O dia amanheceu firme. Havia uma neblina forte. Não estava tão
frio, inclusive a minha previsão era de que fosse fazer bastante calor depois
que a neblina fosse embora. Cheguei cedo à praia de Charitas. Tirei o caiaque
da vaga com dificuldade e levei para beira da água, onde arrumei os
equipamentos. A água estava bem clara, apesar de toda a poluição da Baía de
Guanabara.
Saí remando sem rumo definido, não tinha um objetivo definido.
Pensei em ir até a Boa Viagem, mas quando estava na altura do Morro do Morcego,
olhei em direção ao Rio de Janeiro e resolvi ir até a Praça XV, uma vontade que
tinha já fazia um tempo. Como não tenho companhia aqui em Niterói, tenho que de
vez em quando tenho que remar sozinho. Nem sempre é tão ruim assim, mas
confesso que prefiro companhia.
Continuei a remada, já com o proa do caiaque no rumo da Ilha
Fiscal. Nesse trecho, é difícil cruzar com alguém remando, apenas barcos de
pesca ou a serviço da indústria naval carioca. Vi um enorme cargueiro se
aproximando, Já na entrada da barra, Evitei avançar mais e diminuí o ritmo até
ele passar. A impressão era de que ele estava longe, mas rapidamente ele passou
na minha frente, cruzando o canal, até perto da Ponte Rio-Niterói. Continuei a
remada. Alguns atobás passavam rente a água, calculando perfeitamente a
distância para não tocá-la.
Já próximo ao aeroporto, o barulho dos aviões aterrizando e
decolando eram bem fortes. Fui paralelo ao aeroporto, até as boias de marcação
na enseada da estação das barcas. Os aviões que decolavam, passavam bem pertos
e podia ver os detalhes do trem de pouso. Um espetáculo. Mais a frente, perto
de onde ficam alguns barcos de pesca, dei uma pequena parada para alongar e
beber uma água. Foram poucos minutos, mas o suficiente para dar um gás para a
remada de volta.
Voltando, tentei fazer o mesmo caminho. Comecei a sentir um
incômodo na altura da lombar e fui fazendo pequenas pausas para alongar, o que
ajudou bastante a manter o ritmo da remada. Passei um pouco mais distante da
Ilha da Boa Viagem e fiz uma parada na Praia do Morcego, onde descansei um
pouco até retornar para a guarderia, ao lado da Estação das Barcas de Charitas.
Via Paredão Rosângela Gelly - 3º IV E2 D2 380m Conquistadores: Juratan Câmara, Hélida Rodrigues, Leandro do Carmo, Michel Cipolatti e Luis Avelar Ano: 2021 Local: Pedra de Itaocaia - Face Sudeste
Linha aproximada da via Paredão Rosângela Gelly (amarelo) com a Paredão Itaocaia (vermelho) à sua direita:
Dicas
A via é bem bonita e qualidade da rocha ajuda bastante. Boas agarras e lances variados. A via segue bem protegida e é possível rapelar de qualquer ponto da via com uma corda de 60 metros.
Descrição das cordadas:
A via começa tranquila e com lances mais fáceis. Agarras sólidas. Depois a via ganha um pouco mais de inclinação. Passa por uma sequencia de cristais e vem o primeiro crux, numa saída bonita de um buraco raso para a direita. Continua com lances bem bonitos e mais delicados. A partir da P4, a via perde inclinação e vai ficando mais fácil e um pouco mais suja. As proteções mais espaçadas. Já é possível ver de longe algumas proteções da Paredão Itaocaia.
Bate sombra na parte da tarde.
Acesso
OBS: Por ser uma via recente que ainda não tem muita repetição, o traçado da trilha pode não estar muito bem definido, mas siga sempre paralelo a rocha.
Para acessar a via, deve-se entrar num terreno vazio, entre a loja de material de construção Pé da Pedra e uma loja de Colchões, onde há uma construção abandonada. Siga pelo lado direito dessa construção e vá andado. Depois que passar um bambuzal, deve-se cruzar uma talvegue em direção a umas bananeiras. Siga subindo em direção à pedra. Chegando nela, siga paralelo para a esquerda até encontrar a base da via.
Vídeo da 5º Investida
Relato por Juratan Câmara
Há algum tempo eu estava escalando com a Hélida Rodrigues, a quem
conhecera recentemente. Ela escalava muito bem e como ama o esporte, pensava
sempre em evoluir tecnicamente mais e mais. Foi aí que conversando com ela veio
a ideia de fazermos uma conquista, pois não existe nada melhor para se evoluir
nas escaladas. Conquistar tem toda uma técnica única, é desbravar o
desconhecido, aumentar o controle emocional e desenvolver uma visão até antes normal.
A leitura de um futuro lance pode levar a uma ótima conquista ou a uma daquelas
que ninguém gosta de ir ou quando vai não volta mais. O conquistador não pode
pensar em si, tem que lembrar que é mais uma via para o esporte, pelo menos é a
minha visão. E foi com esse impulso que a Hélida conquistou os primeiros lances
muito bem, com segurança e uma calma de veterana, cometeu pequenos erros
normais a quem começa, mas ficou muito acima da média dos iniciantes...
Escolhemos uma linha mais limpa possível, inclinação razoável e com boas
paradas. Neste dia, estava muito quente e descemos depois de algumas chapeletas
fixadas na parede. Fiquei pensando depois que nome daria a via e em nossa
segunda investida falei que gostaria de homenagear uma pessoa que sempre fez
algo pelo esporte, Rosângela Gelly, talvez Hélida tivesse um outro nome, mas
não fez resistência a minha proposta.
Depois de irmos duas vezes, convidei o Michel Cipolatti para nos ajudar,
visto que já sabia o tamanho da parede que iríamos encarar. Ao mesmo tempo,
chamamos o Leandro do Carmo e o Luiz Avellar, excelentes escaladores do Clube
Niteroiense de Montanhismo. Na terceira investida, tivemos que abrir uma outra
trilha, bem mais longa, vindo lá da direita, visto que o proprietário da casa
por onde passávamos não mais permitiu nossa entrada, neste dia estava um calor
absurdo e Cipolatti e Leandro abriram a caminhada cortando todo o mato pelo
caminho, os dois ficaram tão cansados que não tiveram forças pra mais nada, eu
fiquei pelo meio do caminho vendo Luís.
Ficamos um tempo sem voltar lá, porque o sol andava muito forte, quando
retornamos dividimos o grupo, Cipolatti e Leandro subiram para conquistar, eu,
Hélida e Luís fomos intermediando os lances longos. Nossa preocupação sempre
foi deixar a via bem protegida, e assim fizemos. Cipolatti e Leandro voavam na
pedra e avançaram bastante e quase terminaram a conquista.
Por fim Cipolatti e Leandro foram na última investida, colocaram as
paradas duplas que faltavam, fizeram as anotações das distâncias dos lances e
encerraram mais uma via linda, bem protegida, boas paradas, visual lindo. Comunicamos,
oficialmente a homenageada que sua via estava concluída, uma justa homenagem a
quem sempre trabalhou para o montanhismo, sempre deu palestras sobre riscos, fez
lives, convidando várias pessoas nos
mais diferentes assuntos ligados ao esporte e ainda é a autora do livro “Isto
Não é Coisa de Menina”. Para quem gosta de uma boa via, aconselho que vá
conhecer o paredão Rosângela Gelly
Relato por Leandro do Carmo
Sempre achei que aquela face da Pedra de Itaocaia tinha potencial de
novas vias. Eu e o Ary já havíamos olhado, mas nunca houve oportunidade de
irmos lá. Mas o destino fez com que começasse uma via ali. Já estava há um
tempo conversando com o Juratan sobre conquistas, mas ainda não havíamos tido a
oportunidade de conquistarmos uma via. Quando recebi o convite para poder
continuar com ele e a Hélida, uma via na Pedra de Itaocaia, não pensei duas
vezes. Além mim, o Luiz e o Michel também foram.
O Juratan e a Hélida já haviam ido lá duas vezes. Marcamos cedo a
terceira investida e seguimos para Itaipuaçú. Chamamos o caseiro que nos
autorizou a entrar. Enfrentamos um forte matagal até chegar à base da via. O calor
estava forte. Dali, subimos o trecho que já estava protegido e seguimos mais
para cima. O Michel conquistou os primeiros metros e acabei finalizando o dia
com um lance bem bacana, acho que o mais difícil até ali. O calor estava forte
e resolvemos ir embora, afinal de contas ainda tinha um mato pela frente... Na
descida, o dono da casa apareceu e reclamou que estávamos indo lá várias vezes
e dificultou a nossa entrada para as próximas investidas. Ainda precisaríamos
de algumas.
Ao mesmo tempo em que estávamos nessa conquista, o Cauê Zago dava
continuidade a uma via, mas o acesso era bem mais para frente. Aí, surgiu a
ideia de acessarmos pelo mesmo caminho dele e seguir paralelo a rocha até chegarmos
a base da via. E assim marcamos a quarta investida. Entramos ao lado de uma
loja de material de construção, num terreno onde tem uma construção abandonada.
Dali, seguimos até a rocha e passamos pela via do Cauê e continuamos paralelos
a rocha, abrindo caminho e deixando preparado para futuras investidas. Ao longo
caminho, pudemos observar diversas linhas e o grande potencial que a parede
tem. Fomos metro a metro até, finalmente, que chegamos exaustos à base da via. O
calor estava tão forte e estava tão cansado, que nem deu para pensar em
conquistar. Mas pelo menos havíamos conseguido uma alternativa viável para
acessar a base. Ao final, encontramos o Cauê Zago e o Alexandre Langer na
padaria, onde paramos para tomar uma cerveja gelada e conversar um pouco sobre
as conquistas.
Na quinta investida foi mais fácil. O caminho já estava pronto. Chegamos
bem mais rápido a base da via e avançamos bem na conquista. A rocha era de boa
qualidade e foi facilitando bem a subida. Se não me engano, ainda voltamos lá
pelo menos umas duas vezes até que encontramos a via Paredão Itaocaia num
trecho da rocha. Aí, tínhamos duas opções: ou parávamos ali, ou continuávamos mais
para a esquerda. Como avaliamos que ficaria um mais do mesmo, optamos por
encerrar a via ali mesmo. Já estávamos com aproximadamente 380 metros de via.
Os melhores lances já haviam passado. Intermediamos alguns lances mais expostos
e demos por encerrada a conquista. O Juratan havia sugerido homenagear a
Rosângela Gelly, uma acertada decisão. E assim ficou batizada a via...
Mais um sábado. Cheguei bem mais cedo à Charitas, a previsão era que o pessoal saísse as 7:30 do CCC, na Urca. Assim como na última vez, minha ideia era remar até a Urca e de lá, vir com eles. Era aniversário do Clube Carioca de Canoagem, e eles tinham a programação de remar até o Morcego. Era perfeito para mim. Comecei a remar mais cedo e rumei em direção à Urca. O dia estava firme e sem vento, ótimo para a remada. Arrumei as coisas e coloquei o caiaque na água.
Nas primeiras remadas foram bem lentas e espaçadas, queria dar uma esquentada no motor. Dei uma alongada dentro do caiaque e fui aumentando o ritmo gradativamente. E assim fui... remada a remada num ritmo constante e sem me preocupar muito. Rapidamente cheguei na altura do Morro do Morcego. Dali, rumei mais para dentro, indo em direção à enseada da Urca. Da última vez, passei por fora do Forte da Laje, pegando uma forte corrente, mas dessa, optei passar por dentro. Passaram por mim várias canoas e continuei remando solitariamente.
Cruzei o canal sem problemas e segui em direção à praia da Urca. Remada tranquila. Avistei alguns caiaques de longe. Fui chegando perto, mas não reconheci ninguém. Já na praia da Urca, consegui encontrar o Gustavo e vi que ainda tinha bastante gente para sair. Fiquei descansando, enquanto os outros se arrumavam. Com todos na água, comecei a remar de volta. Mas o primeiro desafio já havia sido cumprido.
Seguimos rumo ao Forte da Laje. Mais à frente, já na altura do Morro Cara de Cão, todos se reuniram para seguirmos, praticamente juntos. Tinha bastante caiaque, muito bacana de ver. Fomos por fora do Forte da Laje, onde as vagas já eram maiores. Tivemos que aguardar a passagem de um grande navio cargueiro. Dali, rumamos em direção ao Morro do Morcego. Remava num ritmo bem tranquilo. Para todo lado que olhava, via um caiaque. Demos uma parada rápida, bem na ponta do Morcego, de onde fomos direto para a praia.
Lá, alinhamos todos os caiaques, lado a lado, no canto direito de quem chega à praia. O sol estava bem agradável. A água estava bem clara. Ficamos ali conversando num clima muito agradável. Fiz um lanche rápido. Depois de um tempo, foi hora de partir. O grupo do CCC voltou para a Urca para comemorar o aniversário, mas para mim não dava. Não tinha condições de ir à Urca novamente e depois voltar, ficaria para uma próxima. Aproveitei para filmar alguns saindo. Ainda fiquei alguns minutos, arrumei minhas coisas e segui, rumando em direção à estação do catamarã de Charitas. Uma excelente manhã de sábado!
Conquista da Via Carlos Boechat - 4° Vsup E2 D2 - 220 metros
Dicas:
Para acessar a base, seguir pelas pedras à direita da prainha de Itacoatiara, até encontrar a trilha que passa abaixo das casas de um condomínio e descer no setor de boulders do Oriente (caminho também frequentado por pescadores).
A via se inicia próximo ao último bloco deste setor, que fica “apoiado” na parede. Da base, é possível ver as quatro primeiras chapeletas e a fenda que permite vencer o trecho negativo.
A primeira parada dupla (P1) foi instalada na quinta proteção fixa, logo após a fenda, para evitar o atrito da corda na aresta da parede e o “peso” a ser puxado pelo guia, além de facilitar a subida do participante e a comunicação entre os dois. É possível esticar da base até o P2 com uma corda de 60m, no limite da corda.
Os esticões seguintes são predominantemente em agarras (cristais) e algumas passadas em aderência. A via segue tendendo levemente para a esquerda.
Após a última parada dupla (P5), é possível caminhar até a trilha do morro das Andorinhas, que dá acesso próximo à praia de Itaipu. A via pode ser rapelada com uma corda de 60m, porém, recomenda-se a descida por esta trilha, para evitar danos à vegetação da parede durante o rapel, evitar o rapel em aresta na chegada à base, e ainda, para desfrutar do mirante do Morro das Andorinhas, voltado para as lagoas de Itaipu e Piratininga na descida.
Com a perda do amigo, engenheiro, administrador regional da
Região Oceânica de Niterói, durante muitos anos eleito vereador de Niterói, que nos deixou aos 70 anos, no dia 12 de dezembro de 2020, vítima de
covid-19, iniciei uma busca por uma parede a fim de conquistar uma via de
escalada em sua homenagem, em alguma formação rochosa de Niterói. Foi lançado o
desafio!
Normalmente, se encontra uma parede, se conquista uma via, e
durante (ou depois) se decide o seu nome. Desta vez foi ao contrário. Eu já
tinha o nome da via, mas não sabia onde seria.
A escolha da linha não foi fácil, pois, apesar do relevo
acidentado, o município possui diversas vias e algumas paredes já não comportam
novas conquistas. Além disso, a intenção era abrir uma via “diferenciada”.
Tanto o local, quanto a vista, deveriam impressionar os escaladores que viessem
a conhecer e repetir.
Foram paqueradas algumas possibilidades no Morro do Morcego,
Santo Inácio, Cantagalo, Costão de Itacoatiara e Alto Mourão. Foram vários dias
de procura e olhar atento às paredes, quando certo dia, meus olhos bateram na
face sudeste do Morro das Andorinhas, aquela voltada para Itacoatiara. A rocha
possui muita vegetação, e à primeira vista, não seria um local apropriado.
Porém, ao chegar na base, depois do setor de blocos do Oriente, encontrei uma
linha relativamente “limpa”, com pouca vegetação. Definido, então, o local e o
traçado da via. Ao consultar o Parque Estadual da Serra da Tiririca, foi
constatado que este setor não possui vias de escalada e encontra-se liberado
para novas conquistas. Ufa!
Escolhido o dia 26 de janeiro de 2021 para iniciar a
ascensão. Ao convidar alguns escaladores para fazer a minha segurança (e
ninguém pôde ir comigo), decidi iniciar sozinho, em auto-segurança, o que
dificulta mas continua sendo possível. Assim, o desafio se tornou ainda maior.
Avistei uma fenda negativa a cerca de 15 metros da base em
que foi preciso usar uma estratégia inusitada para mim. Deixei a mochila com a
furadeira pendurada pelo cliff na quarta chapeleta, subi a fenda em livre e só
então puxei a mochila para cima. Foi o maior perrengue!
A parede demanda uma diversidade de técnicas de escalada,
com lances atléticos, como a referida fenda, e lances mais técnicos, como os
cristaizinhos e as aderências no meio da parede. Foram cinco investidas que
demandaram muito esforço e dedicação. Vários momentos de risco e dificuldade (o
risco era controlado, viu, mãe?) e muita adrenalina. Durante os momentos de
cansaço, dor e desconforto, consegui manter o foco e a motivação, pois a
vontade de vencer o desafio era maior (frase boa para o vídeo).
O resultado foi uma escalada muito bonita, com seu início
bem próximo do mar, onde as ondas batem na base da montanha, o que traz ao
mesmo tempo uma mistura de paz e apreensão. Difícil de explicar! Meu objetivo
foi atingido (pelo menos eu fiquei impressionado). Na última investida, no dia
15 de abril de 2021, o mar estava agitado e o início da via molhado pelos
respingos. Para completar a beleza do local, a vista para um “cartão postal da
cidade”: a praia de Itacoatiara cercada pela Serra da Tiririca.
Fico muito satisfeito com o resultado, na torcida para que
muitos escaladores a admirem com o devido cuidado com a vegetação, e faço a
doação da via ao Clube Niteroiense de Montanhismo.
Fico, também, muito honrado em conseguir fazer esta
homenagem. Este trabalho, além de eternizar em uma montanha da Região Oceânica
o nome do “amigo incansável”, como disse o Prefeito da cidade em uma homenagem
(e o Boechat era mesmo uma pessoa excepcional), certamente contribui para o
desenvolvimento do montanhismo na cidade de Niterói.
Mais um dia de remada. Hoje, já saí com a vontade de atravessar novamente até a Urca. Como passei a deixar meu caiaque na praia de Charitas, numa vaga bem próxima a água, estava bem mais fácil remar. Acordei cedo e mandei uma mensagem para o Gustavo, do Clube Carioca de Canoagem, perguntando se ele iria remar. Ele deu o positivo e falei que estava saindo de Charitas e que iríamos nos encontrar em algum ponto. Tirar o caiaque da vaga sozinho requer um pouco de força e jeito. Mas devagar consegui colocá-lo próximo ao mar. Me equipei e fui para a água.
A manhã estava agradável, tempo firme e sem vento. As primeiras remadas foram intercaladas com um alongamento dos braços e troncos, até que imprimi um ritmo constante. Estava tendo uma competição e haviam várias pessoas remando. Passei pela Praia do Morcego e segui costeando o Morro do Morcego até ver o Forte da Laje na proa do caiaque. Segui rumando em direção a ele. Já próximo ao canal de entrada da Baía de Guanabara, vinha cruzando um grande navio. Tive que diminuir o ritmo para esperá-lo passar. Era algo assustador de tão grande. Assim que ele passou, aumentei o ritmo e mesmo ele já estando bem longe a água estava bem mexida, como se estivesse num liquidificador. Aumentei um pouco a força da remada para passar por esse trecho.
Passe pela boia limitadora do canal e fui cruzando o Forte da Laje por fora. Senti que a água corria bem mais forte nesse trecho, me jogando para fora. Fui me aproximando o Morro Cara de Cão numa diagonal para aproveitar melhor as vagas que entravam. O mar ali estava bem mexido. Alguns barcos de pesca estavam apoitados bem próximos. Segui remando, até consegui passar por esse trecho. Na próxima, tentarei vir mais por dentro. Dei uma descansada, remando mais devagar até estar mais abrigado pela enseada. Mais adiante, consegui ver alguns caiaques e quando me aproximei vi que era o Gustavo. Com ele, estavam o Mauro e sua esposa, num caiaque duplo.
Nos cumprimentamos e perguntei para onde eles iriam. Falaram que queriam ir o Gragoatá. Falei de uma praia que havia ao lado do Forte que eles ainda não conheciam. Toparam a ideia e iniciamos a remanda, rumando em direção à Ilha da Boa Viagem. Voltamos por dentro, assim não passamos pelo trecho mais mexido da parte de fora do Forte da Laje. A remada de volta bem tranquila, sem vento e com mar liso. Fomos conversando até chegar bem próximo à Ilha da Boa Viagem. Avisei que para chegar à Praia do Gragoatá, teríamos que ir em direção ao Forte do Gragoatá. A praia estava bem ao lado dele e dali não conseguíamos vê-la.
O cheiro de óleo estava forte. A Baía de Guanabara sofre. Seguimos até contornar o forte e dali já podíamos ver a praia. Mais algumas remadas e estávamos desembarcando nas areias grossas do Gragoatá. Algumas pessoas vieram perguntar sobre o caiaque, não é todo dia que aparecem caiaques oceânicos por ali. Ficamos ali durante um tempo. Fizemos algumas fotos e resolvemos pegar o caminho de volta. Na água novamente, seguimos remando de volta. Eles foram se aproximando de uma plataforma e eu resolvi seguir embora dali mesmo. Me despedi, já pensando numa próxima. Segui remando tranquilo. Passei pela Ilha da Boa Viagem novamente e coloquei a proa do caiaque na direção da estação do Catamarã de Charitas. Uma boa remada.
Seguem informações sobre mais uma conquista na Pedra de Itaocaia, via Moinho de Sonhos. Pra quem não conhece, a Pedra de Itaocaia está localizada em Itaipuaçu, Maricá. A face da via fica voltada para a Av. Carlos Mariguella.
Obs: Faltam os últimos metros da saída da via até o cume, mas é
fácil se localizar mesmo andando através do capim alto.
Dicas
Material recomendado: Corda de 60m, 12 costuras, sendo 3 bem longas para diminuir
o arrasto na primeira enfiada.
Tempo de duração: Dependendo da velocidade da cordada é possível terminar em
umas 6h, mas é recomendado chegar cedo.
Há sombra na parte da tarde.
Descrição do acesso:
O começo da trilha de acesso para a via é ao lado direito de
uma loja de material de construção (Av. Carlos Marighella, 48 - Reserva Verde,
Maricá - RJ, 24936-435 – Pé da Pedra Material de Construção), onde é possível
estacionar. A trilha passa pelo terreno de uma casa em construção pelo lado
direito até a parte aberta atrás da casa. No final desta parte mais aberta
segue para a esquerda para atravessar uma descida de água ao lado de um boulder
e segue na direção de algumas bananeiras a frente. Depois das primeiras
bananeiras segue na direção da montanha caindo um pouco para a direita até encontrar
novamente a descida de água, onde há um grande bloco no meio dela. Passa pela
esquerda do bloco e vai subindo essa descida de água até chegar na parede.
Depois segue margeando a parede para a esquerda até chegar em uma parte mais
aberta com um bambuzal. Contorna o bambuzal e continua perto da parede
encontrando um caminho por dentro da vegetação. Passa por uma pequena subida
até uma parte mais aberta. Nesta parte o começo da parede começa a ficar mais
positivo formando um rampão. No final desse espaço mais aberto, onde a
vegetação começa a fechar o caminho, verá as chapeletas da via começando onde a
parede fica mais vertical após a subida do rampão.
Descrição da Via
A Via começa em um rampão de pedra de II, mas a parede logo
fica vertical. Há um pequeno trecho de III até o começo de um veio de cristais.
A partir daí a via continua com agarras variadas. Buracos, crocas, lacas
pequenas e grandes, frisos, grandes batentes. Uma variedade grande de agarras
solidas. Fazendo com que tenha que ler bem os lances, já que são muito
diferentes dos lances de escalada mais comuns da região. Essa primeira enfiada
é a mais bonita da via. Já vale a pena ir só para fazer essa enfiada. Essa
linha foi um achado e torna a via uma das mais bonitas e interessantes de
Niteroi/Maricá.
A segunda enfiada é uma diagonal forte para a direita
caminhando sobre um extenso veio de cristais.
A terceira enfiada é a mais difícil da via, com grau
sugerido em VIIc. São longos trechos em agarras bem pequenas até a parada que é
sobre outro pequeno veio de cristais.
A quarta enfiada já começa tendo que vencer um teto com um
pequeno trecho bem forte.
A quinta enfiada segue por agarras pequenas, porém a parede
é mais positiva aqui, fazendo com que o lance fique mais fácil, em torno de V.
A via termina em um ótimo platô de vegetação bem confortável.
A sexta enfiada segue em uma leve diagonal para a direita em
trechos com grandes buracos, agarras e aderência. Após um trecho exigente de
aderência a via fica bem mais positiva e fácil, continuando assim até o final.
No final dessa enfiada é possível ver bem a grande contenção. A contenção é uma
grande grade de aço bem alta (uns 8 metros), presa
por grandes cabos de aço e grampos gigantes. Também há uma grande tela sobre
parte. Uma construção bem interessante de se ver em uma escalada. Este é o
último ponto que se recomenda descer por rapel
para não prejudicar a vegetação. A partir desse ponto buscar chegar até
o cume e descer pela trilha principal da montanha.
A sétima enfiada segue pela esquerda contornando a tela da
contenção e termina logo após um conjunto de bromélias.
A oitava enfiada segue em trechos simples de II até uma
parada em grampo simples em uma parte já bem positiva.
A nona enfiada segue
para a direita em direção a parte de trás da grande grade de contenção, passa
entre o começo da grande e seus cabos de suporte, contorna um mar de bromélias
pela direita subindo até chegar um um bloco. O último grampo da via está sobre
esse bloco. Acima há um trecho extenso de capim alto, porém fácil de passar,
até o cume.
Saída da via
Seguir pelo capim alto em direção ao cume, passando por algumas rochas