Por Leonardo Carmo / Carina Melazzi
20 a 29/12/2019
A Chapada Diamantina sempre fez parte dos meus planos até que a hora chegou. A Carina já tinha ido pra lá e feito algumas outras coisas, mas era a minha primeira vez.
Nosso planejamento foi feito meio que sem pensar muito, pois não tínhamos muita escolha. Era partir pra dentro ou deixar a folga de apenas uma semana passar e o arrependimento bater.
1º dia 20/12: Saímos de casa por volta das 17h e tudo parecia bem até que nos deparamos com um engarrafamento monstruoso logo na Linha Vermelha. Consultamos o GPS e teríamos mais de 3h de engarrafamento. Como a viagem seria muito longa, resolvemos voltar pra casa e esperar o trânsito fluir. A sorte foi que a gente ficou agarrado perto de um retorno.
Depois de ter passado o engarrafamento, por volta das 23h50, metemos o pé na estrada novamente. A missão seria puxada, 1.533 km até o nosso destino sem ter muito tempo para descanso.
2º dia 21/12: Já na madruga, paramos para comer alguma coisa e dar aquela esticada no corpo. Depois, já em território mineiro, por volta das 4h30 da madrugada, paramos em um posto de gasolina pra tirar uma soneca rápida de 40 minutos. Depois de um breve descanso, metemos o pé na estrada de novo e só pararíamos para almoçar na hora do jogo do Mengão (final do Mundial). Até que meu planejamento deu certo: conseguimos um restaurante de beira de estrada e paramos por volta das 14h. Esse foi o momento que descansamos mais. Ficamos ali até acabar o jogo. A partir daí foi o trecho mais cansativo da viagem. Faltava a metade do caminho e a pior parte da estrada.
Depois de umas boas horas, cruzamos a divisa MG/BA e a situação só piorou. Quanto mais a gente andava, mais a estrada piorava.
3º dia 22/12: Foi muito cansativo dirigir de madrugada naquelas estradas esburacadas. Cada buraco cabia a metade do carro. Depois de várias pequenas paradas pra esticar o corpo, chegamos em Mucugê por volta das 5h da manhã. Ficamos na Hospedaria da Lia. Um lugar simples, porém muito acolhedor e com um café da manhã excelente. A gente já tinha avisado que não tinha hora pra chegar, e a Lia super gentil ficou nos aguardando. Depois de literalmente desmaiar na cama, levantamos por volta das 7h pra tomar o café e partir pra missão do dia. Afinal, não fomos pra lá pra dormir rsrs.
Pegamos a estrada novamente e partimos pra Ibicoara, na Cachoeira do Buracão, que fica dentro do Parque Municipal do Espalhado. Lá só pode entrar com condutor cadastrado pelo parque. A gente teve que ir pra Associação de Guias de Ibicoara pra contratar um. Pra quem tem experiência, não há necessidade de guia, mas é uma imposição do parque. O condutor que foi com a gente foi o Tico. Cara super gente boa.
A Cachoeira do Buracão é bem bacana. A trilha é tranquila, super leve pra quem está preparado. Eles disponibilizam coletes para que você possa ir nadando até debaixo da queda. Mesmo você sabendo nadar, é preciso usar o colete. Até o Buracão, tem um rio com alguns poços e algumas outras cachoeirinhas. Da pra ver o Buracão por cima também. Uma curiosidade, pra quem conhece a escada da casa de Santos Dumont em Petrópolis: lá tem uma réplica.
Depois de visitar o Buracão, voltamos pra Mucugê e descansamos um pouco.
Sei que seria mais fácil logisticamente ficar em Ibicoara no primeiro dia, mas mudamos os planos em cima da hora rsrs.
O calor estava forte e a possibilidade de tomar uma banho em um dos poços da circuito nos deixou animados. A trilha também é tranquila pra quem tá preparado. A navegação fica difícil na parte que segue pelo leito do rio, mas não é difícil encontrar grupos nas trilhas da Chapada. Diria que 99% das pessoas fazem as trilhas com guia local. Então a gente se valeu dessa estatística pra poder pegar uma carona e seguir pelo caminho mais tranquilo. Dependendo do volume de água do rio, esse trecho pode ficar complicado, por isso nem sempre somente o GPS é suficiente. O faro tem que estar aguçado. Depois de chegarmos na Cachoeira dos Funis, foi só desfrutar de um belo banho e continuar a trilha pra fechar o circuito. No trecho final o calor tava mais intenso.
Depois da travessia feita, voltamos pra cidade para tomar um banho, almoçar e descansar um pouco. Afinal, a nossa última noite de sono tinha sido no dia 19.
5º dia 24/12: Véspera de Natal e a gente precisava decidir o próximo destino. A essa altura, o roteiro inicial já tinha ido pro espaço. Decidimos então partir pra Igatu. Sábia decisão. Antes, passamos no mercadinho e fizemos umas comprinhas. A gente precisava fazer a nossa ceia de Natal.
Pegamos estrada e 25 km depois estávamos na encantadora Igatu, uma vila super pacata e acolhedora. Ficamos acampados no Xique Xique. Depois de montar acampamento, saímos pelo vilarejo atrás de uma cerveja gelada. Paramos num boteco chamado Bar Igatu “do Guina”. Fomos super bem recebidos. A cerveja estava no ponto. Ficamos ali sentados na calçada bebendo uma e apreciando o lugar. Conhecemos o Guina, dono do bar. Um coroinha muito simpático. Ele tinha sido garimpeiro e em muitas prosas que tivemos, nos contou muitos causos. Histórias essas que não se encontram em livros e nem na internet. Conhecemos também um de seus filhos, o Natal. Eles foram tão gente boa que nos convidaram para passar na casa deles na hora da ceia. Isso você só encontra no interior.
A nossa ceia de Natal foi no camping mesmo. Fizemos uma gororoba das boas. Tava gostoso pra caceta. Tinha macarrão, linguiça, pimentão, tomate, cebola e muita satisfação de poder mais uma vez fazer a ceia na simplicidade e perceber a riqueza explícita nisso.
6º dia 25/12: Já era Natal e resolvemos encarar uma trilha. Fizemos a Rampa do Caim, uma trilha bem exposta ao sol e por isso fica mais exigente. Foram aproximadamente 16 km embrenhados no cerrado baiano. O caminho segue pela antiga trilha do garimpo. A navegação em alguns trechos pode ser uma armadilha. O visual do final é sinistro. Vistas para o Vale do Rio Paraguaçu e pro Vale do Pati. Passamos por leitos de rios secos e algumas antigas tocas de garimpeiros. Na época do garimpo devia ser foda.
O trecho de volta foi sinistro. Um calor que nunca tinha sentido antes em trilhas. A gente só conseguia sombra quando passava nas antigas tocas. Tudo isso valeu a pena. Estar no meio do cerrado baiano no verão e no Natal não tem como explicar.
Depois de concluir a trilha, paramos no bar do Guina e bebemos uma. Depois fomos pro camping fazer nosso almoço. Ainda deu tempo de aproveitar o fim da tarde com um banho de rio no poço da Madalena. Mais tarde, voltamos pro bar do Guina onde proseamos com ele e bebemos mais umas geladas.
7º dia 26/12: Acordamos cedo, e fiquei com a missão de comprar pão pro nosso café. Encontrei uma casa que vendia pão caseiro. R$ 0,80 cada pão. Uma delícia. Essa casa fica perto do bar do Guina. Depois de tomar café da manhã, levantamos acampamento e partimos pra Andaraí. A ideia era pernoitar por lá, mas como não nos identificamos muito com a cidade, metemos o pé pra Ibicoara novamente. Chegando na cidade, procuramos uma hospedagem e partimos pra cachoeira de Licuri. Pra acessar a cachoeira tem que pagar R$ 6,00. A trilha até a base é curta, porém bem íngreme. O dono da propriedade é um senhor chamado Nilson. Ele é uma pessoa super animada e comunicativa. Ele vende refrigerante, pastel de jaca etc. Da pra acampar por lá também. Se eu não me engano, o valor tava R$ 25,00. Depois de prosear bastante com o Sr Nilson, metemos o pé pra cidade. Já de noite, saímos pra beber uma e lanchar. Como de costume, fizemos amizade com um cachorro, ou melhor, uma cachorra vira-lata super simpática.
8º dia 27/12: Na noite anterior, descobrimos que havia uma cachoeira perto do centro, a uns 4 km
aproximadamente de onde a gente estava. A cachoeira do Rio Preto não é muito frequentada. A galera turistona quer fazer só o que todo mundo faz, mas a gente procura fazer tudo, mesmo o que não tem “apelo turístico”. Andar pela Chapada é meio complicado, mesmo com GPS. Tudo parece ser meio confuso, mas é só calibrar bem o faro antes de sair. A trilha pra essa cachoeira é gostosa. Um pouco puxada, mas gostosa. O calor tava forte também. Na parte final, é preciso cruzar o rio. Pra nossa surpresa, o rio estava praticamente seco. A água corria por baixo do leito e brotava lá na frente, quase no ponto onde é feita a captação que abastece a cidade. A cachoeira estava praticamente seca, só corria um filetinho de água. O poço estava com água, mas com o nível bem baixo. Deu pra gente tomar um banho e ficar ali curtindo o lugar. Só tinha a gente. Uma beleza.
aproximadamente de onde a gente estava. A cachoeira do Rio Preto não é muito frequentada. A galera turistona quer fazer só o que todo mundo faz, mas a gente procura fazer tudo, mesmo o que não tem “apelo turístico”. Andar pela Chapada é meio complicado, mesmo com GPS. Tudo parece ser meio confuso, mas é só calibrar bem o faro antes de sair. A trilha pra essa cachoeira é gostosa. Um pouco puxada, mas gostosa. O calor tava forte também. Na parte final, é preciso cruzar o rio. Pra nossa surpresa, o rio estava praticamente seco. A água corria por baixo do leito e brotava lá na frente, quase no ponto onde é feita a captação que abastece a cidade. A cachoeira estava praticamente seca, só corria um filetinho de água. O poço estava com água, mas com o nível bem baixo. Deu pra gente tomar um banho e ficar ali curtindo o lugar. Só tinha a gente. Uma beleza.
De volta à cidade, arrumamos nossas coisas, catamos um lugar pra almoçar e partimos para o alto da chapada, um povoado chamado Mundo Novo. A gente já tinha passado por lá quando foi fazer o Buracão. A nossa ideia era ter ficado no povoado chamado Baixão, mas não deu.
Chegando no povoado, encontramos um cara muito bem vestido. Ele estava com a camisa do Mengão. Por sinal, naquela região, assim como no resto do país, a maioria é flamenguista. Estava me sentindo em casa rsrs. Perguntamos pra ele onde ficava o alambique do Toninho. Esse alambiquei foi indicado pelo Sr Nilson, da cachoeira do Licuri. Depois de deixar as coisas na hospedagem, partimos pro alambique. Aí foi só alegria. Depois de boas prosas, fomos conhecer o Lagão, que fica no final do povoado do Baixão. Lá tem um sujeito chamado Marão. O cara é de uma espontaneidade absurda. A propriedade dele da acesso à trilha da Cachoeira da Fumacinha/Véu da Noiva e Lagão. Ele vende cerveja, caldo de cana, água, cachaça etc. Também é possível deixar o carro lá.
Depois de conhecer o Lagão voltamos até a propriedade do Marão e lá conhecemos a filha do Toninho, dono do Alambique. Ela é guia local e se chama Siara Prado. Nem preciso falar que a conversa rendeu, né?
9º dia 28/12: No nosso último dia na Chapada resolvemos fazer a trilha da Cachoeira da Fumacinha. Segundo relatos, essa é a trilha mais difícil em termos de navegação da Chapada. Dependendo do nível de água o caminho fica muito complicado. Em alguns trechos dá pra ir margeando por uma trilha, mas a maior parte é feita por dentro do rio.
A gente levou um GPS. Ir navegando com Wikiloc é praticamente impossível. Da metade pro final, o GPS do celular não funciona.
Seguimos então pela trilha farejando os rastros. Ora a gente tava na terra, ora a gente tava andando
pelo leito do rio. Cada vez que a gente avançava, complicava mais a navegação. Mesmo com GPS estava foda, pois toda hora a gente tinha que cruzar o rio e a gente só conseguia saber se tava na linha da trilha andando. Parado não dá pra se orientar usando GPS.
Quando a gente chegou na metade da trilha, a gente resolveu pegar uma carona com um casal que estava com um guia local. Assim a gente conseguiu andar mais rápido sem ter que ficar fuçando o caminho.
Depois de umas horas de caminhada, chegamos até a Cachoeira da Fumacinha. Não tem como descrever. Só indo lá pra saber como é maneiro. No caminho, encontramos duas cobras que estavam passeando pelo leito do seco do rio.
Na cachoeira tem um poço bem grande com água gelada. A gente não resistiu e foi pra dentro dar um mergulho. Banho gostoso e merecido. Como eu sou intolerante à água fria rsrs, entrei e saí rápido. A Carina ficou nadando por mais tempo e foi debaixo da queda curtir o visual.
Depois de curtir aquele fantástico lugar, voltamos até a propriedade do Marão e nos despedimos proseando e bebendo um caldo de cana bem gelado.
Na volta, passamos na casa do Sr Joel, onde almoçamos. Já tínhamos encomendado a comida. Voltando pra onde a gente estava hospedado, curtimos uma cerveja que havíamos comprado lá na cidade e nos preparamos para a nossa viagem de volta.
10º dia 29/12: Acordamos cedo e fomos até a cidade tomar um café da manhã e abastecer o carro. Daí foi meter o pé na estrada. No caminho, passamos por uma cidade chamada Ituaçu. Tava tendo feira de rua e parecia que a cidade toda estava lá. A gente deu uma parada e foi comer pastel com suco da fruta. Bebi suco de maracujá do mato por R$ 1,00. Estava no paraíso rsrs.
Depois de curtir a feira, continuamos viagem e aí foi dirigir, dirigir, dirigir...
11º dia 30/12: Já em MG, perto de Leopoldina, paramos num posto de gasolina pra tirar uma sonequinha. Isso por volta das 2h da madruga. Ficamos ali até umas 4h e continuamos viagem. Sei que chegamos em casa por volta das 11h30 da manhã.
Fiquei zumbizando o resto do dia inteiro rsrs. Foi sofrido, mas foi bom. Faria tudo novamente rsrs.
+ de 3.500 km percorridos. Em estrada de terra, acho que percorremos uns 200 km aproximadamente.
Abrigo de Montanha Xique Xique (Igatu): (75) 98148-5070
Hospedaria da Lia (Mucugê): (75) 98217-1639
Guia que contratamos para o Buracão: Guia Turistico Gercilio Caires (Tico) https://www.facebook.com/gercilio.caires.1
Guia para a Cachoeira da Fumacinha que conhecemos lá no Marão: Instagram @siaraprado https://www.instagram.com/siaraprado/?hl=pt-br
Alambique: chegando no povoado Mundo Novo, é só procurar pelo Alambique do Toninho.
Perfil do wikiloc: https://pt.wikiloc.com/wikiloc/user.do?id=1945151
Instagram: https://www.instagram.com/pitbullaventura/
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