segunda-feira, 9 de julho de 2012

Travessia Petrópolis-Teresópolis - Born to Be Wild

Segue relato da travessia feita por uns amigos meus. A galera Bor To Be Wild está de parabéns!!!! Excelente relato. Deve ter sido de mais!!!!!!


Relato da Travessia Petrópolis - Teresópolis na chuva (07, 08 e 09/06/2012)

Galera Born To Be Wild, aqui vai o relato da Travessia Petrópolis-Teresópolis realizada no feriado de Corpus Christi, do dia 07/06 ao dia 09/06.
A idéia da aventura surgiu do Sandro Montanha, cujo senso de organização planejamento estão de parabéns! Inicialmente éramos um grupo de 5 pessoas e foi crescendo até estar com o número absurdamente grande de 11 pessoas. Mas como tudo sempre muda de última hora, tivemos muitas desistências como o Carlos Pederneira que fissurou o calcanhar e o Rafael Calango que sentiu o joelho na semana anterior à travessia; e uma galerinha que entrou na última semana. Acabou que a equipe fechou em 8 integrantes mais os dois guias:
- Sandro Damásio, Rana Cerise, Renzo Solari, Marcelo Corrêa, Victor Coutinho, Vinicius Aguera, Frederico Passini, Tairi Ikeda, Efraim Filho (Guia) e Felipe Lucena (Guia)


Na semana que antecedeu a travessia entrávamos no site do Clima Tempo de hora em hora e tínhamos sempre a mesma má notícia: chuva nos 3 dias da travessia! O que fazer? Desistir? Equipe Born To Be Wild não desiste!! Perrengue é o nosso lema!! Kkkkk

1º DIA (07/06) Portaria do Bonfim ao Castelo do Açu

Nosso encontro foi  na pracinha da Urca às 7h (1h depois do planejado em virtude da indisponibilidade do motorista da van), o dia estava nublado e ameaçando chuva, mas a vibe era positiva. Conhecemos a galera, pois muito não se conheciam, e de cara já tivemos afinidade; afinal éramos um grupo diversificado, tínhamos escaladores, trilheiros, escoteiros, mas todos com uma mesma paixão: aventura e natureza.
Enquanto esperávamos a van fomos abordados por uma galera da night que decidiu sair da balada e molhar os pés na Praia Vermelha. Ao nos verem com as mochilonas começaram as piadas: “o que vocês estão fazendo aqui? Trilha? Vão dormir porraaa!” “Táxiiii, por favor me salve, somos náufragos!!” rsrsrs
Depois do táxi ter resgatado os náufragos, nossa esperada van chegou com apenas 1hora de atraso e partimos para Petrópolis às 8h (não 6h como planejado). Pegamos chuva na Linha Vermelha, da onde tivemos, ou melhor, não tivemos a vista da Serra, pois estava completamente encoberta. Depois de um belo engarrafamento na BR-040 devido ao feriado, chegamos em Petrópolis e encontramos com os guias na Praça Correas.
A chuva tinha dado uma trégua quando chegamos na portaria da Sede do Parque, os vigias foram super educados, nos deram conselhos, falaram sobre os riscos, etc... Dois amigos meus da faculdade, o Rubens e o Vinícios, que também iriam fazer a travessia, só que sem guia, já tinham chegado e começado há 1 hora.Começamos a trilha às 11h, 2horas depois do planejado devido ao atraso da van e do engarrafamento. Confesso que estranhei o peso da mochila no início, nunca tinha usado mochila cargueira, mas comparada ao do meu primo Tairi até que estava levinha.
Passamos pelo Circuito das Bromélias, a encruzilhada do Véu da Noiva e começamos a subida em zigue-zague da Pedra do Queijo. Um guia ficava na frente e o outro atrás varrendo os atrasados e dando chicotada para acelerar o ritmo. De tempo em tempo parávamos para beber água e comer alguma coisa, galera tinha comida de tudo o que é tipo, desde caixa pesada cheia de fruta até granolaaaa!
 E a subida continuava sempre constante até chegarmos à Pedra do Queijo, que marca a metade do caminho do 1 dia. Nesse mirante natural, São Pedro nos concedeu alguns minutinhos de sol, abrindo uma janela nas nuvens (dessa vez abriu mesmo, rsrsrs) e pudemos ver o Vale do Bonfim, e o Chapadão e o Morro do Açu atrás. 
Renovados com a beleza do lugar seguimos caminho, apressando o passo, pois tinha um grupo logo atrás. Nisso o Efraim solta a pérola: “Gostaram da subidinha? Quero ver vocês na Isabeloca...” kkk
Pô... isso não se fala!! Descobrimos mais tarde que Isabeloca era a tranquilíssima subida para o Chapadão. Tranquilíssima se ela tivesse seca talvez...
Começando a descer o Morro do Queijo vimos algo parecido com uma barraca subindo o morro lá longe à frente. Frederico, que tinha uma máquina “semi”-profissional, 100 vezes melhor que a minha bateu uma foto e deu um zoom e a cara do meu amigo Vinicios apareceu nitidamente!! Gritei, mas ele não ouviu...
Continuamos a trilha até uma outra subida. Nesse ponto meu primo, que estava levando a casa e mais alguma coisa na mochila, começou a sentir o cansaço... Aliviamos um pouco o peso distribuindo pra galera.
Subimos e subimos até chegar numa pedra que parecia um cérebro, o Ajax. Outro mirante em que pudemos apreciar a beleza da cor branca das nuvens, e só, rsrsrs. São Pedro não parecia mais amigável como antes. Tivemos certeza disso quando o Efraim disse: “aqui marca o início da Isabeloca!” e aí a chuva caiu....
Pusemos anorak, capa de chuva e encaramos a Isabeloca na chuva, no frio, na merda....
Alguns trepa-pedras formavam pequenas cachoeiras e eu dava graças a deus pelas pedras de Petrópolis serem bem aderentes, pois cair com mochila pesada no mínimo causaria uma torção de pé. Subimos num ritmo bom, o pior era quando parávamos para esperar alguém e sentíamos o frio atacando. Nessa hora o anorak de todo mundo já tinha se tornado inútil e tava todo mundo mais que molhado. Ao chegar no Chapadão que foi a pior parte, a subida tinha ficado para trás, o corpo tinha esfriado, o vento batia com mais força e estávamos vendo quase nada a frente devido à neblina... Meu primo e o Felipe estavam um pouco atrás. Percorremos todo o Chapadão até o Morro do Açu. A chegada nos Castelos do Açu foi.... fria, tinha uma galera bivaqueando dentro dos castelos, eram 17h30. Seguimos direto para o abrigo do Açu, a galera toda entrou quando eu lembrei que tinha comprado ingresso para mim e para o Tairi no camping, não para o abrigo....
Um pouco depois chega o Felipe com o meu primo, mais morto do que vivo, que senta na escada da varanda, encosta a cabeça na parede e dorme. “Caracaaaa, leva o cara pra dentro, coloca uma roupa seca nele e enfia ele no saco!” Enquanto isso eu fui com o Efraim nas áreas de camping. Minha idéia era achar o Rubens e o Vinicios que também estavam acampando. Passava de barraca em barraca chamando e delas saíam as respostas: “Sou o Vinicios não.” “Meu irmão se chama Vinicios, mas eu sou o Pedro” ”Depende, para que você quer o Vinicios”. Porra...
Voltei para o abrigo eram umas 18h 15, estava tudo escuro. Na varanda me falaram que o Tairi tinha desabado no saco de dormir. Aí eu desconsiderei a hipótese de ir pra barraca com ele, ia ficar no abrigo mesmo. Tentei tirar o tênis, mas meus dedos tinham perdido as forças por causa do frio e não conseguia desamarrar o cadarço, tive que pedir ajuda. Entrei no abrigo e fui direto descongelar minhas mãos na água quente de um cara que tava fazendo miojo (o coitado teve que esperar mais 15 minutos para ferver outra água, rsrsrs)
Todo mundo da equipe ficou no abrigo, menos o Frederico que acampou na chuva, tranquilão... Galera jantou miojo e a famosa comida liofilizada (de canja, feijão, estrogonofe, risoto, sorvete!). Fiz um macarrão com carne seca que deixou babando uma galera de outro grupo que errou a mão no estrogonofe liofilizado. Acabei compartilhando o macarrão e eles compartilharam a goiabada com queijo, muito bom! De tempos em tempos chegava mais gente, inclusive uma mulher que tremia dos pés à cabeça com início de hipotermia.
Mais tarde a equipe toda se reuniu na mesa, rolou chocolate, queijo e chá e ficamos conversando sobre a aventura do dia e o mais importante: se íamos continuar a travessia no dia seguinte, pois lá fora a chuva não parava.

2º DIA (08/06) – Travessia Petrô - Terê

Acordamos às 7h da manhã. Não vimos o nascer do sol porque não tinha o que ver além de nuvem. Dormi mal pela falta de travesseiro, pelo frio (descobri que meu saco de dormir era uma bosta) e teria dormido pior se o Felipe não tivesse me dado um protetor auricular para abafar a sinfonia de roncos do bivaque.... Abafou quase tudo, menos o da pessoa ao meu lado que me fazia acordar várias vezes assustada! Kkkk
De repente, enquanto tomávamos café uma janela se abriu no meio do céu e limpou tudo!! O céu ficou azulzinho, as nuvens estavam abaixo de nós! Foi a parte mais bonita da Travessia! Conseguimos ver o Castelo do Açu direito, os 3 picos e o nosso destino do dia a: Pedra do Sino, que com a abertura do sol não restava dúvida de que iríamos continuar!  
Arrumamos tudo e partimos, eram 8h. Descemos o morro do Açu com o visual de tirar o fôlego das montanhas, quase esquecíamos de olhar para o chão, que estava todo escorregadio. Subimos o morro do Marco e de lá tivemos uma vista de 360º graus dos picos mais altos da Serra dos Órgãos: o morro do Açu, a Pedra do Sino, os 3 Picos, o Morro da Luva... O sol estava começando a queimar quando começamos a descida do morro do Marco. Chegamos num vale embaixo, passamos por um riacho e começamos a subir o Morro da Luva, 2º morro mais alto da serra. Foi aí que a janela se fechou e começou a garoar... e ficou assim até o final do dia.
Incrível como São Pedro sempre sabia quando estávamos para subir alguma encosta íngreme e mandava chuva... O cume do morro da Luva estava um verdadeiro lamaçal, tínhamos que ser muito criativos para não enfiar o pé na lama e não os sujar mais do que já estavam. Nesse ponto comecei a sentir a altitude, pois estávamos a 2.263 m. Descemos o morro da Luva, atravessamos uma cachoeirinha com o auxilio de uma corrente que foi posta depois da morte de um montanhista que escorregou ali.
Andando mais um pouco chegamos na subida chamada de “Elevador”. Elevador uma ova, a subida era meio vertical, feita por uns tachões de ferro fincados na rocha, alguns meio soltos, era importante testar cada um antes de soltar o outro. Um deles saiu por completo na mão do Renzo, outros já tinham saído por outros e só restava os buracos.
Depois de ter subido tudo adivinha, descemos de novo. Chegamos na descida que dava acesso ao chamado Crista do Dinossauro, um lance um pouco íngreme de pura aderência, que no molhado ficava bem mais divertido. Descemos devagar usando a corda como auxilio, acabamos demorando um pouco mais, pois ajudamos um outro grupo que estava sem corda a descer.
Subimos a Crista do Dinossauro (não vimos crista nenhuma devido à neblina) e descemos em direção ao Vale das Antas, inicialmente pelas lajes, aonde tivemos um festival de gente escorregando, e terminamos numa trilha meio fechada, antiga trilha da travessia que ninguém mais utilizava. Inclusive os totens foram postos na outra direção, mas todos caminhos seguiam para o mesmo local, para baixo.
Paramos no vale para comer alguma coisa e encher os cantis (lá passava o maior rio da travessia). Já não estávamos mais sozinhos, uns dois grupos já tinham nos alcançados devido à demora para o auxílio na descida para a crista. Apareceu um grupo de paulistas do nada saindo do meio do mato dizendo que estavam perdidos há 1 hora.
Seguimos caminho subindo numa trilha aonde podíamos ver algumas flores típicas da alta altitude. O caminho acabava numa laje chamada Pedra da Baleia, era um descampadão que nos dava a impressão de estarmos no meio do nada, pois olhávamos em volta e adivinha, não víamos nada.
Atravessamos o Vale dos Sete Ecos e chegamos no chamado lance do “Mergulho” aonde podíamos ver, se prestássemos bastante atenção, os paredões da Pedra do Sino logo à frente. Colocamos em prática nossa habilidade de rapeleiro, pois as pedras estavam escorregadias, e continuamos caminho até o famoso lance do “cavalinho”. Galera montou no pônei como se tivessem anos de prática, rsrsrs.
Logo a frente tinha um trepa pedra não esperado que fazendo uma oposição dava para passar numa boa. Uma escada de ferro surgiu mais à frente que me fez lembrar a escadinha do filme “O chamado”. A partir daí foi uma tranqüila caminhada subindo até quase o cume da Pedra do Sino, aonde se encontrava o abrigo 4. Chegamos às 16:30h, embaixo de uma leve garoa de montanha que nos acompanhou fielmente durante todo o dia.
   O abrigo e a área do camping estava lotado. Acampei com o Tairi em frente ao abrigo, mas praticamente só entrei na barraca para dormir. Jantamos todos no abrigo, rolou até um parabéns para o Vinicius que estava fazendo aniversário na montanha! Com direito a bolinho e tudo! Ficamos até tarde conversando sobre as escaladas na Serra dos Órgãos e da beleza de tirar o fôlego da vista dos cumes, vista essa que durante toda a travessia mais sentimos do que de fato vimos.

3º DIA (09/06) – Pedra do Sino à Barragem em Teresópolis


A noite foi menos fria que a anterior, mas a sensação para mim foi exatamente o oposto. Descobri que a barraca não era a mais indicada para montanha, muita menos na chuva. Devido à garoa entrou água na barraca que, graças a deus, estava inclinada para o lado do meu primo e escorreu tudo para ele, rsrsrs. Tairi teve que acordar no meio da noite, passar um pano na barraca e torcer do lado de fora. Às 4h30 ouvi o barulho de um pessoal acordando no abrigo e levantei também, não agüentava mais o frio. Aos poucos a galera foi levantando na expectativa de ver o nascer do sol, mas foi em vão. O sol nasce, mas, mais uma vez, não pudemos apreciá-lo.
Deixamos tudo arrumado e fomos até o cume da Pedra Sino, o ponto mais alto na Serra dos Órgãos (2.275m). Chegar ao cume foi simplesmente maravilhoso! A sensação de realização que só o cume transmite alegrou mais ainda a galera, não precisávamos ver a imensidão do lugar para saber que fizemos o que poucos fazem.
   Ainda no cume o Efraim nos mostrou a famosa Pedra da Bandeja, uma pedra solta chapada na parte inclinada da beirada de um dos abismos do Sino. Obviamente que ninguém perdeu a oportunidade de subir em cima dela! “Se subir mais um talvez ela escorregue abismo abaixoooo, sobe aeee!” kkkkkk.
   Descendo da Pedra do Sino encontrei meus dois amigo da faculdade que tentava achar a 2 dias, o Rubens e o Vinicios. Descobri que os dois se perderam na travessia, tiveram o saco de dormir todo molhado e um deles ainda tinha esquecido de levar isolante! E eu pensando que tinha passado perrengue... rsrsrs
Deixamos o abrigo 4 umas 10h e seguimos para a trilha que dava acesso ao Sede de Teresópolis do Parque. Pessoalmente foi o dia mais desgastante da travessia, estava me sentindo muito bem fisicamente até começar a descer a trilha que parecia que nunca acabava. A trilha era um eterno zigue-zague bem definido que passava por diversas cachoeiras e riachos, descendo, sempre descendo. Nesse dia eu percebi que tinha joelhos, panturrilha.... descida é sempre a pior parte.
Enfim, 13 km de descida depois chegamos na sede de Teresópolis, às 13h30. Travessia concluída, objetivo concluído! Espírito renovado! Quando entramos na van começou a cair a chuva. 
É claro que depois de 3 dias só comendo macarrão não podíamos simplesmente ir para a casa, fomos forrar o estômago com os croquetes e os sanduíches de lingüiça com queijo na Casa do Alemão, sem esquecer o bom e velho choppinho para comemorar!! Afinal não é todo dia que um bando de maluco, que em vez de ficar no conforto de suas casas tendo comida no prato e assistindo filminho, parte para uma travessia de 3 dias nas montanhas embaixo de chuva!! Kkkkk
Em seguida partimos todos para o Rio e às 16h já estava em casa tomando o tão esperado banho!


É isso aí galera! Foi um imenso prazer ter feito essa aventura com vocês, não vejo a hora de fazer a próxima! Parabéns aos guias Felipe e Efraim pela excelente guiada e dinamismo de todo o percurso, e pela paciência de nos contar as histórias de cada lugar. E parabéns a equipe toda pela determinação, auto estima e espírito de equipe! 

BORN TO BE WILD!
Relato por Rana Montana



“Foi uma aventura inesquecível. O grupo, o lugar, o sentimento de aventura e até mesmo a chuva fizeram com que essa aventura fosse maravilhosa. Aguardando ansiosamente pela próxima. Born To Be Wild.”
Sandro Montanha


“Algumas semanas antes da travessia, muitos falavam em participar, mas no final éramos apenas 8. Um grupo que não se conhecia, porém com as dificuldades aparecendo mostrou o espírito de montanhista, com todos se ajudando e com bastante animação durante todo o trajeto. Durante esse tempo novos amigos se formaram. Três dias inesquecíveis para esse grupo.” 
Marcelo Carrasqueira 




Um comentário:

  1. Valeu Leandro. Foi maneiríssima a aventura. Fica o convite pra Galera que acompanha seu Blog. Façam a Travessia Petrópolis - Teresópolis, será uma aventura inesquecível e talvez, ponto de partida para várias outras. Abs. Sandro Damasio.

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