Por Leandro do Carmo
Data: 20 a 21/08/2024
Local: La Paz
Participantes: Leandro do Carmo, Marcos Lima, Dâmaris Pordeus, Rafael Pereira, Ricardo Bemvindo, Daniel Candioto, Leandro Conrado e Jorge Pereira.
Vídeo do Trekking ao Vale do Condoriri
Relato do Trekking ao Vale do Condoriri
Passei uma péssima noite. Minha saturação de oxigênio
continuava baixa. Não passava de 80%. Minha aclimatação estava lenta e até o
momento era como se não evoluía. Mas precisava manter a programação e torcer
para que tudo desse certo.
Como programado, a van chegou no horário e de lá, seguimos
até próximo à Jiwaki, agência que contratamos para operar a logística.
Aguardamos carregarem os equipamentos. Foram com a gente os dois guias e o
cozinheiro. A viagem foi bem tranquila, levamos cerca de 2h. No caminho paramos
num local para comprar algumas coisas. Acabou que não peguei o nome do local,
mas era bem pobre e me impressionou bastante. As pessoas vendendo comida numa
péssima condição de higiene. Compramos água e continuamos a viagem.
A quantidade de casas foi diminuindo e logo entramos numa
área desabitada. Muita poeira, como de costume. Fizemos uma parada rápida em um
trecho da estrada e de lá conseguíamos ver parte da Cordilheira Real. Paisagem
fantástica. Estávamos indo em direção ao vilarejo de Tuni, na qual alçamos
algum tempo depois. Tuni é um pequeno vilarejo e serve como ponto de partida
para o trekking no Vale do Condoriri.
Estávamos no fundo de um vale, numa planície que era cortada
por um rio, que é formado pelo desgelo. Ali, fizemos o pagamento da taxa de
entrada, que nos custou 20 bolivianos. Arrumamos tudo e nos preparamos para a
nossa caminhada até o refúgio, a beira do lago Chiar Khota. Podia ver o caminho
que faríamos bem ao fundo. Estávamos a cerca de 4.500 metros e subiríamos ainda
um bom pedaço. Os maiores cumes estavam encobertos por nuvens, mas já podíamos
ver o branco do gelo, contrastando com o azul do céu em alguns pontos.
Sentia um pouco a altitude, assim como em todos os dias até
aqui. Bebi um pouco de água, mais para aliviar o peso da mochila, do que por
conta da sede. O Guia ainda perguntou se tínhamos alguma coisa para carregar,
mas optei por levar tudo. Iniciamos nossa caminhada. Era por volta das 12h
30min. Estava bastante frio e isso incomodava. Era um frio seco e havia
bastante poeira e isso dificultava mais ainda. Respirar já era um grande
esforço.
A descida na Estrada da Morte de Bike teve esforço, mas não
foi tanto. A subida até Chacaltaya foi mais alta, mas caminhamos pouco. Hoje,
apesar de estarmos mais baixo, teríamos um trecho maior caminhado e esse era o
maior desafio. Até o Refúgio seriam 2,5 km e, contando a caminhada ao glaciar,
foram mais 5 km, totalizando 7,5 km no dia, atingindo 4.860 metros no ponto
mais alto.
Era hora de andar. Deixamos o vilarejo para trás e subimos
um pequeno trecho, cruzando o rio por um caminho de pedras. Fomos ganhando
altura e do alto podíamos ver a Laguna Khauan Khota. O leito da trilha tinha
muita pedra solta, característica de todo o local. Continuávamos caminhando no
fundo vale, mas agora estávamos mais alto.
De longe já conseguia ver algumas construções e em pouco
tempo havíamos chegado ao Refúgio. Havia outros no entorno. Deixamos as coisas
no Refúgio, fizemos um lanche e aproveitamos para dar uma volta no entorno.
Difícil até de descrever. Estávamos aos pés de diversos cumes, de frente para a
Laguna Chiar Khota, um local mágico. Ao fundo podíamos ver os cumes com gelo,
entre ele o Condoriri. O nome “Condoriri” vem do aimará e significa “Cabeça de
Condor”. A montanha tem essa denominação porque, vista de longe, sua forma
lembra um condor com as asas abertas
Depois de um tempo descansando, seguimos para mais uma
caminhada. Sem a mochila pesada, deu para caminhar melhor, mas aos poucos, com
o aumento da altitude, também foi ficando difícil. Contornamos o lago e subimos
um trecho íngreme, até que fomos nos aproximando da faixa de gelo. Já bem
perto, pude perceber que era como se fosse uma gruta. O gelo fazia uma espécie
de teto e pudemos entrar e ficar abrigado.
A cor meio azulada do gelo no teto dava um tom especial ao
local. Impressionante a formação. Tinha a impressão de que tudo poderia desabar
a qualquer momento e depois da foto que fizemos juntos, saí logo dali e fiquei
observando mais de longe. Olhando para cima, fiquei hipnotizado pelo tamanho do
glaciar. E olha que ele não é um dos maiores. De qualquer forma, era um
espetáculo à parte.
Voltei andando devagar, agora olhando a lagoa por um outro
ângulo. Dali, podíamos ver os outros refúgios, uma vista de tirar o fôlego. Segui
andando, agora já contornando novamente a lagoa. Em pouco tempo já estávamos de
volta ao refúgio. Entramos para poder nos aquecer um pouco. Minha dor de cabeça
aumentou, incomodando bastante. Foi servido uma sopa de entrada e logo em
seguida a janta.
Estava bastante frio lá fora, então o jeito era ficar dentro
do abrigo. Iríamos dormir ali no salão. As condições não eram as melhores, mas
com certeza era melhor do que armar uma barraca lá fora. E falando em “lá
fora”, vale deixar o registro de como eram os banheiros. Ficavam um pouco
distante dos abrigos e ter que sair a noite, era um sofrimento. Sem contar que
não tinha porta e para chegar à segunda “casinha”, tínhamos que passar pela
primeira.
Depois do jantar, ficamos conversando durante um tempo e
minha dor de cabeça foi aumentando. Chegou uma hora que que não conseguia mais
ficar deitado. Para se ter uma ideia de como estava ruim, quando eu colocava a
mão na cabeça, sentia o sangue ficar pulsando. Aí eu me levantei e fiquei
sentado à mesa. Passei a noite acordado. Acho que foi a pior noite da minha
vida. Nessa situação, já sabia que seria difícil para mim subir o Huyana
Potosí, mas ainda tinha uma esperança.
Na manhã do dia seguinte, estava detonado. Tomamos café e o
pessoal saiu para fazer o Pico Áustria. Eu optei por não subir. Acho que
poderia piorar a situação. Fiquei ali em volta da lagoa, pensando em um monte
de coisas. Vendo os pontinhos se mexendo bem no alto da montanha e sentindo o
sol aquecer meu corpo, tomei a decisão de que não iria ao Huayna Potosí. Pensei
também sobre as diversas opções que tínhamos para aclimatar, mas
definitivamente não tinha certeza de muita coisa.
Aproveitei para fazer algumas fotos, pois o local era
fantástico. Conversei com algumas pessoas que passavam pelo local, alguns indo
em direção ao Pico Áustria e outros, somente caminhando até a laguna. Já se
aproximando da hora do almoço, os primeiros começaram a retornar. Fui
recepcionando cada uma e dando os parabéns pela conquista.
Com todos de volta, almoçamos e começamos a preparar as
coisas para o nosso retorno. Peguei a mochila e fui me despedindo. O local é
bem bonito, mas já estava na hora de descer. Peguei o caminho de volta.
Impressionante, mas fui vendo coisas que não havia percebido no dia anterior.
Passamos por várias lhamas que estavam pastando próximos ao caminho e paramos
para fazer algumas fotos.
De longe, já conseguíamos ver o nosso destino. Algumas vans
esperavam próximas e pela distância, não conseguia identificar qual seria a
nossa. Mais alguns minutos e chegávamos. Arrumamos tudo e entramos na van,
fazendo uma viagem bem tranquila até La Paz. Chegando ao apartamento, fui
verificar minha saturação de oxigênio e ela estava em 79%. Agora era tentar
descansar. Amanhã temos o dia livre e a noite, iremos assistir ao jogo do
Flamengo contra o Bolivar, pelas oitavas de final da Copa Libertadores.