Por Leandro do Carmo
Esse é o relato da Nereida, grande escaladora aqui do Rio, mandando um BigWall na Cachoeira do Tabuleiro. Se tem alguém que planeja o seu crescimento no esporte, é ela! Curto muito!!!! Confira esse grande relato. Abraço e valeu Nereida!!!!!
ESCALADA NA CACHOEIRA DO TABULEIRO – Climbing BigWall Style
Por Nereida Rezende
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(Se aproximando da parede) |
Eu amo escalar, como a maioria das pessoas que vão ler este post.
A gente gosta de expandir nossos limites e curtir a natureza. Depois
de acabar o mestrado em matemática, tirei 6 meses de licença do
trab pra poder investir na minha escalada. Escalar no Tabuleiro eu
queria muito! Via as fotos!! Queria ficar dias inteiros do lado da
cachoeira!! E incrementar meus conhecimentos de bigwall, que é uma
escalada que dura mais de um dia e geralmente em paredes de graus
altos.
A equipe e a preparação
Passando uma semana no Cipó e visitando Conceição de Mato
Dentro pra fazer boulders, eu assuntava geral pra ver como eu podia
viabilizar minha ida no Tabuleiro. Tinha que ir com alguém mais
experiente, um guia que conhecesse o caminho, que desse conta das
questões logísticas, de 7c de parede e artificial de buraco de
Cliff valendo oitavo e nono.
Na escalada eu estou buscando a
certificação e encaro como outro mestrado, então faço disciplinas
de todas as modalidades com os melhores mestres que encontro. Eu
também procuro estar junto de pessoas com vibrações de amor e
gratidão. O Leandro Iannotta (Mr. Bean) eu tinha conhecido no Cipó,
um tempo atrás, na base da Lamúrias. Eu estava cedo na base com
todo meu material esperando meus amigos pra me darem seg e o Mister
Mestre passou, se oferecendo pra me assegurar, já falando logo que
botava fé em mim de passar o lance. Eu já confiava nele quando
soube que ele estava começando a trabalhar como guia para a escalada
no Tabuleiro. Eu fui no Açaí da Serra e falei pra ele que queria
ir. O Mister queria fechar esse acontecimento tanto quanto eu! E o
Michael MitoSan tava nessa procura também, ávido só por isso! Cada
um agradecendo em silêncio um aos outros por permitir que a
realidade tão desejada colapsasse, tudo dando certo! (figura 2 – a
equipe no platô de bivaque, 100 metros acima do chão)
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A equipe no platô de bivaque, 100 metros acima do chão. Da esquerda pra direita, Nereida, Michael e Leandro Iannotta
Eu já estava treinando pra paredões de sétimo grau. Eu tinha
acabado meu programa de sexto-sétimo grau na Companhia da Escalada,
com Secundo, Gallotti, Waldo e Lagartão (vias do Rio). Meus treinos
nas semanas anteriores à escalada no Tabu foram fazer de 100 a 150
metros de vias de 7c, 8a umas quatro vezes por semana e eu conseguia
isso dando várias entradas em vias esportivas. Meus treinos foram no
Cipó-MG, Barrinha-RJ e 2000-RJ.
Eu, do Rio e o Michael, de BH, chegamos num domingo à noite do
início de dezembro no Abrigo G3, ponto de encontro. O Mister, que
mora no Cipó, nos encontraria ali no dia seguinte, 8h. Fomos pra
Conceição no meu carro. Precisa um termo de autorização da FEMEMG
pra escalar no tabuleiro e termos de risco.
Primeiro Dia de Escalada
A caminhada até a base dura mais de 1 hora. Estávamos pesados,
tínhamos 5 cordas, costuras, proteções móveis, jumares, estribos,
material para dormir e comida para 2 dias. Fizemos a Via Hidronotopo,
que tem como desfrute 1 diedro de 7b em móvel, esticões aéreos de
7b e 7c e um largo de artificial A1 em buraco de cliff que vale
oitavo, sendo o resto dos outros dois largos de sexto grau também
lindos! Depois da caminhada vai subindo por umas pedras
escorregadias, pega água, 3 litros pra cada, sobe uma fenda de
quinto em móvel, reboca as mochilas, faz uma horizontal e chega na
base do lindo diedro de 7b em móvel. O Mister guiou, eu fui de
segundo escalando e tirando as peças e encadenei!!, aproveitando bem
os descansos!
(Foto – diedro de 7b em móvel, Leandro Iannotta
guiando)
Quando cheguei na parada já armamos de eu guiar o quinto em móvel
seguinte até o platô na seg do Mister que ao mesmo tempo rebocava
as mochilas, com a ajuda do Michael lá embaixo. Eu cheguei no platô
e fixei a corda. Eles vieram jumareando. Chegamos com tudo no platô
a 100 metros do chão. Então nessa primeira parte da escalada já
deu pra entender a questão de como demora escalar e ter que subir
bastante peso pra cima. Ainda de tarde deu tempo do Michael guiar a
enfiada seguinte ao platô, um 7b esportivo lindo, na pedra vermelha
do Tabuleiro!!, com final tendo que dar uma passada de cliff de
buraco e artificial em móvel! Recentemente o Jahjah liberou esta
passagem e deu 9a/b.
(Foto: Michael começando o esticão de 7b esportivo com final em artificial).
Nosso plano inicial seria o mister ir limpando e já guiar e
deixar encordada o próximo esticão, de 7c, mas ele decidiu fazer
isso no dia seguinte então eu pedi pra limpar o 7b. Liiiindo!! Mais
escalada linda durante o dia adorável ao lado da cachoeira!! Curti a
escalada, faltou eu isolar o lance inicial de entrada no esticão,
mas deu pra artificializar. Linda parede vermelha e negativa!! Pegas
ótimas e regletes, pedra aderente!! Desfrute!! No final do esticão,
quando chegou o artificial, eu jumariei. Eu achei que o Mich mandou
muito bem guiando este esticão exigente!! Eu limpei levando uma
corda retinida clipada atrás do bouldrier. O mister fixou a ponta de
baixo dessa retinida na parada do platô e nós fixamos a outra ponta
lá no final do 7b, deixando o esticão encordado. Deixamos a segunda
corda também fixada na parada de cima e descemos com a outra ponta
pra fixar na parada do platô, assim teríamos duas cordas para
jumariar no dia seguinte até o ponto mais alto que chegamos na
parede. Nós usamos o grigri para descer pela corda fixa. Uma vez
todos no platô novamente, caminhamos um pouco para a direita para
uma parte mais ampla onde fizemos uma janta de macarrão com
calabresa, cebola, alho e queijo, em um fogo cercado por pedras e
fomos dormir embaixo das estrelas, com isolante e saco de dormir.
Segundo Dia
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Nereida de segundo no esticão de 7c esportivo |
Acordando com o sol, fizemos um café e refeição com pão, mel e
queijo e fomos ao trabalho! rs Íamos levar só a mochila menor com
água e materiais para o dia. A estratégia do ataque já tinha sido
conversada, explanada e entendida durante o jantar e café: Todos
jumariaríamos o esticão de 7b encordado, Mito levando a mochila. O
mister foi na frente e eu e o Mich pudemos ir cada um em uma das
cordas. (foto 5 – Leandro Iannotta laboring tuesday morning,
trabalhando terça de manhã)
Foi muito difícil sair da parada jumariando na horizontal até
pegar a parte vertical da corda, porque as enfiadas da Hidronotopo
são todas bastante diagonais. Nessa hora você tem que confiar no
seu equipamento, as cordas são muito exigidas, você vai indo e
vendo elas raspando nas arestas!! kkkk Quando eu cheguei na parada, o
mestre já tinha começado sua guiada do 7c na seg do Michael. Eu
limparia, escalando. Como eu estava adorando poder escalar todos
estes lindos esticões! Era bem negativo e tinha muitas passadas em
agarras pequenas entremeadas de maiores. Liiiiinda escalada nas
pedras vermelhas, tem textura de arenito, não sei qual a pedra de lá
do tabuleiro, mas é uma delícia!!
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Esticão A1 também vale 8b/c em livre, guiado pelo Mister |
O mister deu uma rebocadinha no início, que era mais difícil,
incrível como o mister sabe dar a dose certa de tudo! Ele tem uma
medida exata (mais pra farta!! rs) de generosidade e incentivo, ele
chama pra gente estar num nível profundo de CONSCIÊNCIA!
“Acrediiita! Com consciência!! Incríiiiivel!!” São as frases
que ele mais fala!! What amazing days! Living in THE PRESENT! Então
era eu chegando de ter escalado o largo de 7c por uma corda e o Mito
chegando jumariando pela outra com a mochila. Confraternizamos os 3
na parada e o mestre já saindo pro esticão A1 na seg do Mich. Eu e
o Mich jumareamos este esticão, cada um em uma corda. A chegada na
parada sempre era brindada com cumprimentos dos parceiros. Estávamos
os três muito FOCADOS todo o tempo!
O próximo esticão era de sexto grau, com proteções fixas. O
Michael guiou. No final estava molhado por mais de 5 metros até
chegar na parada, bem no crux do esticão. O mister tentou passar
esta parte também, em livre e artificializando. Teve uma queda, mas
conseguiu chegar na parada. A minha progressão e do Mich nessa
enfiada foi emocionante, porque há vários pêndulos de big wall,
inclusive pra quem estava limpando (eu). Depois de tomar 2 pêndulos
eu usei o procedimento de pêndulo controlado que eu aprendi com o
Daflon na Waldo, eu me acalmei assim, porque eu já estava abalada,
haha. A última enfiada também estava molhada. Tocava pra mim, mas
eu já fui falando logo que meu nível saiadim era 2 e nesse nível a
gente não guia no molhado! Ahaha Só que o nível 3 e 4 pra cima,
que estavam do meu lado, tentaram passar de todas as maneiras. Que
isso meu? Tava limo na pedra, tava uma cachoeira fraca caindo lá de
cima molhando dia e noite aquela passagem... eu não queria
desentimular eles ali tentando subir no fator dois, fiquei bem colada
na parede, mas confesso que fiquei aliviada depois que eles
desistiram, não antes de tentar até conquistar uma variante kkk,
tudo fanático!!
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A descida |
A descida foi linda! Verdadeiramente há o comprometimento de
confiar nos seus equipamentos, principalmente nas cordas. Você vai
descendo naquela corda única e vai vendo ela raspando na aresta mais
proeminente... e pra chegar na parada, tem que puxar o jumar e se
puxar para frente, porque todos os esticões da parede são em
diagonal. Pra chegar na parede também sempre tem uma aresta maior
onde a corda raspa! Tem que manter o sangue frio!!
Então dormimos mais uma noite no platô. A mesma comida boa, o
céu estrelado, e estávamos tão integrados como equipe que dormimos
em formação de avião, flecha!! No dia seguinte, depois de acordar
curtindo, tomar café e arrumar tudo, fizemos os rapéis restantes,
descendo do platô, tomamos um banho no poço revigorante, fizemos a
caminhada de volta a portaria do parque e pegamos o carro. Teve a
parada pro pastel e cerveja no tabuleiro mesmo e a volta pro cipó.
Na chegada no Abrigo 3, o Magrão veio nos receber e foi o primeiro a
ouvir nossas histórias, ver as fotos, compartilhar as experiências
que ele também teve no Tabuuu...
A Taissa me perguntou que dicas eu daria pras mulheres que desejam
fazer esta aventura. Eu acho que esta mulher tem que ser
independente, pró-ativa, fazer força, ter uma base de parede e
procedimentos e estar firme no sétimo grau, pelos menos! Tá ao
alcance de quem se dedicar um pouco! Tem que querer muito! Eles
chamam estes espaços protegidos e de difícil acesso de INTANGÍVEL.
Então não é banal, mas tá ao alcance de qualquer um/uma que
persiga com determinação.
Como diz o Mito: “Não tem um dia que eu não me lembre de
tudo!! " Dias perfeitos ".”