúncio de uma excelente caminhada. Paramos na entrada da trilha do Paredão Paraguaio, onde fizemos um rápido descanso. Dali seguimos subindo e as 10 horas entramos novamente na Trilha da Pedra do Sino. Até ali, nenhuma novidade. Já havia percorrido esse caminho inúmera vezes. No ritmo que estávamos, nem tinha muito tempo de aproveitar o caminho. Nosso objetivo era chegar logo ao Abrigo 4. A partir dali sim, poderíamos curtir o caminho. Passamos pela entrada da Trilha do Papudo e mais a frente, depois de nos afastarmos um pouco dessa vertente, conseguíamos ver o cume do Papudo ao fundo. Cruzamos um trecho bastante molhado e com 40 minutos de caminhada havíamos chegado ao Abrigo 4, eram 10 h 40 min da manhã. Fizemos o trecho em 2h e 50 minutos, um excelente ritmo. Só tinha uma barraca montada. Aproveitamos para fazer uma parada mais longa. Fiz um lanche reforçado e deixei uma garrafa de isotônico guardada num buraco próximo ao abrigo para a volta, não queria levar peso extra.
Estávamos cada vez mais próximos do Garrafão. A vista impressionava. Daquele ponto, parecia ser impossível alcançar o cume. Nosso objetivo agora era chegar a um buraco, onde desceríamos até chegar ao cabo de aço. Fomos procurando, sempre seguindo pelo caminho mais óbvio até que conseguimos achá-lo. E olha que não muito óbvio assim. Fica meio escondido, numa passagem entre a vegetação. Dali, descemos e entramos numa gruta. Fixamos uma corda e fomos descendo um a um, usando a técnica de chaminé. Rapidamente descemos e começamos a montar o rapel para iniciarmos nossa descida para o colo entre essa vertente do Sino e o Garrafão. Optamos por montar o rapel num grampo mais abaixo, dali conseguimos dobrar a corda e deixá-la meiada, dando exatos trinta metros. Se fossemos usar as chapeletas de cima, talvez precisássemos de uma corda de 70 metros, mas mesmo assim, não posso afirmar que chegaria. Fomos descendo um a um. O trecho estava bem molhado e a rocha é bem lisa. O cabo de aço está em boas condições. O rapel foi bem tranquilo, o maior problema seria para subir. Optamos por deixar duas cordas, assim poderíamos dar segurança de baixo para que pudéssemos subir pelo cabo mais rapidamente.
Fui um pouco mais para cima, para poder ver de longe a descida. Era um trecho bem bonito. Comentamos sobre a audácia da conquista, pois ali era o caminho mais óbvio para essa descida, sem contar que achar aquele buraco não deve ter sido uma tarefa fácil. Era uma galera a frente do seu tempo. Uma conquista de 1934, que hoje em dia, mesmo com todo equipamento que temos disponível, ainda é um marco para os montanhistas. Assim que todos passaram, iniciamos a subida e o ataque final ao cume. Faltava pouco. Seguimos em direção a uma canaleta bem íngreme. Subimos um trepa pedra e na base desse trecho, uma corda meio velha amarada num arbusto serviria para nosso apoio. Ali era um trecho que merecia uma segurança melhor, mas começamos a subir usando a corda só como um apoio moral. Tem algumas agarras boas na lateral direita na qual davam um bom suporte. Fui subindo, sempre procurando os trechos mais sólidos, até que passei pelo arbusto onde a corda estava amarrada. Dali pra cima, fui caminhando e procurando o acesso ao cume. Vi uma laca apoiada e não tive dúvida de era por ali, era o único caminho possível. Segui subindo e o trecho foi tranquilo, apesar da exposição. Mais alguns metros e estava no cume.
A vista dali era algo impressionante. Como o dia estava aberto e firme, conseguíamos ver boa parte da Baía de Guanabara. Por todos os lados as montanhas despontavam de forma magnífica. De um lado era possível ver o São Pedro, Agulha do Diabo, São João, Santo Antônio, Três Marias, Dedo de Deus, Dedo de Nossa Senhora, Escalavrado, entre muitas outras. Para o outro lado, conseguíamos ver boa parte do caminho da Travessia Petrópolis x Teresópolis. Geralmente estamos lá e a vista que temos para o Garrafão, chama a atenção e vira referência. Há uns meses atrás, tive o prazer de ver o Garrafão por esse ângulo e lembro que na época, a vontade de estar nesse cume fantástico foi grande. Pensei: “Vou subir nessa temporada.” E hoje estava ali vendo e relembrando o caminho que havia feito há uns dois meses atrás. Aproveitei para filmar com o drone e fazer algumas fotos. Assinei o livro de cume e descansei um pouco, o suficiente para o retorno. Dentro da nossa programação, ficaríamos no cume por 30 minutos. E assim que bateu o tempo, iniciamos nosso retorno.
Iniciei a descida e cheguei naquele ponto do arbusto onde a corda está amarrada. Desci com bastante cuidado e logo estava na base, auxiliando a descida dos demais. Lentamente, passamos o trecho e seguimos descendo até a base do cabo de aço. Encordoei-me numa ponta de corda e subi utilizando os cabos, sob segurança do meu irmão. Estava bem molhado e o que eu pressenti na descida, se confirmou na subida. Como estava molhado, alguns trechos escorregavam bastante. Tinha que tentar me manter perpendicularmente a rocha, mas isso demandava um esforço maior nos braços. Até que subi bem rápido, pois quanto mais parado ficasse, mais esforço faria. Ao longo da subida, percebi que a corda da segurança estava com um arrasto grande e só fui ver o motivo quando cheguei à parada. As cordas haviam sido passadas em mosquetões que estavam paralelos e um acabava fazendo uma força sobre o outro, gerando um atrito extra e, além disso, a fita na qual esses mosquetões estavam presos ao grampo era curta. Assim que o Luis subiu, pedi para aguardarem e precisei de uns 5 minutos para reorganizar o nosso sistema e otimizar a subida. Com tudo certo, joguei a outra ponta de corda para baixo e aos poucos todos foram subindo. Faltando três subirem, chegou um grupo de Nova Friburgo. Eles aguardaram um pouco até que todos subiram. Dali, seguimos para a gruta, onde tínhamos que voltar por uma corda fixa que havíamos deixado. Fizemos o lance de chaminé e nos reunimos na laje ao lado do buraco. Ali, tiramos o equipamento e organizamos todo o material que não seria mais usado. Aproveitei para comer algo rápido, era 15 h 30 min. O astral do grupo era excelente, faz a diferença a boa companhia. Dali, pudemos acompanhar a entrada de nuvens pesadas. Parecia que a virada do tempo prevista para a noite havia se antecipado. Estava convicto de que choveria em pouco tempo. Com isso, iniciamos rapidamente nosso retorno, ainda passaríamos por alguns trechos de difícil orientação. Em pouco tempo o Garrafão foi tomado por nuvens que se movimentavam numa velocidade absurda.
E seguimos caminhando. Senti alguns pingos, mas não quis colocar o anorak, na esperança de que não aumentasse. Cruzamos o capinzal e começamos a subir. Nos trechos mais íngremes estava escorregadio, mas ainda conseguíamos progredir com segurança. Se aumentasse a chuva, acho que ficaria mais complicado. Da mesma forma que as nuvens chegaram, elas se dissiparam e em pouco tempo, mais nenhum sinal de chuva e seguindo os totens, atingimos novamente o cume da Pedra do Sino. Eram 16h 18 min, havíamos completado cerca de 75% da nossa atividade. Apesar desse trecho final ser longo, a divisão leva em conta, também o grau de dificuldade. Agora era só descer. Ficamos pouco tempo no cume e seguimos direto para o Abrigo 4. Alguns decidiram descer direto. Eu aproveitei para lanchar e descansar um pouco mais para a descida. Num ritmo constante e automático, segui descendo, dando apenas duas paradas rápidas na bifurcação para entrada da trilha do Paredão Paraguaio e no Véu da Noiva. Assim que a noite caiu, peguei a lanterna e ela não funcionou. Ainda bem que o Ziki me emprestou uma reserva. Cheguei à barragem por volta das 19h 45min e dali, fui direto ao carro. Aos poucos todos foram chegando e aproveitei para pegar o carro e voltar até a Barragem para dar uma carona aos que chegaram por último. Pegamos os carros e seguimos, parando no primeiro Posto, para fazermos um lanche e seguir viagem. Missão cumprida!