Por Leandro do Carmo
Escalada - Nariz do Frade e sua Verruga - Parque Nacional da Serra dos Órgãos
Local: Parque Nacional da Serra dos Órgãos
Data: 16/05/2015
Data: 16/05/2015
Participantes: Leandro do Carmo, Alfredo Castinheiras, Michael Patrick, Vinícius Araújo, Daniel Talyuli, Roberto Andrade, Tauan Nunes e Marcos Lima.
A trilha: Pegar a trilha da Pedra do Sino. O início fica
metros antes de começar uns canos de ferro, que levavam água ao antigo Abrigo
2. A entrada da trilha é bem discreta e andando alguns metros, você verá um
pequeno descampado, depois seguirá descendo e subindo. Cruzará dois pequenos
riachos. Mais a frente, entrará numa parte bem íngreme até caminhará numa
crista até começar a subir forte novamente. Após essa subida, virá o Paredão
Roi Roi, será preciso estar encordado ou
fixar uma corda para segurança. Mais uma subida forte e estará na base
do Nariz do Frade
Dicas da escalada: A chaminé é longa e mau protegida,
principalmente nos 3 primeiros grampos. Eu escalei mais para fora, na parte
mais aberta, um pouco fora da linha dos grampos, e me aproximava para
costurá-los. Optei por não costurar o segundo grampo, pois ele fica numa parte
bem estreita, fui direto do primeiro para o terceiro. Há uma parada dupla, bem
confortável num platô. A partir desse platô, escalar em livre numa sequência de
4 grampos até uma pequena entrada (entrar na de baixo, a menor). Nesse dia
estava bem úmida. Faz uma chaminé horizontal, bem apertada, onde segue agachado
até o final, dali já dará para ver a luz lá no alto. Não tem grampo nesse
trecho, mas tem excelentes buracos para por os pés. Saindo do buraco, tem mais
dois grampos no final e já estará no cume do Nariz do Frade, uma base bem
ampla. Faltará subir a Verruga. Lá tem dois grampos para artificializar a saída
e será necessário fazer um lance em livre, um 3º, até chegar a um grampo antigo
e grande. Mais acima há um grampo de cume. Para o rapel, existe um grampo, logo
após a pedra onde fica o livro de cume, que dá para chegar ao platô num rapel
que começa positivo e termina aéreo. Existe uma parada dupla mais em
baixo, mas considerei arriscado montar o
rapel ali, muito exposto. Do platô, com duas cordas, desse direto, com uma
corda, deverá fazer mais um uma parada dupla no meio da parede.
Vídeo
Relato
Era o dia da Abertura da Temporada de Montanhismo do
PARNASO. Nós do Clube Niteroiense de Montanhismo, havíamos programados de fazer
vários cumes nesse dia, entre eles: Papudo, Sino, São Pedro, Neblina e a
Verruga do Frade. Ao total, fomos 30. Isso mesmo, 30! Resolvemos alugar duas
vans, assim poderíamos curtir mais o evento, mesmo depois de um dia
cansativo... Mas vamos ao que interessa, vamos ver como foi subir essa tal
Verruga...
A ideia inicial era escalar a Verruga do Frade e depois
continuar na Travessia da Neblina, afinal de contas, estaríamos na base do
Nariz do Frade e, teoricamente, era só escalar a grande chaminé e depois a
Verruga... Mas entre a teoria e a prática... Há uma grande diferença, ou
melhor, uma grande chaminé!
Chegamos na Barragem e iniciamos a trilha às 08:30h.
Seguimos pelos incansáveis zigs zags da trilha do Sino e fizemos nossa primeira
parada, coisa bem rápida, na Cachoeira do Véu da Noiva. Descansamos e seguimos
caminho. Acho que de tanto fazer esse caminho, ele ficou até mais curto e logo
estávamos no local do antigo Abrigo 2. O começo da trilha é a esquerda, numa
discreta saída, alguns metros antes de começar os canos de ferro que levavam
água para o antigo abrigo.
Ali, tomei a dianteira e segui descendo. Não havia feito a
trilha, nem a escalada, mas sabia que era por ali. O caminho até que era óbvio,
um pouco fechado em alguns trechos, muito fechado por causa dos bambus caídos
em outros, mas seguimos. Cruzamos dois riachos e entre as curvas da trilha,
pisei e afundei, só não rolei barranco abaixo, porque consegui me segurar. Continuamos e bem mais a frente, quando pega
uma parte mais plana, tem uma pegadinha que muitos desavisados chegam a ir
reto, até parar no meio do nada. Foram colocados alguns galhos e existe um
totem. Nesse ponto deve-se começar a subir. Não é tão óbvio, mas com um pouquinho
de atenção dá para perceber que é por ali.
Começamos a parte mais chata da subida, num local muito
instável e íngreme. Aos poucos, fomos vencendo a subida e chegamos a uma bifurcação, onde dobramos a direita e
seguimos a parte mais bonita do caminho. Caminhamos pela crista até que
começamos a subir forte novamente. Mais a frente, chegamos ao Roi Roi. Uma
sequência de alguns grampos que fui subindo sem segurança e fixei uma corda
para agilizar a subida. Depois de fixada a corda, continuei a trilha até um
mirante onde era possível ver o Nariz do Frade e toda a sua beleza.
Já há alguns minutos ali contemplando a beleza, o Marcos
Lima chegou e aproveitamos para fazer algumas fotos. A cidade de
Teresópolis, ao fundo, tentava de
qualquer maneira aparecer nas fotos, mas o ballet das nuvens, ao mesmo tempo
que cobria a nossa visão, dava um espetáculo a parte... Segui até a base da
chaminé, afinal de contas, não via a hora de chegar lá em cima. Até que
caminhamos bem... Levamos cerca de 2 horas para percorrer o caminho. Quando
cheguei
Já tinha a dica de que a melhor forma de subir não era
seguir o grampo e sim, escalar pela parte mais larga da chaminé e se aproximar
do grampo somente para costurá-lo. O caminho da conquista foi outro, bem lá no
fundo. No relato dos conquistadores, que está no arquivo do CEB, consta que
quando chegaram a base do “Nariz” perceberam que o melhor caminho seria uma
chaminé de aproximadamente 50m. Úmida e com bastante limo, utilizaram a técnica
vigente na época. Construíram uma grande escada, improvisada com varas de 5 a 6
metros de comprimento. Vencido este obstáculo ainda tiveram que atingir o topo
da verruga do nariz do Frade. Mais 11 metros de escalada e atingiram o topo.
Esta conquista precisou de um grande trabalho de equipe que se iniciou no dia
04 de junho de 1933, com a abertura da trilha até a base por Malvino Américo de
oliveira, Andral Povoa e Luiz Gonçalves. Na semana seguinte juntaram-se ao time
Alcides Rosa de Carvalho, Arlindo Motta e Antônio F. de Godoy. Para a
construção da escada e investida final reforçaram o grupo os Montanhistas José
Claussem e Miguel Ignácio Jorge. Mais tarde foi instalada uma grande
escalada, feita com cabos de aço, que acabou se perdendo no tempo e hoje não
está mais no local. A foto ao lado, gentilmente cedida pelo Sobral Pinto,
mostra como era essa escada.
Depois de 1 hora esperando, iniciei a escalada. Comecei a
subir bem pela parte de fora da chaminé. Fui subindo, tentando manter um ritmo
constante. Parei para dar uma descansada e olhei para cima, o grampo ainda
continuava longe, olhei para baixo e também já estava longe... Com o apoio da
galera continuei subindo. Mais alguns longos metros e costurei o primeiro
grampo e pude descansar um pouco, cerca de 1 minuto e já parti para o próximo.
O segundo grampo fica muito para dentro da chaminé. Talvez a parte mais apertada... e olha que
sou pequeno e magro... Resolvi ir direto para o terceiro. A chaminé tem ora que
fica tranquila, mas em alguns lances fica apertada, mas de uma maneira geral é
boa. Só é bem longa e pouco protegida.
Chegando ao terceiro grampo, passei a costura e dei mais uma
pausa. Os grampos seguintes estavam um pouco mais próximos e a linha ia
seguindo para a direita. Continuei subindo e em alguns momentos colocava o
joelho na parede para ajudar a descansar... Mais acima, costurei o quarto grampo,
depois o quinto e finalmente o sexto. Esse último, fica do lado oposto, já no
final da chaminé, na base do platô. Como ele estava atras de mim, estiquei o braço para costurar e passar a
corda, só depois que fiz o movimento e girar e passar para o platô.
No platô a cordada da frente ainda estava lá. O Guia já
havia ido e faltavam os dois participantes. Montei a parada e fixei a corda,
para que o pessoal viesse subindo. Enfim pude descansar um pouco... O primeiro
a chegar foi o Alfredo, que trouxe mais uma corda, na qual fixei também.. Em
seguida, veio o Marcos Lima. Enquanto o resto de pessoal subia, o Alfredo e o
Marcos preparavam o caminho para a próxima enfiada. Uma sequência de 4 grampos,
num misto de pequenas agarras. Só que estava escorrendo muita água e resolvemos
colocar alguns estribos. Chegaram também o Daniel e o Roberto. Enquanto
aguardávamos os outros, acompanhávamos o outro grupo de CNM na Travessia da
Neblina. Depois, chegou o Michael e, por último, o Vinícius.
Enquanto o Vinícius vinha subindo, puxei uma corda e já
parti para o próximo desafio. O Alfredo, que já havia feito, me disse para
seguir pela menor entrada, nesse caso, a de baixo. E para lá segui... Quando
cheguei na entrada, falei: “Alfredo, você tem certeza que é por aqui?”. Tive que
fazer alguns movimentos contorcionistas para poder entrar. Estava bastante úmido o interior dessa passagem. A
parede de trás era um pouco inclinada para frente, porém com bom apoio de pés,
e isso facilitou um pouco as coisas. Entrei literalmente fazendo a dança do
siri, bem agachado. Pois é nessa posição mesmo, se é que você conseguiu
imaginar alguma coisa... Segui sem costurar (pois não há grampos) numa
horizontal, até que pude ver mais acima, a luz no fim do túnel! Iniciei a
subida, passando por uma pedra no estilo 127 horas, que nem encostei nela...
Enfim, havia terminado. Puxei a sobra de corda, a fixei e avisei para os
próximos subirem.
Por alguns minutos fiquei sozinho a contemplar toda aquela
beleza. Depois de todo o esforço, uma sensação de conquista e alívio me tomaram
conta. Nunca havia sentido isso antes. Sentei aos pés da Verruga e pude
observar, do outro lado, o pessoal na Travessia da Neblina. Aproveitei para
assinar o livro de cume e dar uma volta na ampla base do Nariz do Frade. Em
seguida, chegou o Alfredo. Quando ele chegou, aproveitei para subir a Verruga.
Antigamente existia um cabo de aço, mas hoje, só restam os grampos, na verdade
4. Além de dois grampos iniciais, o que é necessário para fazer o artificial da
saída, tem um lance em livre obrigatório, acho que 3º grau até um grampo grande
e antigo. Depois desses três, tem um lá no cume. Me encordei e segui para o
lance. Coloquei duas fitas no primeiro grampo e mais uma no segundo. O que mais
importava agora era chegar ao cume. Mais algumas passadas e estava no cume da
Verruga do Frade. Agora sim missão cumprida, ou melhor, quase cumprida, pois
faltava a volta...
O Marcos foi o próximo a subir e em seguida o Alfredo. Já
passávamos das 14:30h e resolvi descer e agilizar o pessoal que faltava subir.
Quando o penúltimo subiu, puxei uma corda e fui começar a preparar o rapel.
Desci até ao platô no final da chaminé, montei a parada e esperei a galera
descer. Aos poucos todos estavam lá, sete no total. Emendamos duas cordas e
começamos o rapel até a base. Abri esse rapel, e rapidamente cheguei a base.
Ali fiz um lanche e esperei a galera chegar. Ainda tínhamos muito trabalho, já
era 17:00 h e com certeza, faríamos a trilha a noite. Quando todos já estavam
na base e alguns já finalizando o lanche, fui com uma corda para fixar no
Paredão Roi Roi e agilizar a descida. Aos poucos, a luz do sol foi acabando e
como estava muito nublado, anoiteceu por volta das 17:30 h. Antes do último a
fazer o rapel, já estávamos com a lanterna ligada.
Voltamos a andar e a trilha na parte mais baixa, onde as
nuvens se concentravam, estava molhada, havia chovido um pouco e sentíamos que
estava chuviscando, mas como a floresta é bastante densa, impedia de vermos
alguma coisa. Levamos alguns tombos e acho que ninguém escapou... Fui seguindo
na frente e em alguns pontos tive ir voltar para tentar achar o caminho
correto. Mas seguimos e foi um alívio chegar à trilha do Sino, no local do
antigo Abrigo 2. Descemos e fizemos uma parada na Cachoeira Véu da Noiva.
Encontramos o grupo que vinha da Travessia da Neblina. Alguns desceram, outros
preferiram descansar mais um pouco. Eu fui logo em seguida e caminhei sozinho
até a Barragem, onde cheguei, exatamente 12 horas depois de começar. Peguei a
trilha suspensa e fui descansar na Casa do Montanhista, onde rolava o evento da
ATM.
Agora a missão estava cumprida! Valeu a todos por essa
grande e inesquecível aventura!!!
Alfredo assinando o livro de cume |
Escalando a Verruga do Frade |
Final da última chaminé |
Homenagem a um dos conquistadores |
Na base da escalada |
A hora da decisão |
Na primeira parada |
Com o Nariz do Frade ao fundo |
No cume da Verruga |
Nuvens... |
Passeando pelo Nariz do Frade |
Terminando a chaminé |
Contemplando a paisagem |
Excelente relato! Senti como se fosse eu fazendo esta escalada. Parabéns pelo texto.
ResponderExcluirValeu Fábio!
ExcluirValeu Fábio!
ExcluirGrande PitBull Aventuras... aqui a mordida é forte !!!!!
ResponderExcluirO Rala-Bota sempre admirando e aplaudindo de pé suas grandes escaladas e relatos emocionantes!!!!
Showwwwwwwwwwwwwwwwwwww
LuizCoelho Rala-Bota
Valeu Coelho!
ResponderExcluirValeu Coelho!
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