Por Leandro do Carmo
Trilha do Carteiro - Tiradentes - MG
Histórico da Trilha do Carteiro
Pelo seu aspecto geral, a Trilha do Carteiro foi planejada e construída com mão-de-obra escrava. Entre outras características apresenta encostas trabalhadas em pedra empilhada, pontes em pedra e passagens de madeira, o que revela a sua importância para a circulação de pessoas na época de sua construção. Pela rapidez com que se desenvolveram as vilas do ouro da época, a partir de 1700, sabe-se que São João del Rei e São José del Rei, por volta de 1730, já estavam bastantes desenvolvidas e eram pontos de comércio e trocas de mercadorias. Como o lado norte da Serra tinha várias fazendas para abastecimento das vilas, é provável que ela tenha sido construída neste período, com intuito de ligar esses locais pelo caminho mais curto.
A Trilha do Carteiro atravessa a parte mais baixa do maciço da Serra de São José, a 1200 metros e altitude. Em todo o seu percurso existem várias nascentes e alguns tipos de vegetação bem distintas, sendo a vegetação mais densa na parte baixa e a vegetação de altitude, já na parte alta.
Reza a lenda que havia um carteiro que - na condição de informante da Inconfidência Mineira – cruzava esta imponente Serra para levar correspondências, mas que terminou sendo morto numa emboscada armada por tropas da Coroa Portuguesa. No local onde supostamente esse carteiro foi morto, há uma pilha de pedras e uma cruz, na qual é chamada de túmulo. Os caminhantes que por ali passam, devem fazer um pedido e depositar uma pedra. O que a maioria das pessoas fazem é apenas um trecho de toda a trilha, mas que vale a pena!
Como chegar à Trilha do Carteiro
Vídeo da Trilha do Carteiro
Relato da Trilha do Carteiro
Depois de “turistar” pelos ruas e casarios antigos de São João del Rei e Tiradentes nos dias anteriores, faltava fazer uma das coisas que mais gosto: trilha! Existiam várias opções, mas a que se tornava viável era a famosa Trilha do Carteiro, na Serra de São José. Estávamos eu, meu filho João e o Jorginho. Era um desafio a parte, pois seria a primeira trilha com 10 km do João. Acho que daria conta!
Acordamos cedo, pois queríamos fazer a caminhada na parte mais fresca do dia. Já havíamos deixado tudo arrumado na noite anterior. Seguimos caminho até Tiradentes e nos encaminhamos pela rua que leva ao início da trilha. Já próximos, parei para perguntar e uma senhora confirmou o caminho. Andamos mais alguns metros e estacionamos o carro. De cara já foi possível ver uma placa indicando o início da trilha. Tudo bem organizado.
Iniciamos a caminhada em meio a bastante vegetação. Passamos por uma área alagada, mas devido a pouca chuva, estava tudo seco. Fomos ganhando altura lentamente e logo cruzamos uma cerca e pegamos mais uma leve subida. Olhando da cidade, a Serra de São José parecia tão distante, que era difícil acreditar que subiríamos por aquelas encostas. A medida que andávamos, ela se aproximava e era possível identificar o único caminho possível de subi-la, mas não conhecendo o caminho. Mais a frente, perdemos contato visual com a serra e passamos por mais uma placa informativa. Em poucos metros entrávamos no trecho do calçamento de pedras.
Esse calçamento construído pelos escravos me fez pensar o quanto o caminho já fora importante. Muito mais do que levar as cartas, esse caminho talvez tenha sido utilizado por tropeiros, levando mercadorias entre as vilas. O João estava indo bem e não reclamava. A partir desse ponto, ganhamos altura mais rapidamente, mas tudo tem seu preço. Passamos por uma porteira e uma gruta com a imagem de uma Santa. A vista que tínhamos desse ponto era algo surpreendente.
Um pouco mais acima, paramos em um fantástico mirante. Ali, fizemos nossa primeira pausa da caminhada. Aproveitei para fazer algumas imagens com o drone. Encontramos algumas pessoas que estavam subindo. Dali foi possível entender melhor o caminho que estávamos fazendo. Ficamos ali durante uns 15 minutos e voltamos a caminhar.Já estávamos bem próximos a passagem para a outra vertente. Andamos um pouco mais e entrávamos no trecho mais bonito do caminho até o momento. As rochas erodidas pareciam esculturas. As árvores do início davam lugares à pequenos e retorcidos arbustos. O solo era arenoso e em alguns pontos parecia aquela areia branca e fina das praias do Rio de Janeiro.
Começamos a descer e olhando o mapa do local, foi possível identificar a posição de algumas cachoeiras. Fomos atrás delas. De longe, identifiquei um amontoado de pedras com uma cruz, com certeza era o local conhecido como o “Túmulo do Carteiro”. Assim que chegamos nele, tratei de pegar uma pedra e coloca-la na imensa pilha, fazendo o meu pedido. Uma pequena pausa para fotos e continuamos descendo. Pegamos mais um trecho com calçamento de pedras. Reparei que esses calçamentos estavam sempre nos trechos mais suscetíveis a erosão. Já próximo dali, havia a marcação de uma cachoeira. Mas não ouvia barulho de água. Desci mais um pouco e passei do ponto. Voltei e fui procurando com mais atenção e achei uma discreta saída. Peguei-a e no fundo pequeno vale, corria um filete de água que descia até uma pequena piscina natural. Só ali que percebi que já estava na cachoeira! Só que cachoeira sem água...
Fiz um lanche rápido com o João e resolvemos voltar. Já estávamos na outra vertente da Serra. Na volta, fui procurando a entrada para a cachoeira do Carteiro e numa saída bem discreta, já próximo ao “Túmulo do Carteiro”, peguei uma leve descida. Já podia ver do alto uma pequena queda d’água. Aproveitei para tomar um banho e me refrescar um pouco, o calor já estava forte. Encontramos algumas pessoas que andavam pelo local, procurando a cachoeira. Não quis desanimar, mas falei que com o volume de água atual, não encontrariam nada.
Voltando a caminhada, subimos até o ponto das “esculturas de pedras” e optamos por ir até o “Mirante Central”. Como o calor já estava forte, fomos até uma área mais aberta onde havia uma pedra bem na borda, virada para Tiradentes. Mais uma daquelas vistas incríveis. Fiz mais algumas imagens com o drone e depois de um tempo descansando, iniciamos nossa descida. O calor já incomodava e descemos num bom ritmo, pois sabíamos que um pouco mais abaixo, teríamos sombra. O João seguiu firme na descida.
Já no carro, contabilizamos o quanto andamos e o GPS marcava 9,4 km, 4 horas 17 min e um desnível de 500 metros acumulado. Uma ótima caminhada, num dia bem agradável.
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