Por Leandro do Carmo
Escalada na Chaminé Gallotti
Data: 29/05/2021
Local: Pão de Açúcar
Participantes: Leandro do Carmo, Luis Avelar e Blanco P.
Blanco
Vídeo
Essa escalada fazia parte do nosso treino para escalar a Chaminé Cachoeiro, no Pico do Itabira. Na semana anterior, o Blanco e o Luis haviam feito a Chaminé Stop, mas eu não pude ir. Combinamos de chegar á Praia Vermelha, por volta das 8:30. Eu cheguei mais cedo, com o intuito de arrumar uma vaga para estacionar, mas não foi nada fácil. Acabei deixando o carro lá perto da mureta... Um pouco longe... Aproveitei para tomar um café da manhã e de lá, fui para o nosso ponto de encontro.
O Luis chegou em seguida e depois o Blanco. Com tudo pronto, seguimos para a Pista Cláudio Coutinho. Dali, caminhamos até a base. Optamos por fazer a primeira enfiada da Lagartão. A via Lagartão já foi considerada um das vias mais difíceis do Brasil e sua conquista foi muito arrojada. Já na base, nos arrumamos e o Blanco seguiu guiando num trecho mais exposto e com proteções móveis. Em alguns lances foi bem devagar... De baixo, já imaginava o que viria pela frente!
Depois de um tempo, o Blanco chegou à parada e foi minha vez de subir. A saída foi bem tranquila e logo entrei na primeira fenda de meio corpo, bem apertada. Há algumas agarras que ajudam na progressão. Um pouco mais acima, outro sistema de fendas grandes, meio que entalamento de corpo. Passado os pontos apertados, cheguei a um platô, achando que estava tranquilo... Dali, segui por uma pequena passagem mais horizontal para a direita, onde fiz um lance bem delicado, numa saída negativa. As agarras são bem sólidas, mas é um lance de força e técnica, bem aéreo. Com corda de cima, foi tranquilo. Passado o trecho, já conseguia ver o Blanco na parada. E dali até ele, foi bem tranquilo.
O Luis veio logo em seguida e na parada, aproveitamos para tomar uma água e o Blanco escalou mais uns 10 metros até o ponto onde faríamos o rapel até a Gallotti. Iniciamos o rapel que é meio rapel, meio escalada... Não é muito confortável, mas chegamos lá, estávamos entre a P2 e a P3 da Gallotti. Dali seguimos subindo com o Luis guiando. Subi por uma chaminé bem suja e alguns blocos encaixados bem bonitos, me lembrando o filme 127 horas... Alguns lances foram bem apertados. Uma grande aventura...
Escalamos tranquilos até a P5 da via. Estávamos próximos da Oposição da Meia Lua. O Luis saiu para guiar e passou um veneno na virada. Seguiu escalando e aí começaram os problemas. Quando ele saiu do nosso campo de visão, a corda não subia mais. Estava parada. Passamos um longo tempo esperando, pois ele poderia estar num lance mais delicado, mas nada... Resolvi ligar e ele me disse que a corda estava presa e não conseguia puxar e que estava numa posição ruim. Depois de alguns minutos, liguei novamente e ele havia prendido a corda. Então montei a segurança com o pedaço de corda que tínhamos e o Blanco saiu guiar o trecho e tentar liberar a corda para o Luis puxar.
Com isso, o tempo foi passando e a escalada que era para ser tranquila e terminar durante o dia foi ficando no limite. Quando o Blanco chegou à chapeleta após o lance da Meia Lua, eu subi. Cheguei mais acima e no lance de domínio para chegar à chapa, entrei de mal jeito e apoiei a costela meio de lado. Estava em um bico de pedra e o peso do corpo foi esmagando. Na hora, a dor foi grande, mas tinha que continuar. Na chapeleta, o Blanco subiu e aí descobrimos o porquê da corda estar presa: ela estava por cima de um degrau, fazendo um “L”. Não iria correr nunca naquela posição. Liberada a corda, o Luis montou a parada num bico de pedra e dali seguimos subindo.
Quando cheguei à parada, senti que não estava nada bem. Mas a maior preocupação era outra: terminar a escalada com luz do dia. Antes de chegarmos ali, até cogitamos descer por conta do horário, mas também não seria nada fácil. Cometemos um erro gravíssimo: só tínhamos uma lanterna! Ou era subir rápido, ou escalar a noite... Nossa opção foi subir rápido, claro!
Depois de beber um água e comer alguma coisa, o Blanco saiu guiando. Na parada, fui logo em seguida. A chaminé já começa apertada e não é simples. Iniciei um pouco mais para dentro e depois fui saindo, passei pela chapeleta e segui tocando para a direita, numa diagonal, até chegar numa espécie de banco confortável. Dali, já via o Blanco na parada. Faltava pouco!!!!!
O Luis veio em seguida e pedi para ele parar um pouco mais abaixo. Guiei esse último trecho e passar da parede para a entrada foi um lance bem exposto. Dominei um degrau, até alcançar uma pequena árvore na esquerda. As pessoas maiores talvez tenham mais facilidade. Dali, subi pela trilha até onde achei um local mais confortável para dar segue ao Blanco, que veio logo em seguida. Foi chegar, dar uma arrumada na corda e a noite foi chegando. Em cima do laço!
O Blanco passou por mim foi direto para cima. O Luis veio depois e quando ele chegou onde estava, recolhi o que sobrou de corda e subi também. Tudo resolvido! Arrumamos a corda já completamente no escuro e com ajuda da luz do celular. Subimos mais um pouco até chegar á trilha e poucos metros depois, já estávamos no cume do Pão de Açúcar. Descemos de bondinho e paramos no Árabe para lanchar. Foi uma escalada em tanto. Uma escalada de aventura. Um excelente treino para o Itabira... Mal sabia que a minha costela daria trabalho...
Curiosidades sobre a Chaminé Gallotti:
Matéria publicada no site da BBC (https://www.bbc.com/portuguese/internacional-45476624)
O mistério da múmia da Gallotti, que intriga estudiosos quase 70 anos após ser achada no Pão de Açúcar
O mistério teve início na manhã de 19 de setembro de 1949. Lá pelas sete da manhã, cinco amigos - Antônio Marcos de Oliveira, Laércio Martins, Patrick White, Ricardo Menescal e Tadeusz Hollup - se encontram na Praça General Tibúrcio, na Praia Vermelha, Rio de Janeiro, para escalar o Pão de Açúcar.
Não era uma escalada como outra qualquer. Em vez de simplesmente subir o paredão de 396 metros de altura por uma das três vias de acesso já desbravadas, os montanhistas, membros do Clube Excursionista Carioca (CEC), decidiram explorar uma quarta trilha, ainda mais perigosa e arrojada que as anteriores.
"Durante anos, foi considerada a mais difícil escalada do montanhismo brasileiro."
Ainda na clareira que dá acesso ao paredão, Hollup, então com 19 anos, começou a desconfiar de que algo estava errado quando viu um sapato de mulher, deteriorado pelo tempo, em plena Mata Atlântica.
"Será que, daqui a pouco, vamos encontrar a dona do sapato?", perguntou ele, em tom de brincadeira.
"Mesmo assim, não dei muita importância. Joguei o sapato fora e continuamos a subir", explicou em sua última entrevista, dada ao programa Esporte Espetacular, da TV Globo, em 22 de outubro de 2017.
Tadeusz Hollup, o último dos desbravadores da chaminé Gallotti, morreu no dia 27 de agosto de 2018, aos 88 anos.
Havia um cadáver no meio da escalada
Alguns metros acima, Oliveira, o caçula do grupo, com 18 anos, já desbravava a encosta do morro. Dali a pouco, por volta das 11h30, se deparou com um cadáver, preso pela garganta, numa fenda estreita da rocha, apelidada de "chaminé" pelos alpinistas.
Ao contrário do que se poderia imaginar, o defunto não estava em estado de putrefação e, sim, "mumificado".
Na mesma hora, berrou para os amigos: "Ó, tem uma pessoa morta aqui!".
Hollup e Menescal caíram na gargalhada. "Que história é essa?", quis saber Hollup, aos risos.
"Achou a dona do sapato?", fez graça Menescal. Os dois levaram na brincadeira. Mas Oliveira, não. Quando chegaram ao local, tomaram um susto daqueles. A coisa era séria mesmo.
Diante da "descoberta" macabra, os amigos resolveram suspender a escalada e avisar a polícia. A tão sonhada conquista da chaminé Gallotti - proeza alcançada só cinco anos depois, em 1954 - teria que ficar para outro dia.
Segundo a nota publicada na edição do dia 20 de setembro de 1949, do jornal O Globo, os restos mortais pertenciam a "indivíduo de cor branca, com 35 anos presumíveis, de 'compleixão' (sic) franzina e com 1,60 m de altura".
Ainda de acordo com o laudo, o defunto, que vestia um suéter e uma camisa sem mangas de algodão, não apresentava sinais de fratura, nem vestígio de bala ou facada. E o pior: não trazia documentos.
"Os legistas concluíram que o cadáver estava lá havia uns seis meses, pelo menos", relata Oliveira.
"Foi mumificado devido à maresia."
O químico Emiliano Chemello, da Universidade de Caxias do Sul (UCS), explica que a maresia pode ter ajudado, sim, na mumificação do cadáver. Isso porque o sal presente nela absorve a água, retardando processo de decomposição do corpo.
"Os antigos egípcios usavam um minério chamado natrão, rico em carbonato de sódio. Eles empacotavam o natrão, em pequenas bolsas, dentro do corpo da múmia, além de jogarem um punhado do minério sobre o cadáver. Quarenta dias depois, o defunto estava encolhido e duro", diz.
Que fim levou a 'múmia' carioca?
Apesar de toda a repercussão nos jornais da época, nenhum amigo, parente ou familiar apareceu no Instituto Médico Legal (IML) para reconhecer o corpo. De quem era o cadáver encontrado na chaminé Gallotti? Ninguém sabe. A identidade da "múmia", sete décadas depois, continua ignorada.
Rodolfo Campos, roteirista e diretor do curta A Múmia da Gallotti (2009), tem outra versão: "Por ser um homem vestido de mulher e ter os cabelos compridos, suspeito que fosse um travesti que, talvez, estivesse fugindo de alguém ou tentando se esconder na mata. Mas é impossível afirmar com certeza".
Será que, no fim das contas, o mistério da "múmia" carioca esconde um caso de transfobia?
Há quem sustente, ainda, a tese de que o corpo seria de algum morador de uma favela próxima, localizada entre o Morro da Urca e o Pão de Açúcar.
O historiador Milton Teixeira, da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (UERJ), rebate essa teoria. Ele explica que, naquele local, há uma caverna e que, nos anos 1940, morou ali um português que vivia da pesca e da venda de artesanato. Nos anos 1960, o tal eremita ganhou a companhia de um casal de retirantes cearenses.
"Em 1968, os militares ordenaram a saída dos três e hoje, na caverna, vivem apenas morcegos", arremata o historiador.
Outra pergunta intrigante: que fim levou a "múmia" do Pão de Açúcar? Tudo indica que, a exemplo das peças egípcias que faziam parte do acervo de 20 milhões de itens do Museu Nacional, teve destino trágico. A diferença é que, em vez de ter sido consumida pelas chamas de um incêndio, teria sido sepultada como indigente por falta de documentação e reconhecimento familiar.
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Algumas fotos da escalada
Excelente artigo. Que sufoco hein camarada, o que era para ser simples se tornou pesado. E a costela, faturou?
ResponderExcluirAinda bem que não, mas fiquei 1 més para me recuperar totalmente!
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