Por Leandro do Carmo
Remada no Rio Paraíba do Sul: De Itaocara à São Fidelis
Tempo: 9h 30min
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Trecho feito
Vídeo da Remada Itaocara x São Fidelis
Relato da Remada Itaocara x São Fidelis
Foi em Junho de 2022 que remamos o trecho de "PortoVelho do Cunha x Itaocara", totalizando 56 km. Nossa idéia era fazer um trecho por ano até chegar à barra do Rio Paraíba do Sul, em Atafona. Porém, em 2023, não conseguimos pôr em prática nosso objetivo, mas esse ano saiu. Até que foi meio no susto, cosa do tipo: “Pode na outra semana?”, mas se não for assim, acaba não saindo. Confirmando a data, compramos logo a passagem de ônibus para Itaocara. Agora sim estava marcado!
Aproveitamos que estava uma janela de tempo extremamente favorável, com tempo firme. Fazia calor e o único problema seria o sol forte por volta das 12 horas. Mas dentro d’água podemos nos refrescar a qualquer momento. Na noite de sexta feira, fizemos as compras para o lanche e preparamos todo o equipamento. A logística foi diferente: sairíamos de Itaocara e dessa vez não teria muita correria e nem ter que acordar na madrugada. Marcamos de nos encontrar às 6 horas 30 minutos na sede do Kayak & Sup Club, em Itaocara.
Chegamos lá e na hora de pegar os caiaques, o que iria usar não estava no clube. A solução foi utilizar outro do Markley, não tão apropriado para remadas longas. Mas era isso ou desistir. Como Desistir não estava nos nossos planos, preparamos tudo e colocamos os caiaques na água, já fazendo a foto de partida. Era uma manhã bonita e a Serra da Bolívia nos da um excelente bom dia. A água do rio Paraíba estava exuberante e numa temperatura extremamente agradável, difícil ter condições melhores.
Era 7 horas e 30 minutos quando iniciamos nossa remada. Aos poucos fomos deslizando pelas águas do Rio Paraíba do Sul rumo ao nosso destino... As águas que no extremo sul do país estão causando tanto desastre, aqui nos proporcionam tanto prazer. É o contraste que a vida nos dá. Seguimos descendo e logo estávamos cruzando a Ponte Ary Parreiras, que liga Itaocara à Aperibé. Seguimos passando por pequenas corredeiras num bom ritmo. Já sentia bastante o caiaque. Mantê-lo no rumo me obrigava a fazer um esforço extra e lá na frente isso cobrou seu preço. Remava sempre um pouco mais atrás, isso para mim até facilita, pois vejo sempre o caminho que eles fazem e sigo com mais calma.
Logo deixamos o centro da cidade e voltamos a remar com poucas construções nas margens, trazendo aquela sensação de estarmos literalmente fora da civilização. Fizemos uma parada rápida e logo voltamos para a água. Mais à frente, entramos num trecho bem fechado com pequenos canais. Difícil para quem nunca passou ali identificar qual seria o melhor caminho. Mesmo já conhecendo, o Markley errou o caminho e tivemos que voltar e pegar um canal mais estreito, passando por diversos galhos que dificultavam um pouco a progressão.
Seguimos descendo o rio por entre pequenas corredeiras num silencia total, até que ele foi quebrado pelo som de alguns carros, cruzando as estradas que seguem paralelas ao rio. Logo chegamos à Portela, Distrito de Itaocara. As pessoas ainda dormiam e havia pouco movimento. Passamos rapidamente pelo distrito de Portela e começamos a pegar muita água parada. Não estava fácil remar naquele caiaque, mas fui seguindo. De um ponto, o Markley falou: “Olha lá a ponte de Cambuci!”. Juro que fiquei procurando, mas como não via nada, fiquei na minha. Só depois que ele disse que era brincadeira, fazendo isso só para motivar. No alto de um morro, na margem esquerda, dava para ver uma casinha e o Jefferson me disse que era a referência da ponte de Cambuci. Agora sim estava perto.
Ia sempre remando num ritmo mais lento que os outros, mas sempre antes de alguma corredeira alguém me esperava para dar um auxílio, caso necessário, afinal de contas era o menos experiente do grupo. Passamos pela ponte de Cambuci e remamos por trechos com bastante água parada. O calor foi aumentando e a todo momento tinha que jogar uma água na cabeça. Passamos o centro de Cambuci e já estava bem cansado quando fizemos uma parada rápida. O local era bem bonito, assim como inúmeros pelo qual passamos. Aproveitamos para comer algo rápido, nossa parada para almoço seria mais a frente. Aproveitei para trocar caiaque com o Markley. Como o caiaque era dele, talvez ele estivesse mais acostumado. Para mim ficou mais fácil, o caiaque era parecido com o TS, na qual havia remado no trecho Porto Velho do Cunha x Itaocara.
Voltamos para a água e já nas primeiras remadas senti bastante diferença. Foi um alívio. Mais à frente, comecei a ouvir um barulho forte de água, chegávamos à Cachoeira do Romão. Uma corredeira forte, com grandes ondas que segue numa curva. Jefferson e o Mateus desceram algumas vezes, eu e o Markley optamos por fazer a portagem sobre as pedras e voltar a remar uma pouco mais abaixo. Descemos o final da corredeira e num remanso fizemos nossa parada para o almoço. O local era bem bonito e agradável. Demos uma boa descansada, mas já era hora de voltar a remar. Estávamos mais ou menos na metade do caminho, havíamos remado cerca de 28 km. Lá fundo conseguia ver uma formação rochosa bem bonita. Não sabia exatamente se era naquela direção que iríamos, mas minha intuição dizia que sim e acabei tomando-a como referência.
Depois de um bom lanche, voltamos para água, ainda tinha muito rio para remar. Continuamos passando por lugares fantásticos. As corredeiras diminuíram de intensidade. Para mim foi até melhor, visto que precisava remar com mais força durante a descida e já estava cansado. Pegamos um braço auxiliar e fizemos uma parada em Pureza, 3º Distrito do município de São Fidelis. Fomos muito bem recebidos por um senhor que morava na beira do rio. Quando perguntamos onde tinha um bar para comprarmos água, ele nos ofereceu várias garrafas de água gelada. Sempre com aquela excelente hospitalidade de cidade do interior. Aproveitei para descansar e confesso que fiquei desanimado quando fiz as contas, pois ainda faltavam cerca de 20 km para o nosso destino.
Continuamos nossa jornada e depois de um longo trecho de água parada, num local paradisíaco, chamei o pessoal para darmos uma parada. Aproveitamos para descansar e rir um pouco. O bom astral dava forças para continuar. Dei uma caminhada até uma laje e fiz um lanche bem próximo água, só sentindo a água bater nos meus pés. O sol estava forte e já estava incomodando. Senti alguns calos na mão esquerda, mas não quis tirar a luva. Estava com medo de que tivesse dado bolhas. Agora era recarregar as baterias e seguir até o final.
Passamos por diversos pontos de água parada. Para mim era bom, remava tranquilo sem ter que forçar muito nas corredeiras. Já estava bem cansado quando numa corredeira sem grandes dificuldades, o caiaque foi virando e não tive forças para me equilibrar e tombei. Fui para a margem um pouco mais a frente e com ajuda do Mateus, tiramos a água e voltamos para a água. Voltei a remar um pouco desanimado, mas tinha que continuar, estávamos no trecho final. Aquela formação rochosa que havia tomado como referência já estava ficando para trás.
Fomos acompanhando uma linha de trem desativada e isso ajudou a fazer o tempo passar. De longe já era possível ver uma ponte, pelo formato, provavelmente era da estrada de ferro na qual vinha acompanhando. Sinal de que estávamos chegando. Isso me deu forças. Estávamos num trecho bem largo do rio, na qual parecia uma lagoa. Fui remando e percebi que o barulho das águas estava aumentando, sinal de estávamos próximos de uma corredeira. Segui o Jefferson, que foi em direção à margem esquerda. Como sempre, esperei todos descerem e fui em seguida. Fui com bastante cuidado, não podia dar errado. Passamos a última corredeira da remada, conhecida como “Salto”. Passada mais essa, o Markley seguiu com o Mateus para a esquerda e eu fui seguindo o Jefferson que ainda aproveitou uma boa onda e ficou surfando por alguns minutos. Nos reencontramos num areal, logo após a ponte, onde paramos pela última vez. Já estávamos bem próximos. Já estávamos no final do dia e o sol começou a se por. Estava bem bonito. Fizemos uma foto para e seguimos para o ponto onde havíamos combinado o resgate.
Foram mais uns 2 km até chegar à CEDAE, onde arrumamos um local para subir. Conseguimos colocar os para cima e levamos até o carro, onde amarramos tudo e seguimos de volta à Itaocara.
No total, foram cerca de 52 km, em aproximadamente 10 horas de remada num dia fantástico.