quarta-feira, 10 de outubro de 2012

Fator queda 2 - Um exemplo no Babilônia

Por Leandro do Carmo

Em uma escalada que fiz, presenciei uma queda fator 2 na saída da primeira parada da via IV Centenário, no Babilônia. A queda não foi literalmente um fator 2, pois a parede não era totalmente vertical, o guia deu uma rolada e a corda ainda correu um pouco antes do participante travá-la totalmente, dissipando assim um pouco da força do impacto. Mas para efeito de exemplo servirá perfeitamente. O assegurando ainda levou um grande ferimento em uma de suas mãos. Eles tiveram que abortar a escalada e o participante teve grande dificuldade para rapelar.

A princípio de conversa, vamos entender esse tal fator de queda. Fator queda é a relação entre o comprimento de corda corrido entre guia e o escalador que está fornecendo sua segurança,  dividido pela altura da queda do guia (o dobro da distância deste até a ultima costura que ele fez). Ou seja: FATOR QUEDA=ALTURA DA QUEDA/COMPRIMENTO DA CORDA DO ASSEGURANDO ATÉ O GUIA.

Veja abaixo a ilustração:

Fonte da ilustração: http://www.marski.org

O Fator de queda 2 é o máximo que se pode chegar, em escaladas normais, dessas que a gente está acostumado a fazer, haja visto que a altura de uma queda não pode exceder 2 vezes o comprimento de corda utilizado. Normalmente um fator de queda 2 pode ocorrer apenas quando o guia, na queda, passa do ponto de onde está recebendo segurança. Quando é feita a proteção, a distância da queda em função do comprimento da corda é reduzida e o fator queda cai abaixo de 2. Porém, há casos em que o fator pode ser superior a 2, tornando-se fatais, como por exemplo, as subidas em vias ferratas, utilizando solteira comum como único ponto de segurança.

Mas o que isso representa? A UIAA possui uma norma bastante severa para as cordas de escalada vendidas comercialmente. Em um de seus testes, a UIAA simula quedas com altos fatores até que a corda arrebente. Com isso, uma corda com característica 8 Falls UIAA, significa que ela "aguenta" até oito quedas num alto fator, antes de arrebentar. É claro que existem mais detalhes sobre esses testes e a conclusão não tão simplista como a descrita acima, mas para fins teóricos, podemos utilizá-la desta forma.

Vamos tentar explicar aqui o ocorrido e como se poderia ter evitado, ou pelo menos, minimizado os riscos dessa queda.

Após a primeira parada, o guia saiu para a segunda enfiada e quando foi costurar o primeiro grampo, escorregou, jogou o corpo para trás, passou pelo participante e, quando a corda esticou, o participante a travou, mas não o suficiente, correndo ainda alguns metros até que fosse travada totalmente. Consequência: mão do participante muito machucada e guia com costas e mão ralada. A parada era dupla e eles estavam usando uma costura como direcionadora.

Dava para ter evitado a queda e a mão machucada do participante?

A queda não. Mas daria para diminuir o fator se o guia tivesse subido e costurado o grampo logo acima da parada e voltado para montá-la, assim, ao sair da parada ele faria o lance em “top rope”.

Nos casos em que o guia é pesado, por vezes, só a força do participante não é necessária para segurar a corda nesses tipos de queda. Seria preciso um maior poder de frenagem. Nesse caso, o participante poderia ter usado dois mosquetões no ATC, a fim de aumentar o atrito e conseguir segurar mais a “corda”, além de poder, também, usar luvas, o que evitaria aquela queimada na mão.

Outra causa dessas queimaduras nas mãos é falta de atenção na hora da segurança. Achar que o lance é fácil de mais e que guia não cairá, pode fazer com que o assegurando fique com a mão leve e que na hora da queda, ele só perceba depois que o corda estiver correndo. Parar a corda depois que ela começa a correr é muito mais difícil e com certeza terá a mão queimada. Mesmo utilizando freios automáticos como o grigri, é imprescindível a atenção, pois a corda ainda correrá um pouco até ser travada por completo.

O mosquetão direcionador (uma costura também pode ser usada) serviu para que o participante não fosse puxado para baixo, tendo a força da queda não se concentrado no conjunto ATC/loop do baudrier, e consequentemente, na parada equalizada. No caso apresentado, ele foi puxado para cima e o direcionador, absorveu o impacto em apenas uma proteção da parada. Talvez não seja o mais seguro, pois nesse caso, a força da queda se concentrou em apenas um grampo da parada, se não tivesse o direcionador, ela se dissiparia na parada equalizada, além do conjunto loop/baudrier. Porém, essa é a configuração mais utilizada e mais cômoda também, visto que seria melhor para o assegurando ser puxado para cima, do que para baixo.

De uma maneira geral, seguem alguns conselhos:

1 – Sempre que possível, costure o lance acima da parada antes de montá-la, evitando assim um fator 2 numa possível queda, após iniciar a próxima enfiada;
2 – Caso o guia seja pesado, utilize dois mosquetões no ATC para aumentar o poder de frenagem;
3 – Utilize, também, luva na hora da segurança;
4 – Nunca tire a mão da corda para liberá-la;
5 – Esteja sempre atento, o guia pode cair a qualquer momento, mesmo os mais experientes.
6 – Use Capacete.

6 comentários:

  1. acho que as soluções postadas são pouco funcionais. 1) ninguem escala com luvas, então levar uma luva pra dar segurança é pouco provável (nunca vi ninguem levando luva) 2) na maioria das veces nem da pra ir até a seguinte costura e voltar pra paarada dupla

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    1. Olá, que pena que não se identificou, assim não poderemos discutir o tema. Acho importante todas as opiniões!!

      Não considero pouco funcionais as soluções, visto que:

      1 - Será muito pouco provável que alguém vá conhecer o seu parceiro somente na hora da escalada, correto? Então, se você sabe que o guia é um cara muito mais pesado que você, já poderá levar a luva;

      2 - Acho que boa parte das vias dá sim para ir ao próximo grampo. Se considerarmos também que a maioria das cordas são de 60 metros.

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  2. Fala Leandro!
    Legal seu blog e suas escaladas.
    Tem uma outra opção:
    Aumentar o tanto de corda prolongando bem o seu auto-seguro usando-o com a própria corda, ou não. A distancia do freio e primeira costura feita, no caso a direcional, aumentaria e diminuiria assim o fator.

    Acho que cada opção varia conforme a via, são situações que variam, importante estar alerta a elas para poder usa-las da melhor maneira possível.

    Valeu
    Tulio - Caraguatatuba -SP


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    1. Que bom que tenha gostado do blog! Como você disse, o importe é estar alerta!

      Abraço.

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  3. Este comentário foi removido pelo autor.

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  4. Muito útil o post. Boas colocações e soluções. Usa quem quer.
    Abs!

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