quarta-feira, 3 de outubro de 2012

Escalada na Pedra da Gávea - Travessia dos Olhos

Por Leandro do Carmo

Escalada na Pedra da Gávea - Via Travessia dos Olhos

Local: Pedra da Gávea
Data: 29/09/2012
Participantes: Leandro do Carmo, Guilherme Belém, Ary Carlos, Bruno Silva e Vitor Pimenta 

Dicas: Caminhada forte até a base. No verão o sol é forte durante todo o dia, no inverno, o frio e o vento podem atrapalhar. Estejam preparados. Lances de cabo de aço. Por ser a maior parte em horizontal, a sensação de guiar é a mesma para o guia e participante. Não esqueçam a máquina fotográfica, a vista é fantástica!!!
Um pouco de história
Uma vista espetacular em uma escalada na mais enigmática montanha do Brasil, a Pedra da Gávea! Com seus 842 metros, ela é o maior bloco de pedra a beira mar do planeta. É um dos pontos extremos do Parque Nacional da Tijuca.
O que não falta à Pedra da Gávea são lendas e mistérios. A começar pela sua estranha forma e seu rosto enigmático. Existem histórias para todos os gostos; portal para outra dimensão, base de discos voadores, esfinge Fenícia, túmulo de reis. Algumas partes realmente despertam mais perguntas do que respostas. No topo, existem algumas formas que dizem serem inscrições fenícias. O livro Inscrições e Tradições da América Pré-Histórica (1920), de Bernardo Ramos, apresenta a tradução das inscrições, que seria: "Tyro Fenícia Badezir, primogênito de Jethbaal". O filho do rei Jethbaal teria sido enterrado em algum ponto da Pedra da Gávea, mas seu túmulo nunca foi encontrado.  
Além da forma do rosto da esfinge e o portal, este no lado que dá para a barra, também existem sítios arqueológicos, como caminhos de pedras e senzalas do tempo colonial, isso no início da trilha.
"Reinaldo Behnken, na década de 40, traçou um objetivo: “atravessar a mítica Cabeça do Imperador numa horizontal, passando pelos seus olhos". O olho esquerdo foi atingido às 14h15min do dia seis de maio de 1945, como marcam os registros do CERJ (Centro Excursionista Rio de Janeiro) , já deixando o primeiro prego, como eles diziam, para seguir em direção ao outro olho, logo concluída.
Posteriormente, na década de 60, o CER (Centro Excursionista Ramos), conquistou a "Passagem CER", toda em cabos de aço, atingindo a orelha e chegando até o cume.  Hoje, esta passagem é chamada de Travessia dos Olhos, uma horizontal em III grau e crux em 4º.
Mas deixarei a história um pouco de lado, para contar como foi essa aventura!
A escalada
Há um bom tempo que queria fazer esta via. Não foi nada difícil arrumar companhia. Depois de já termos adiado a escalada por conta do tempo, enfim, tínhamos certeza que dessa vez sairia. Monitoramos o tempo durante a semana e marcamos eu, Guilherme, Ary, Bruno e Vitor, às 07 da manhã, lá na entrada da trilha. Já na chegada, o Vitor nos apresentou o novo capacete... Não sabia se o cara iria escalar ou fazer a manutenção da trilha...rs
Tudo bem, pelo menos teríamos assunto para a trilha que não é nada curta. Fomos subindo pelo caminho de pedra e passamos por algumas ruínas e tocamos para cima. A subida é bem exigente, ainda mais com o peso das mochilas. A trilha é bem íngreme e passamos vários locais bonitos como: a Pedra do Navio, um excelente mirante; a Geladeira, onde pudemos nos refrescar com a água gelada. Levamos mais ou menos e uma hora até o local conhecido como Praça da Bandeira. Paramos para um pequeno descanso. O corpo foi esfriando e o frio aumentando, apesar da camisa suada. Saquei o anorak da mochila e o coloquei.
Recomeçamos a subida e paramos já na base, antes um pouco do ponto chamado de “carrasqueira”, um trepa pedra que assusta os inexperientes. Já na base, o vento aumentava a sensação térmica. Estava tudo encoberto pelas nuvens. Não conseguíamos nem ver a pedra. Por vezes, as nuvens se dissipavam, mas era tão rápido que nem dava tempo de sacar a máquina! Aí a primeira dúvida: será que conseguiríamos subir? Fazer essa via encoberta e perder a melhor parte... Vale a pena? E o frio? Então aguardamos um pouco até que as condições melhorassem.

Passados alguns minutos, vimos que o tempo afirmou um pouco. O Bruno e o Vítor já se arrumavam, enquanto eu e o Ary estávamos mais embaixo conversando sobre o que faríamos. O Ary só não havia trazido anorak, nem casaco. Com o vento forte, poderia ser que abortássemos a escalada. Não gostaríamos de ver ninguém com hiportemia!!! Conversei com o Guilherme e decidimos subir.
Nos arrumamos na base e o Guilherme guiou a primeira enfiada, a única vertical da via. Essa sem problemas. Com o crux quase chegando à base, numa fenda a esquerda. A primeira parada é bem confortável, em cima de um grande platô. O Ary subiu também sem problemas. Nessa hora, tomei um susto! Um barulho... Quando olhei para o alto, vi um cara fazendo “base jump”... Isso sim é coragem! Só vi a hora que o paraquedas armou.
A segunda enfiada começa com uma trilha bem pequena e uma descida até o primeiro grampo, onde começamos efetivamente a horizontal. O Guilherme foi guiando, mas em horizontal não tem muito essa de guia... Na verdade todo mundo guia, inclusive o participante. Pois numa eventual queda, todos pendulam!!! Só que o guia vai pendular para trás e participante, para frente. A sensação é a mesma.
Na segunda enfiada, o lance mais difícil é numa barriga. Nos outros lances, as agarras são grandes e há bons apoios para os pés. Na segunda parada o frio estava maior. O vento nem se fala. O Ary deveria estar sofrendo!!! O Guilherme saiu em direção à terceira parada, no olho esquerdo (direito de quem olha). Enquanto ele escalava, combinava com o Ary que quando eu chegasse na terceira parada, mandaria o Guilherme seguir direto à quarta, para que ele ficasse menos tempo exposto ao frio. Naquele ponto, ainda dava para rapelar... Mas dali para frente, não seria possível. Porém, o tempo abriu um pouco, e resolvemos continuar.
Na terceira enfiada, mais um lance difícil. Ameaçou uma câimbra na perna esquerda, mas dei uma balançadinha e ficou tudo tranqüilo. A mão gelada estava começando a doer. Passei por uma laca grande, dei uma batida e estava oca. Segui por ali mesmo. Pelo rádio, o Guilherme mandou adiantar. Onde ele estava era o crux do vento! O vento estava cada vez mais forte. Cheguei à terceira parada, já no olho esquerdo (direito para quem olha de baixo), e falei com o Guilherme para continuar, mas não tinha costura suficiente. Não tinha jeito, o Ary teria que vir e passar um pouco mais de frio.
O Ary chegou rápido e assim que se prendeu, o Guilherme saiu para a quarta enfiada. O Bruno e o Vítor já estavam bem a frente. Guilherme sempre encontrava com eles, pois quando ele chegava, o Vítor saía. Comecei a escalar e já estava bem próximo da parada quando começou uma câimbra forte na batata da perda esquerda. Não podia demorar muito, pois o Ary deveria estar num perrengue maior! Respirei fundo e toquei para cima até a parada. Nem acreditei quando cheguei lá. Parecia uma parada cinco estrelas!Um buraco abrigado do vento. Entrei rapidamente para aquecer. O Ary veio logo depois, na coragem! O Bruno já estava chegando ao final, na orelha direita. O Vitor já estava nos cabos dando segurança.
Estava muito agradável. Não batia sol, mas não ventava e isso já era o suficiente. Ali cabem umas quatro pessoas bem acomodadas num pernoite. Batemos algumas fotos e vi que os cabos de aço começavam ali. Era mais uma enfiada e pronto. Cabos de aço... Agora é mole! Pensei.
Alguns minutos depois do Vitor saiu da parada nos cabos, o Guilherme fez o pequeno rapel e começou a escalar. Foi indo bem. E depois de algum tempo perdi o contato mesmo com rádio. Acho que foi pelo forte vento. O tempo foi passando. Por vezes conseguíamos sinal com o rádio, pedia para ele puxar a corda e nada. A corda só poderia estar presa em algum lugar. Resolvi escalar e verificar o que estava acontecendo. O Ary travou a corda do Guilherme e começou a me dar segurança.
Esses lances do cabo são meio chatos. As emendas dele não são tão boas e está muito enferrujado. Passei por onde a corda estava presa, ela passou por baixo de um grampo e com o arrasto de uma aresta, não corria de maneira nenhuma. Já depois da aresta, vi o Guilherme, já na orelha direita. Fiquei mais tranqüilo. Eu achava que o vento estava forte... Engano meu! Ele estava forte pra caralho!!! O frio triplicou!

Resolvi parar ali na aresta, apesar do frio, queria evitar que a corada se prendesse novamente. Pedi para o Ary liberar a corda do Guilherme e começar a escalar. Onde eu estava, o frio era tanto que minha mão começou a ficar dura e meus pés começaram a doer. O Ary apareceu e assim que ele se prendeu, comecei a escalar. Subi o final dos cabos igual a um foguete. rs !!! Mais acima, fiz segurança de corpo e mandei o Ary subir. O dedão do pé ficou dormente e demorou uns 30 minutos para voltar ao normal... Foi um perrengue. Pensei que fosse moleza... Mas nem sempre o que parece ser fácil, será fácil... Porém, fomos recompensados pela excelente vista!
Aí, foram mais uma hora de descida até o carro. Sem dúvida uma grande aventura.




Vista da base, nos poucos momentos de céu aberto



Barra da Tijuca


Céu encoberto



Vítor iniciando os cabos

Ary chegando ao olho direito


Ary e Guilherme no olho direito


Placa de Homenagem


Analisando a próxima enfiada


Pedra Bonita


Guilherme nos cabos

Placa de homenagem a conquista


Na gruta, perto da orelha direita


Vitor apreciando a vista


Leandro na pose para foto


Barra da Tijuca


Leandro, Guilherme, Vitor, Bruno, Ary e o Imperador


3 comentários:

  1. Foi um dos maiores perrengues que eu ja peguei na pedra. O frio tava abaixo de 10o tranquilo e com o vento a sensacao termica devia estar beeeem mais baixa que isso. Mas a via é atletica e bonita, muito bem protegida. Uma pena que Sao Pedro tava exuplsando a gente de la. :-) Temos que voltar num dia de sol. Gostei muito!!! Abs
    Bruno Silva

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  2. Simplesmente uma das aventuras mais geladas do currículo de um montanhista, pois a sensação térmica dificultava qualquer movimento e castigava o corpo. Abraço aos grandes guerreiros de montanha! Espero que curtam o vídeo!

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  3. Valeu mesmo... Com certeza faremos com um dia de sol!!!

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