Por Leandro do Carmo
Serra Fina, a difícil decisão de voltar!
Local: Serra Fina
Participantes: Leandro do Carmo, Blanco P Blanco, Vander Silva, Marcelo Correia, Guilherme Gregory, Rafael Faria e Gleisson Santos.
Depois de dois anos retornaria à Serra Fina. Muitos
consideram como a mais difícil do Brasil. Mas convenhamos que isso faz mais
parte do folclore do que da realidade. Não estou querendo dizer que é fácil,
mas também dizer que é a mais difícil... Para alguém afirmar isso, deve, pelo
menos, ter feito todas as travessias possíveis... Não há parâmetro.
Com perfil altimétrico forte, pouca água, lugares inóspitos,
apesar de já pegar celular em diversos pontos, passar boa parte do percurso
acima dos 2.000 m, opção de acampar na Pedra da Mina, 4º ponto mais alto do
Brasil, com 2.798 m, todos esses fatores dão um charme especial à travessia.
Bom, mas vamos ao que interessa, afinal de contas, não adianta falar muito
sobre ela se tivemos que abortar...
Havia feito a
travessia em 4 dias, mas dessa vez o desafio
seria completar em 3 dias. Mas para isso tínhamos que mudar um pouco o planejamento,
optamos por fazer o primeiro pernoite na base da Pedra da Mina e o segundo
pernoite, na base dos Três Estados. Isso impediria que acampássemos nos cumes,
mas pelo menos dividiríamos melhor o percurso. Outra coisa que alteramos no
nosso planejamento, foi ao invés de ir para Passa Quatro e, ao final, contratar
o resgate e retornar, optamos por deixar o carro no Abrigo Picus e contratar o
transfer até o início da travessia, assim terminaríamos junto ao abrigo.
Com o planejamento feito, fomos monitorando as condições do
tempo. Foram, praticamente, duas semanas de tempo ótimo. Nada de chuva ou
nuvens. Mas a medida que ia se aproximando da data, foi dando alguns sinais de
piora. A previsão era de uma passagem rápida de uma frente fria, ocasionando
ventos e chuvas isoladas. A princípio
nada que assustasse. Mas uma coisa me deixou preocupado. Apesar de prever tempo
bom, os sites mostram a previsão para as cidades. Lá no alto, as condições são
bem diferentes.
Nossa programação era sair na quinta feira, às 20:00h.
Marcamos de nos encontrar na sede do Clube Niteroiense de Montanhismo. Já chegando em casa, a Thaiana, do Abrigo
Picus, me passou uma mensagem avisando que havia chovido na região. Recado
dado... Durante o dia, como a previsão
havia informado, ventou bastante e o tempo virou. Avisei a galera do recado que
havia recebido e falei que estava inclinado a desistir. Resolvemos decidir
todos juntos.
Com todos na sede do clube, foi hora de avaliar o que
tínhamos: previsão razoável para os próximos dias com baixa probabilidade de
chuva; apesar da rápida chuva, o tempo estava aberto na região de Itatiaia; tempo
fechado em Niterói; além disso, tínhamos a opinião da Thaiana, que conhece bem
a região. Apesar de tudo, após muita conversa, resolvemos manter a programação.
Seguimos para a Serra Fina.
Assim que saímos de Niterói, pegamos uma chuva. Mas o irmão
do Marcelo, que estava em Itatiaia, avisou que o tempo estava firme e aberto.
Então, tínhamos certeza do acerto da decisão. Seguimos direto até o Graal de
Itatiaia, onde fizemos uma rápida parada. Dali fomos direto para o Abrigo
Picus, onde fomos muito bem recebidos pelo Felipe. Jantamos uma excelente
comida e seguimos direto para o início da trilha. A cochilada nas quase 2 horas
até o caminho para a Toca do Lobo foi importante, afinal de contas, iríamos
começar a caminhar “virados”.
A noite estava fria. O céu aberto e com bastante estrelas.
Dois amigos meus haviam feito a travessia na semana anterior, a Li-Chang e o
Roberto Mohamed, e eu só pensava nas a belas fotos que eles haviam postado.
Iniciamos a caminhada às 5h da manhã. Ainda estava escuro, quando iniciamos o
caminho até a Toca do Lobo, uns 1.200 m de caminhada. Ali, alguns pegaram água,
outros deixaram para o Quartzito. Como já estava com uma garrafinha, deixei
para pegar mais acima. Atravessamos o rio e, enfim, iniciamos a verdadeira
caminhada.
Nessa primeira parte do dia, seria uma subida forte ou
melhor: só subida forte! Até o cume do Capim Amarelo, teríamos um desnível de
aproximadamente 1.000 metros. Fomos subindo e a medida que ganhávamos altitude,
podíamos ver as luzes das cidades ao fundo. Porém, quando olhávamos para cima,
em direção ao cume, percebíamos que estava fechado. Mas continuamos. Aos poucos
foi clareando e dei uma parada no Quartzito para abastecer meus cantis. Dessa
vez não precisaria de tanta água, pois nosso objetivo era acampar no próximo
ponto de água, na base da Pera da Mina.
Com o tempo claro, já tinha certeza que o tempo estaria bem
fechado, mas não tinha noção do que nos esperava. Passamos por duas barracas
onde um cara falou que no dia anterior, havia pego um vento fortíssimo, por
volta do meio dia, que os fizeram desistir. Esse mesmo vento chegou ao centro
do Rio, por volta das 15h. As condições nesse ponto já não eram as melhores,
mas como estava cedo, achamos que poderia melhorar e seguimos subindo.
Fomos ganhando altitude e o tempo fechou de vez. Já não
tínhamos visual. As nuvens estavam concentradas na região do maciço e a
intensidade do vento foi aumentando.
Estávamos num bom ritmo. Até que começou a chover. Uma chuva fina que por vezes aumentava. Como
estávamos caminhando na linha de cumeada e só que foi sabe como é estreita, o
vento vinha subindo pela escarpa da montanha, fazendo com que chuva
literalmente “caía” de baixo para cima! O vento forte e a chuva potencializavam
o frio e isso foi minando as minhas esperanças de concluir a travessia.
Como já havia feito, sabia do trecho bem escorregadio que
havia acima, onde tem vários lances com corda fixa. Além disso, fica muita lama
e com a chuva o perigo aumentaria. A subida foi dura. Minha mão já doía com o
frio. Num dos pontos de acampamento, avisei que se não melhorasse, seria melhor
desistirmos. Optamos por chegar ao cume do Capim Amarelo e de lá, avaliarmos. Mais
acima chegaríamos no trecho mais forte do dia. Continuamos a subida e começamos
a passar por trechos bem escorregadios.
A lama preta, característica daquele local, tornava a subida perigosa.
Havia algumas cordas fixas. Algumas com degraus. Assim, subimos com atenção
redobrada.
Como tínhamos que usar bastante as mãos, minha luva ficou
encharcada e com isso o frio foi aumentando. Fui perdendo a sensibilidade nas
mãos. Minha mão doía quando precisava segurar a corda para subir. Acelerei para
tentar esquentar um pouco, mas o terreno íngreme e a mochila pesada me fazia
diminuir o ritmo. Sem olhar muito pra cima, avançávamos lentamente.
Depois de muito penar nesse trecho, chegávamos ao cume do
Capim Amarelo. Ao contrário da última vez que estive lá, dessa vez não havia
ninguém no cume. O que não faltava era espaço. A chuva fina deu uma trégua, mas
o vento ainda estava forte. Procuramos um lugar mais abrigado do vento. Minha
mão estava dormente e não conseguia abrir o engate da mochila. Foi preciso
pedir ajuda ao Vander para conseguir tirar a mochila. Tirei a luva molhada e
comecei a aquecer as mãos. Aos poucos, a dor foi diminuindo e já conseguia
manusear as coisas. Aproveitei para preparar um café e fazer um lanche.
Nos reunimos e foi e hora de decidir se continuávamos ou
não. A decisão foi unânime. Devido as condições, era hora de voltar. É duro
desistir, mas como sempre digo: a montanha sempre estará lá! Haveria
possibilidade de voltar quando quisermos...
E começamos a descida... Passamos por aquele trecho delicado das cordas
e descemos num ritmo bom. Já sem luva, minha mão não doía. Foi ficando mais
fácil. Abaixo da linha das nuvens podíamos ver alguma coisa. Até dava a
impressão de que o tempo estava melhorando, mas era só olhar para cima que
tínhamos a certeza de nada havia mudado. Ao fundo, dava para ver uma forte
chuva se aproximando, mas ela ainda estava longe.
Enfim havíamos chegado de volta à Toca do Lobo. Colocamos as
mochilas no chão e descansamos um pouco. Agora teríamos a missão de conseguir
voltar para o Abrigo Picus, afinal de contas, nossa logística era ter
completado a travessia. Não tínhamos contato para voltar. Caminhamos até o
Abrigo Serra Fina e tentamos um carro para nos levar, pelo menos até a
rodoviária de Passa Quatro. Mas o que conseguimos foi um telefone de um cara
que tem uma Kombi em Passa Quatro. Ligamos para ele, mas estava ocupado e passou
o contato de um amigo. Conversando, ele até sabia em qual curva estávamos, pois
era o único lugar onde pegava sinal de celular.
Esperamos por mais um tempo. Preparei um café e fizemos um
lanche rápido até que a Kombi chegou para nos levar de volta ao Abrigos Picus.
O tempo estava aberto, mas no alto da serra, havia uma concentração de nuvens
pesadas, daquelas com sinal de temporal. Aquelas nuvens diminuíram a minha
sensação de derrota... Mas fui entendo que não havia sido derrotado. Ou melhor,
não existe competição na montanha. Apenas adiamos nossa missão. Descer, foi
mais a escolha mais prudente. A melhor escolha. Não se pode ir contra a força
da natureza. Poderemos voltar em outra oportunidade, afinal de contas, a
montanha sempre estará lá!
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Preparando um lanche no cume do Capim Amarelo |
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Tempo bastante fechado |
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Na hora do resgate |
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Na esperança do tempo melhorar |
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O tempo ainda estava bom |
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Rafael Faria |
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Descansando... |
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Voltando... |
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Na Toca do Lobo |
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Lanchando à beira da estrada |
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Na hora da descida |
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Descendo... |
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Tempo ruim, mas nada de mau humor! |
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Torcendo para melhorar |
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Marcelo Correia e Leandro do Carmo |
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Na crista, já voltado... |
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Chegada ao cume do Capim Amarelo |
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Na Toca do Lobo |
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Marcelo Correia e Blanco P. Blanco |
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Pausa para o lanche |
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Gleisson Santos |
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Vista geral com as pesadas nuvens acima |
É isso aí, na minha opinião acertada a decisão. Tem volta! Parabéns a todos.
ResponderExcluirCom certeza voltaremos!
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